A poucas semanas das eleições legislativas que projetam uma derrota do seu Partido Democrata para o Republicano, o presidente Joe Biden defendeu em discurso na Pensilvânia, nesta quinta-feira (20), que o mundo fica cego “sem a liderança dos Estados Unidos”.
“Os caras do outro time [republicanos] não entendem. Eles não entendem a forma como os EUA determinam como o resto do mundo vai agir”, sentenciou o presidente, esclarecendo que os demais países “olham para nós como líderes, porque não são tão grandes e poderosos”.
Já Obama, um pouco menos cínico, costumava dizer que quando algum país não queria fazer as vontades de Washington, “nós torcemos braços” e tudo se resolve. Vivia exaltando o “excepcionalismo” norte-americano.
Biden poderia ter acrescentado que era o “fardo do homem branco”: manter a qualquer preço sua “ordem global sob regras”.
As palavras de Biden exprimem a reencarnação grotesca do “Divino Manifesto”, disparatada teoria de meados do século 19 em que os estadunidenses se atribuíam a missão divina de expandir territorialmente suas conquistas, fazendo valer suas vontades sobre os demais povos e levando “civilização e progresso”, depois de terem treinado promovendo a limpeza étnica dos povos originários – “índio bom é índio morto” – e pilhado os vizinhos mexicanos.
Com sua declaração, Biden estende ao mundo inteiro a teoria do “espaço vital” nazista, que modestamente Hitler havia circunscrito à Europa.
Sem falar no racismo implícito desse tipo de pregação, que apresenta os ianques como uma espécie de raça superior. Não por acaso, há dias o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, havia dito que a Europa era um “jardim”, e o resto do mundo, “uma selva”.
No discurso, Biden admitiu que entre os republicanos no momento há um pouco mais de lucidez quanto a manter uma guerra de procuração da OTAN, na Ucrânia, contra a outra superpotência nuclear, a Rússia, e exigiu deles que mantenham as sanções e a sustentação do regime de Zelensky. “Os republicanos dizem que, se vencerem, provavelmente não continuarão a financiar a Ucrânia”, reclamou Biden.
Como diziam os marqueteiros de Bill Clinton, quando este venceu nas urnas a Bush Pai, “é a economia, estúpido”. O agravamento da situação econômica nos últimos doze meses, com a disparada da inflação de 5,4% para 8,3% e a queda das vagas de empregos criadas de 943 mil para 315 mil, está gerando pânico nas fileiras democratas a poucos dias das eleições de novembro.
Nos últimos meses foram registrados dois trimestres consecutivos de queda no Produto Interno Bruto (PIB) – de 1,6% e 0,6% negativos -, o que tecnicamente caracteriza a entrada do país em recessão técnica. Na avaliação de um economista da consultoria KPMG que participou do último seminário anual do Federal Reserve, os Estados Unidos vai passar por uma “tortura de gotejamento de água na cabeça”.