Audiência na Comissão de Assuntos Econômicos com Campos Neto será dia 4 de abril
A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal aprovou nesta terça-feira (14) o convite ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, para prestar explicações sobre a taxa de juros (Selic), fixada em 13,75% ao ano, que faz os brasileiros serem os maiores pagadores de juros reais do mundo e está levando a economia do país para recessão.
O presidente do Senado, Vanderlan Cardoso (PSD-GO), estabeleceu a data de 4 de abril para o comparecimento de Campos Neto à Comissão. Autor do requerimento, Vanderlan afirma que os altos juros estão dificultando o acesso da população ao dinheiro, tanto por linhas de crédito, empréstimos ou financiamentos.
“Temos que, de uma forma madura, com diálogo e número nas mãos, procurar uma alternativa para que os juros sejam reduzidos”, avaliou o parlamentar ao defender que é necessário que a taxa comece a cair para estimular o consumo e possibilitar a retomada da economia.
Na próxima semana ocorre a reunião em que o Comitê de Política Monetária do BC decidirá se vai manter, cortar ou elevar ainda mais a taxa básica de juros da economia (Selic). A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, classificou como “indecente” a taxa básica de juros no país, ao fazer novamente duras críticas à condução da política monetária pelo Banco Central, na segunda-feira (13).
“Esse cara tem que explicar os juros. Vai ficar assim até o final do ano? Isso acaba com qualquer possibilidade de investimento privado no país”, disse Gleisi. “O embate com o Campos Neto é político, não é econômico. Ele representa um projeto que não foi eleito nas urnas”, afirmou.
Assim como afirmam inúmeros economistas e representantes da indústria e do comércio, os juros altos travam os investimentos e asfixiam a produção, as vendas e o consumo das famílias, com o país vivendo recordes de inadimplência, e foram um dos principais responsáveis pela desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre do ano passado.
ERROS NO FLUXO DE CÂMBIO SOMAM US$ 14,5 BILHÕES
Os senadores também querem que Campos Neto explique erros no fluxo de câmbio, ocorrido entre 2021 e 2022, que somam um total de US$ 14,5 bilhões.
“Entendemos ser importante que o presidente do Banco Central esclareça as circunstâncias que permitiram a ocorrência e a permanência desse erro” afirmou o senador Alessandro Vieira (PSDB-SE), autor do requerimento que pede a presença de Campos Neto na Comissão para prestar informações sobre erro ocorrido na série de câmbio contratado das estatísticas do setor externo do BC, no período de outubro de 2021 a dezembro de 2022, em magnitude total de US$ 14,5 bilhões.
“Por suas características, é bem possível que haja graves insuficiências nos controles internos da instituição, o que é especialmente preocupante dada a elevada importância do Banco Central na economia brasileira”, expõe Alessandro Vieira.
FRAUDE NA AMERICANAS
Durante a sessão de hoje, os senadores também aprovaram o convite à diretoria das Lojas Americanas, com o fim de esclarecer o rombo de pelo menos R$ 20 bilhões nas contas da empresa. O senador Otto Alencar (PSD-BA), autor do requerimento, afirma que o rombo aconteceu com um problema de registro de dívidas da empresa com fornecedores e bancos. Segundo ele, essas “inconsistências” levaram o mercado financeiro a se perguntar se métodos contábeis semelhantes são praticados por outras empresas.
“Na operação, a empresa compra mercadoria dos fornecedores e, antes da venda, ela quita essa dívida com um empréstimo do banco. Com isso, o fornecedor recebe e a companhia paga depois à instituição bancária com os juros. Isso é legal. O problema foi na hora de registrar essas dívidas. Em vez de registrar a dívida financeira, a Americanas registrava no balanço a dívida com o fornecedor, que não tinha juros”, afirma no requerimento.
Os nomes sugeridos para serem ouvidos na Comissão foram: o ex-presidente da companhia Sergio Rial e os ex-diretores da empresa Miguel Gomes Pereira Sarmiento Gutierrez, Anna Christina Ramos Saicali, José Timotheo de Barros e Marcio Cruz Merelles. O presidente da Febraban, Isaac Sidney Menezes Ferreira, e o presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), João Pedro do Nascimento, também foram incluídos para prestar informações sobre o caso da crise das lojas Americanas.