Desfile em comemoração dos 200 anos da Independência será na Avenida Presidente Vargas, como sempre foi. Ele já havia irritado os militares com a reunião dos embaixadores para atacar o Brasil. Agora, nem a cúpula militar e nem a prefeitura do Rio aceitaram a aventura de misturar as tropas com suas milícias em Copacabana
Jair Bolsonaro foi obrigado a desistir de sua tentativa torpe de manipular as Forças Armadas, desviando-as as comemorações oficiais dos 200 anos da Independência, no próximo dia 7 de Setembro, para arrastá-la para um ato golpista organizado por ele e por suas milícias para a praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Sua intenção era criar um clima de conflito aberto com o TSE e com o país.
Ele tentou transferir a tradicional Parada do 7 de Setembro, que ocorre na Avenida Presidente Vargas, na região central do Rio, para a avenida Atlântica, em Copacabana. Ou seja, queria misturar as tropas e os tanques e blindados que participam do desfile com suas milícias bolsonaristas que defendem o fechamento do Supremo Tribunal Federal, do Congresso Nacional, a censura à imprensa, a violência e a volta da ditadura e do AI-5.
Na última sexta-feira (5), o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, rechaçou a transferência do local – o que inviabilizou, na prática, a realização do desfile militar em Copacabana. No Twitter, o prefeito comunicou que o desfile será realizado na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, “onde o exército organizou e aonde sempre foi feito”. O gesto do prefeito se somou ao repúdio geral da sociedade pela tentativa de Bolsonaro de manipular as Forças Armadas do país com propósitos mesquinhos e autoritários.
A insistência de Bolsonaro em fazer a provocação irritou os militares. O processo de convencimento foi articulado não apenas pela cúpula das Forças Armadas e o núcleo político da campanha, mas também por assessores, militares do Planalto e a manifestação do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD). Na reunião com Bolsonaro, realizada na última quinta-feira (4), os militares apontaram que a mudança de roteiro traria muitos problemas com a perigosa mistura de um desfile militar com um ato de viés político partidário eleitoral a dois meses do pleito presidencial.
Os militares já estavam bastante irritados com Bolsonaro pela realização de uma reunião há algumas semanas, no Palácio da Alvorada, com a presença de dezenas de embaixadores de países estrangeiros na qual Bolsonaro atacou o sistema eleitoral do país, considerado um dos mais modernos e seguros do mundo. Foi a primeira vez que um governante brasileiro se reuniu com estrangeiros para atacar o seu próprio país. Além disso, Bolsonaro usou o encontro com os embaixadores para agredir ministros do Supremo Tribunal Federal, um outro fato inédito na história do Brasil.
As ameaças de golpe de Bolsonaro provocaram uma grande indignação da sociedade que iniciou uma ampla mobilização de todo o país em defesa da democracia. Essa mobilização envolveu praticamente todos os setores da sociedade brasileira. Um manifesto organizado pela Faculdade de Direito da USP já tem mais de 800 mil assinaturas, sendo que entre elas estão mais de 20 mil empresários, 6 mil policiais e mais de 800 pastores. Diversos países, entre eles EUA e Reino Unido, também protestaram contra o golpe planejado por Bolsonaro.
Entre os signatários do manifesto pela democracia, estão Arminio Fraga, economista e ex-presidente do Banco Central, Candido Botelho Bracher, ex-presidente do Itaú, Claudio Haddad, ex-presidente do Insper, José Guimarães Monforte, ex-presidente do Conselho de Administração do BB, e José Olympio Pereira, ex-presidente do Credit Suisse no Brasil. Entre os economistas, também estão na lista Affonso Celso Pastore, Edmar Bacha, Elena Landau, Jose Roberto Afonso, Jose Roberto Afonso, Ana Carla Abrão, Bernard Appy, Fabio Giambiagi, Jose Roberto Mendonça de Barros, Luiz Gonzaga Beluzzo e Mário Theodoro.
Assinam a carta contra o golpe centenas de artistas, intelectuais, personalidades e atores: Eduardo Moscovis, Paulo Betti, Bete Mendes, Dira Paes e Debora Bloch, os músicos Chico Buarque e Arnaldo Antunes, as apresentadoras Cissa Guimarães e Astrid Fontenelle.
O documento será lido no dia 11 de agosto na Faculdade de Direito da USP, no Largo do São Francisco, na região centra de São Paulo. O ato pretende reunir todos esses segmentos da sociedade que se levantaram contra os planos retrógrados de Bolsonaro.
O isolamento político de do chefe do Executivo foi tamanho, depois de sua reunião com os embaixadores e as ameaças à democracia, que ele acabou até mesmo se engalfinhando com banqueiros da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) que assinaram o manifesto. Na mesma linha, suspendeu sua ida à sede da Fiesp (Federação das Indústrias do estado de São Paulo) para não ter que se comprometer com o respeito ao resultado das urnas. Agora, finalmente, é obrigado a desistir de sua intenção de arrastar as Forças Armadas para a sua aventura golpista do 7 de Setembro. Certamente, uma vitória do Brasil e dos democratas.