Senadores que apoiam e que reprovam o governo Bolsonaro querem que o ministro da Economia, Paulo Guedes, dê satisfações sobre a declaração de que o Senado Federal teria cometido um “crime contra o país” ao derrubar o veto de Jair Bolsonaro que impede o reajuste no salário dos servidores da área da saúde até 2021.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), apresentou um requerimento para que Guedes dê explicações aos parlamentares. O requerimento deve ser votado na terça-feira (25).
Na quarta-feira (19), os senadores votaram pela derrubada do veto feito por Jair Bolsonaro que impedia o reajuste salarial de profissionais da Saúde, Educação e Segurança, setores que estão na linha de frente no combate à pandemia. Paulo Guedes atacou o Senado e acusou os senadores de estarem cometendo um “crime contra o país”.
Mais tarde, ainda na quinta, os deputados federais votaram por manter o veto.
Os senadores se reuniram virtualmente para discutir o ataque feito por Paulo Guedes. O senador Esperidião Amin (PP-SC) disse que apoia convocar Guedes a prestar satisfação “porque nenhum ministro de estado tem o direito de julgar uma decisão do Senado. Como assim, um crime?”.
“Nós queremos que ele esclareça o conteúdo da sua frase que o Senado cometeu crime contra o país”. O senador Izalci Lucas (PSDB-DF), více-líder do governo no Casa, apoiou.
O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), tentou convencer os presentes de que “não houve ofensa”.
Esperidião rebateu dizendo que a “ofensa foi propagada em todo o país. Estamos reagindo civilizadamente a um terrorismo. Fernando, nós respeitamos você, mas isso é terrorismo”.
Daniella Ribeiro, líder do PP no Senado, também se sentiu ofendida por Guedes. “O Palácio me ligou dizendo que eu tinha traído o Palácio. Ele não pode negar, Fernando. Chegou a hora de a gente se posicionar”.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), também afirma que “ofensa houve”.
Para Álvaro Dias, líder do Podemos, “mais que convocação, precisa ter manifestação do presidente do Senado. A instituição foi atacada. É importante o presidente Davi Alcolumbre faça em defesa da instituição”.
Ex-aliado de Jair Bolsonaro, o senador Major Olímpio (PSL-SP) fez diversas publicações nas redes sociais acusando Jair Bolsonaro de ter conseguido manter o veto na Câmara a partir da liberação de emendas parlamentares.
“É vergonhoso. Bolsonaro mandou desembolsar R$ 4 bilhões para os deputados manterem o veto dele”, denunciou.
Olímpio também acredita que Paulo Guedes fez chantagem com sua argumentação de que os reajustes poderiam causar um rombo de R$ 120 bilhões no país.
“Estou desafiando economistas e o Paulo Guedes [a mostrarem] de onde está a previsão de R$ 120 bilhões de gastos se nenhum município vai fazer a revisão de salário”.
“É uma tremenda balela”, disse.
“O ministro acusa de crime [o Senado ter derrubado o veto]? Crime é o governo oferecer aos senadores R$ 30 bilhões para destinar onde quisesse. Isso é crime praticado”.
A impossibilidade de reajuste para os servidores públicos, explica Major Olímpio, significará “19 meses de contagem de tempo de trabalho jogados fora”. Isso é culpa de quem “está fechado com Bolsonaro”, continuou.
“Aqueles que têm dignidade, que prezam sua família, sua profissão, pensem exatamente no que está acontecendo. É lamentável”.
Bolsonaro ameaça retaliar senadores aliados do governo que votaram pela derrubada do seu veto contra os profissionais de saúde e de segurança. Entre eles está o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), více-líder do governo no Casa.