Senado dos EUA aprova por unanimidade condenação ao ditador saudita na morte de jornalista

Senado também aprova resolução contra participação dos EUA na agressão saudita ao Iêmen, cujo bloqueio atinge mortalmente as crianças.

O Senado dos Estados Unidos aprovou por unanimidade uma resolução condenando o ditador da Arábia Saudita, Bin Salman, como pessoalmente responsável pelo brutal assassinato do jornalista saudita e que escrevia para o Washington Post, Jamal Khashoggi.

Os senadores norte-americanos também aprovaram resolução contra a participação dos Estados Unidos na agressão ao Iêmen com a participação da Arábia Saudita. Esta resolução passou por 56 a 41 votos. Antes dessas votações, uma tentativa de barrar a resolução e de arquiva-la sem discussão, por parte de senadores que apoiam a agressão defendida por Trump, foi derrotada por 60 votos a 39.

Ambas as votações são uma derrota para Trump que minimizou as conclusões, até mesmo da CIA, de que o ditador Salman participara do assassinato de Khashoggi, arguindo que “é um importante parceiro”.  Sobre a participação na guerra do Iêmen, com um morticínio avaliado em 100 mil pessoas e com o povo iemenita sofrendo um bloqueio que coloca em risco de inanição a 20 milhões de iemenitas, Trump tem defendido que se justifica pela venda de armas à ditadura que ataca o povo iemenita para tentar retornar ao controle do país um governo que foi deposto por um levante popular e é aliado da ditadura saudita.

Um dos senadores do partido do governo dos EUA, que apoiaram a resolução contra a participação norte-americana na agressão ao Iêmen, senador republicano Mike Lee, do Estado de Utah, contestou os pretextos de que os iemenitas representavam “ameaça à segurança dos Estados Unidos” e declarou após a derrota da Casa Branca:  “O que o caso Khashoggi fez, em penso, foi colocar o foco no fato de que fomos levados a uma guerra no Iêmen, a meio mundo de distância, a um conflito onde poucos americanos conseguem ver em que isso se articula com interesse da segurança nacional americana”.

A resolução, escrita pelo senador Lee, em conjunto com o senador Bernie Sanders (ex-candidato a indicação pelo Partido Democrata dos EUA, para disputar a Presidência dos EUA, derrotado por Hillary Clinton que acabou perdendo para Trump.

A proposta de Sanders e Lee se baseia em uma lei aprovada em 1973, ao final da Guerra do Vietnã, definindo que entrada dos EUA em guerra exige autorização do Congresso. A lei, que governos passaram por cima, em parte terceirizando a agressão como no caso do uso de terroristas mercenários como foi feito na agressão à Síria ou na invasão que tirou o presidente da Líbia do governo e apoiou o seu assassinato.

O senador Sanders destacou que é a primeira vez que a lei é usada para que o Senado “assuma a responsabilidade por ir a guerra. ” Uma decisão que, segundo Sanders, ” é do Congresso e não da Casa Branca”, o que nunca foi respeitado.

“Hoje estamos dizendo ao despótico regime na Arábia Saudita que não vamos tomar parte em seu despótico aventureirismo”, afirmou Sanders após a votação.

Para que a resolução passasse, o governo Trump perdeu a maioria no Senado, com sete dos republicanos apoiando a votação e depois com todos apoiando a condenação do ditado saudita.

Quando até mesmo a CIA informou a Trump do assassinato que foi seguido de esquartejamento de Khashoggi e da participação do ditador Salman, ele simplesmente declarou: “Talvez ele tenha feito, talvez não”. Trump prosseguiu dizendo que punir a Arábia Saudita pela morte de Khashoggi seria colocar em riso bilhões de dólares em vendas de armas à monarquia.

A votação condenando Salman, foi proposta de outro senador republicano, Bob Coker, que preside o Comitê de Relações Internacionais. Antes da votação sobre a morte de Khashoggi, Coker pediu ao Senado que falasse “com voz uníssona” sobre o crime, no que foi atendido.

“Não podemos varrer para debaixo do tapete o clamoroso desrespeito pela vida humana e a flagrante violação das normas internacionais que sauditas estão demonstrando”, afirmou o senador Robert Menendez de Nova Jersey, que é um dos democratas que participa do Comitê de Relações Exteriores do Senado.

“A compra de mais algumas armas [pela Arábia Saudita] não pode comprar nosso silêncio – não deve comprar nosso silencio”, acrescentou Menendez, “e se o presidente não o faz, o Senado deve atuar”.

Já na Câmara dos Deputados, a discussão sobre os dois assuntos foi adiada, mas deve retomar com força no início do ano que vem, após a derrota de Trump na eleição intermediária que deixou a Casa Branca amplamente minoritária entre os deputados.

O senador republicano, Lindsay Graham condenou qualquer negócio com a “coroa saudita tão manchada, tão degenerada, tão tóxica”.

Antes da morte de Khashoggi, os senadores fizeram vista grossa para o apoio norte-americano a uma agressão que dizima milhares de crianças, bombardeia funerais, casamentos, ônibus escolares, fábricas de artigos essenciais, infraestrutura e zonas residenciais, além de um bloqueio que está condenando milhões à fome.

Enquanto a votação transcorria no Senado dos Estados Unidos, o secretário-geral da ONU participava do encontro entre as delegações das partes em conflito no Iêmen. Guterres anunciou que foi alcançado acordo que prevê a troca de prisioneiros, a retirada das forças do governo bancado pela Arábia Saudita, da cidade portuária de Hodeidah e a criação de um corredor humanitário até uma das cidades bloqueadas, a de Taiz, para que organizações humanitárias e a ONU possam levar alimentos aos cidadãos iemenitas.

As negociações de paz devem continua rem janeiro. Segundo o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, “o acordo de hoje significa muito, não apenas para o povo iemenita, mas para a humanidade, pois pode representar o ponto de início para a paz e para o fim da crise humanitária no Iêmen”.

Também deixou os senadores irritados com a Casa Branca, o fato de o Pentágono esconder valores doados aos sauditas e ao governo dos Emirados Árabes, em termos militares que deveriam ser infomados ao Senado. No mesmo dia da votação das resoluções, o Pentágono acabou assumindo depois de questionamentos partindo do Senado que “errou em 331 milhões de dólares”.

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Respostas de 3

    1. Depois de uma profunda consulta aos etnólogos da nossa redação – que são todos os membros da redação – obtivemos cinco respostas:

      1) Sim.
      2) Não.
      3) Talvez.
      4) Quase.
      5) Ainda não vi um na minha frente.

      A última resposta foi a majoritária. O que quer dizer absolutamente nada.

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