Reforma da Previdência subiu no telhado
Nova data pode ser 12 de dezembro: ‘Se Temer marcar, o Brasil vai parar’
A coisa mais horrenda – pois é preciso um humor de que não somos capazes, para achar engraçado esse funéreo larápio – dos últimos dias foi o apelo de Temer, pela Internet, para que o povo apoiasse o seu ataque aos direitos previdenciários.
Era o que faltava: o sujeito quer deixar as pessoas sem aposentadoria e ainda pede que elas apoiem, como se a vítima do assalto, além de ficar sem a bolsa – ou perder a vida – tivesse de agradecer por ser roubado ou assassinado.
Até agora, segundo a conta do insuspeito – nesse assunto – “Estadão”, Temer já prometeu R$ 14,5 bilhões em subornos (liberação de emendas, verbas para governadores e prefeitos, dinheiro para bases eleitorais de deputados, milhões oficialmente em propaganda, calotes fiscais, etc.) para ganhar votos contra a Previdência Social.
O difícil é um deputado acreditar que vai receber a propina oficial depois de votar nessa aberração. Além disso, mesmo na duvidosa hipótese de Temer passar o suborno, de que valerá isso, se o elemento, depois de votar no que o governo quer, não for reeleito e perder o “foro privilegiado”, com procuradores e policiais federais, em todo o país, à caça de corruptos?
Assim, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia – aliás, investigado pela Lava Jato, devido a propinas recebidas da Odebrecht (R$ 1,45 milhão) e da OAS (R$ 1 milhão) – desmarcou a votação, prevista para o dia 6, do projeto do governo.
Temer & quadrilha chegaram à conclusão de que seriam derrotados, se a votação fosse nesse dia, ainda mais com uma greve geral marcada para o dia anterior. Fala-se agora no dia 12 de dezembro, como data de mais uma tentativa de garrotear a Previdência – isto é, os trabalhadores – com as entidades sindicais declarando que irão à greve geral, se Temer definir o dia da votação.
Maia havia dito que “estou realista. Falta muito voto” – e chegou a propor que a votação fosse para o próximo ano. Na segunda-feira, disse: “estou realista, mas não otimista”.
Há poucos dias, em reunião fechada na filial do J.P. Morgan Chase – o maior monopólio financeiro dos EUA, controlado pelos Rockefellers – Maia disse que ia fazer o possível para votar este ano, mas que “ainda” não havia votos para aprovar o que os americanos do J.P. Morgan queriam.
Na saída, ainda no J.P. Morgan Chase, em entrevista coletiva, ele foi até mais explícito (sobre as declarações de Maia, ver matéria nesta página).
Esse aspecto de lesma entreguista, que não se avexa em prestar contas ao J.P. Morgan em reuniões privadas sobre questões públicas nacionais – ou em dar uma entrevista para a imprensa brasileira na filial do J.P. Morgan, ao final do conúbio com o staff do banco norte-americano – não deve espantar ao leitor. Maia não é mais que isso.
Enquanto isso, o sôfrego Meirelles, que em sua carreira deu mais do que entrevistas em bancos norte-americanos, arrumou uma confusão com o PSDB, que não quer se matar, votando aquilo que não beneficia a reeleição de seus deputados – aliás, nem a campanha de Alckmin para presidente.
No dia seguinte, descobriu-se que, dos 38 deputados do partido atual de Meirelles (o PSD), somente meia dúzia são imbecis o suficiente para fazer o que ele quer que o PSDB faça.
Ou, como disse o próprio líder do PSD na Câmara, deputado Marcos Montes: “não é hora de discutir a reforma da Previdência no Congresso”.
Mais explícito ainda, o vice-líder do PSD, deputado Domingos Neto, declarou que “o Meirelles não pode dar comentário político de quem não faz política. Ele só conversa com o mercado e os empresários. Toda vez que faz comentário político, fala do que não conhece”.
E completou: “o governo deveria reconhecer que não tem votos agora para aprovar a reforma e tentar novamente em fevereiro”.
Frisamos outra vez, só para que o leitor não sinta uma certa tonteira ou não ache que nós é que estamos tontos, que esse é o vice-líder do partido do Meirelles – essa maravilha que Lula tirou da sarjeta (é verdade que era uma sarjeta dourada) para entregar a ele o Banco Central durante oito anos, inclusive impedindo a investigação de suas empresas-fantasmas, no Caso Banestado (cf. “Meirelles: empresas fantasmas, roubo e fraude acoitados por Lula e Temer”, HP 14 a 26/10/2016).
Mas não estamos, ao traçar este panorama, dizendo que não existe risco do ataque à Previdência passar – ou que o povo já ganhou esta batalha.
Pelo contrário, a situação na Câmara é um reflexo da situação nacional, isto é, do repúdio absoluto, no povo, no eleitorado, a essa infâmia. Sobretudo quando é um governo corrupto, sem nenhuma base popular ou nacional, que está tentando atacar os direitos do povo (evidentemente, nenhum governo honesto, composto por homens e mulheres honrados, faria tal tentativa).
Em suma, a situação na Câmara é uma função da luta – organizada ou não – até aqui travada. Por isso mesmo, somente é possível garantir a vitória com a continuação dessa luta – e em nível cada vez mais intenso. Qualquer outra perspectiva não passaria (e não passa) de colaboração com os inimigos do Brasil.
O deputado Maia, ao rechaçar uma proposta do PSDB, que queria algumas mudanças para votar a “deforma” da Previdência, acabou por confessar o verdadeiro móvel desse ataque às aposentadorias e pensões dos trabalhadores.
Disse Maia que as propostas do PSDB não poderiam ser aceitas porque significariam “mais de R$ 100 bilhões a menos para o ajuste fiscal”.
“Ajuste fiscal” é o aumento da parcela do setor financeiro na renda nacional, em detrimento dos setores produtivos – trabalhadores e empresários nacionais. Não é possível duvidar que é isso o que eles chamam de “ajuste fiscal”, depois de quase três anos de Dilma/Levy e Temer/Meirelles.
Esse aumento da parcela do setor parasitário, especulativo da economia – isto é, bancos, fundos estrangeiros e outros – é operado através do Estado, da doação de dinheiro público a esses especuladores, através dos repasses a pretexto, sobretudo, de juros.
É para aumentar esses repasses que eles querem atacar a Previdência – e não porque exista algum problema de sustentabilidade ou de privilégio no sistema previdenciário (exceto, naturalmente, os desvios de recursos e a estagnação da economia, que não são problemas da Previdência, mas da política do governo).
Foi isso o que Maia confessou: que o verdadeiro objetivo do assalto à Previdência é, precisamente, transferir dinheiro para os tubarões financeiros, ou seja, o “ajuste fiscal”.
CARLOS LOPES