“Hoje, que seria um dia para comemorarmos o nosso progresso, enquanto outros países estão comemorando a inclusão — Desculpem-me! Desculpe-me, Rogério Marinho! Desculpe-me, Bruno Bianco! Desculpe-me, Paulo Guedes! —, o que estamos fazendo é chorar porque estamos dando um passo de retrocesso, porque estamos dando um passo para a exclusão”, afirmou a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) sobre o projeto de lei 6159, enviado pelo governo ao Congresso, que praticamente acaba com o sistema de cotas para trabalhadores com deficiência.
“Este projeto que chegou na Casa esta semana, justo na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência, é um projeto que vai desmoronar a Lei de Cotas, que há duas décadas vem colocando pessoas com deficiência no mercado de trabalho, fazendo essas pessoas virarem contribuintes, fazendo essas pessoas saírem, muitas vezes, da assistência social para virarem contribuintes brasileiros”, continuou a senadora.
Além de emocionar os presentes, Mara Gabrilli conseguiu o apoio de vários parlamentares para repudiarem o projeto, que propõe que as empresas possam substituir a contratação de pessoas com deficiência pelo pagamento ao governo de dois salários mínimos mensais.
A senadora também conseguiu articular a retirada da urgência do PL, como havia sido encaminhada pelo governo, naturalmente na tentativa de que o projeto passasse despercebido e sem a devida discussão. Se permanecesse no regime de urgência, o projeto teria que ser votado na Câmara em 45 dias e em mais 45 dias no Senado. Mas a senadora quer mais. Segundo ela, a luta agora será para retirar a pauta do Congresso.
“Sinto muito, Governo Bolsonaro, não tem primeira-dama que explique isso, nem na Língua Brasileira de Sinais. Retire esse projeto e vamos construir um projeto juntos!”, disse a senadora, referindo-se também ao uso da Língua de Sinais pelo governo, proposta liderada pela primeira-dama que, inclusive, discursou dessa forma na posse do presidente – sugerindo ser essa prática bolsonarista pura demagogia.
“Como que um governo que tem uma Primeira-Dama que fez o discurso em Língua Brasileira de Sinais na posse do Presidente vai permitir que isso seja feito com a pessoa com deficiência? Em vez de as empresas contratarem a pessoa com deficiência, pagarão para o Governo, e a pessoa com deficiência continuará excluída”, apontou.
Gabrilli negou ainda as argumentações da equipe econômica de Guedes de que as empresas têm dificuldades de preencher as cotas e que só metade das 768 mil vagas asseguradas por lei são preenchidas. Segundo ela, o que existe é o preconceito por parte das empresas.
“Conseguimos preencher duas leis de cotas só com as pessoas com deficiência que têm curso superior. Mas, infelizmente, as empresas não conseguem contratar porque só ofertam cargos, por exemplo, de operador de telemarketing. Não desdenhando desses cargos, mas as pessoas com deficiência já têm muita capacidade para produzir neste País”, disse.