Organizações Inquilinos Agrupados e Nem Uma a Menos divulgam levantamento horas após a publicação do relatório do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) sobre o aumento das taxas de pobreza e indigência durante o desgoverno Milei
Uma pesquisa nacional realizada de 1 a 10 de setembro pelas organizações Inquilinos Agrupados e Nem Uma a Menos apurou que mais do que um em cada quatro argentinos (26,7%) necessitou abandonar a moradia por não ter condições de pagar o aluguel. Do total, 92% estão em condições contratuais fora da legislação de locação, contra 15% em junho.
O levantamento foi conhecido logo depois da publicação do último relatório do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) sobre o aumento das taxas de pobreza e indigência no primeiro semestre do ano, que saltaram para 52,9% e 18,1%, respectivamente.
“Acreditamos que é fundamental avaliar trimestralmente o que está acontecendo com as condições de vida dos inquilinos e a dinâmica de acesso à habitação”, declarou o líder dos Inquilinos Agrupados, Gervasio Muñóz, em entrevista ao Página12, condenando a política de desregulamentação aplicada por Milei em dezembro por meio do decreto que revogou a Lei do Aluguel.
A partir de então, assinalaram as entidades, o que se tem vivido nos últimos meses são cada vez mais famílias sobrevivendo como podem, diante do brutal arrocho salarial e do endividamento, resultado de contratos trabalhistas precários e completamente irregulares em termos imobiliários.
“Os resultados do informe de setembro são preocupantes, com tudo se resumindo na frase ‘Não posso mais seguir pagando aluguel’”, ressaltou Muñóz. Segundo o dirigente, os reajustes trimestrais, as exigências impostas para o ingresso à moradia e os vertiginosos aumentos de tarifas, serviços, aluguéis e transporte, “estão levando a uma situação muito perigosa para toda a sociedade”.
Passados nove meses da eliminação da Lei de Aluguéis, por meio do Decreto 70/2023 de Milei, denunciaram as entidades, a pesquisa nacional feita com mais de 2.500 locatários comprovou a gravidade da situação em que se encontram. O estudo apurou distintos aspectos, entre os quais o valor do aluguel, a frequência do reajuste e a duração do contrato.
Da mesma forma que os levantamentos de janeiro, março e junho, assinalaram as organizações de moradores, os resultados apontam “fortes aumentos do valor dos aluguéis, com prazos mais reduzidos, atualizações mensais ou trimestrais e mecanismos de reajuste que não contemplam os aumentos de salário”. Apesar disso, este quadro empurra os inquilinos a se endividarem “para poder cobrir os gastos básicos vinculados à moradia”.
Os números apurados pelo Informe Socioeconômico da Pesquisa Inquilina Nacional são tenebrosos: 88,9% dos inquilinos pesquisados consideram que terão dificuldades em pagar o aluguel nos próximos meses; mais de 80% responderam que a situação habitacional e o reajuste dos salários/rendimentos são os principais motivos de preocupação; 64,6% têm algum tipo de dívida (alimentação, aluguel e cartão de crédito); 24% estão buscando trabalho e 5% se encontram desempregados.