
Senador do Espírito Santo disse que valor foi disponibilizado como “gratidão” pelo apoio à eleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à presidência da Casa, em 2021
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou, na quinta-feira (7), que recebeu R$ 50 milhões em emendas do “orçamento secreto”, como “gratidão” à eleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a presidência do Senado. Ele é o primeiro a admitir tal tipo de acordo. É o “batom na cueca”.
Com práticas assim, Congresso e governo desvirtuaram completamente a destinação dos recursos públicos para implementação de políticas públicas, sobretudo as sociais. Corrigir isso, no futuro, vai dar muito trabalho para o novo governo, a partir de janeiro de 2023.
Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, ele disse que “o critério que ele [Pacheco] colocou para mim foi o critério de eu ter apoiado ele, enquanto outros não apoiavam”, e que só soube se tratar de R$ 50 milhões após a eleição do senador mineiro à presidência, em fevereiro de 2021.
FINGINDO-SE INGÊNUO
O senador capixaba disse que não negou o valor (que ele argumenta ser demais até para o Estado dele), mas que ainda não sugeriu destinações para a verba que recebeu por apoiar a eleição de Pacheco.
O acordo teria sido costurado pelo antecessor de Pacheco na cadeira, o senador Davi Alcolumbre (União-AP). Do Val indica, na entrevista ao Estadão, que comunicou o fato ao Ministério Público.
Até o momento, Rodrigo Pacheco não se manifestou sobre o tema. E nem deverá se manifestar, pois a melhor coisa para ele, diante do inexplicável, será o silêncio, fingindo-se de morto.
PERDEU DISPUTA PARA O ORÇAMENTO SECRETO
Após saber que o senador Marcos do Val recebeu R$ 50 milhões em emendas por ter apoiado Pacheco, como revelou o próprio senador ao Estadão, a então candidata do MDB à presidência da Casa, Simone Tebet, disse que perdeu aquela disputa para o orçamento secreto.
Pacheco venceu a eleição, em 1º de fevereiro do ano passado, com 57 votos. Tebet teve 21. Na ocasião, o governo de Jair Bolsonaro (PL) negociou verbas para eleger o senador e também Arthur Lira (PP) à presidência da Câmara, derrotando o candidato de coalizão de partidos, deputado Baleia Rossi (MDB-SP). A coalizão demonstrou-se frágil. Desmilinguiu-se na reta final da disputa.
“A declaração comprova o que já sabíamos, só não podíamos provar. O orçamento secreto comprou a eleição para a presidência do Senado. Perdi a eleição para o orçamento secreto”, afirmou Tebet, pré-candidata à Presidência da República.
A eleição de Pacheco, no ano passado, foi articulada por Alcolumbre, que era presidente do Senado. Na época, os senadores Lasier Martins (Pode-RS), Jorge Kajuru (Pode-GO) e Major Olímpio (PSL-SP), morto no ano passado, também se lançaram na disputa, mas abriram mão das respectivas candidaturas para apoiar Tebet e criticaram a operação política que favoreceu Pacheco.
PODEMOS
Segundo o Estadão, um grupo de parlamentares do Podemos pressiona o senador Marcos do Val (Podemos-ES) a deixar o partido, após ele revelar que recebeu R$ 50 milhões em emendas do orçamento secreto como “gratidão” por ter apoiado a eleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à presidência do Senado no ano passado.
De acordo coma reportagem, em conversas reservadas, Alvaro Dias (PR) e Oriovisto Guimarães (PR) têm dito que a permanência de do Val “ficou difícil” e que o próprio Marcos do Val deve acabar pedindo seu desligamento.
Em nota, a bancada do partido no Senado reforçou que é contra as emendas de relator. “Nós, senadores pelo partido Podemos, declaramos que somos contrários ao recebimento de verbas ou recursos provenientes das emendas RP-9 (orçamento secreto). Não compactuamos com essa forma de fazer política”, diz o texto.
Um parte da legenda já havia ficado incomodada quando do Val assumiu a relatoria da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2023 e decidiu tornar esse tipo de emenda impositiva.