Boca de urna de madame Pelosi em agosto teve efeito contrário: oposição vence inclusive na capital, Taipei.
Os separatistas de Taiwan, do assim chamado ‘Partido Democrático Progressista’ (PDP), sofreram uma derrota acachapante nas eleições locais de sábado (26), perdendo para os oposicionistas do Kuomintang (KMT) quatro das seis principais municipalidades, inclusive a capital, Taipei, e ficando com apenas 5 de 20 jurisdições.
A atual presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, assumiu a responsabilidade pelo enorme revés e anunciou sua renúncia à chefia do DPP. “Falhamos em atender às expectativas da população”, admitiu Tsai, dizendo aceitar “humildemente” o veredicto das urnas.
O novo prefeito da capital será Wayne Chiang Wan-an, descendente de Chiang Kai-shek, antigo líder do KMT. O pequeno Partido do Povo de Taiwan conquistou Hsinchu – sede da maior fabricante de chips contratada do mundo, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company.
O KMT venceu em 13 municipalidades e os separatistas, só em 5; independentes ficaram com outras 2. Em uma localidade a eleição foi adiada devido à morte de um candidato.
Diante do fiasco dos separatistas, agências de notícias ocidentais passaram a atribuir à incúria perante a Covid e falta de vacinas como a ‘explicação’ para a derrota, mas o South China Morning Post, principal jornal de Hong Kong, assinalou que “ao longo da campanha, Tsai disse repetidamente que uma vitória do DPP ajudaria a salvar a democracia de Taiwan de ser destruída por Pequim”.
Também não seria possível isolar a eleição recém realizada do impacto causado em Taiwan pela acintosa ‘visita’ da presidente da Câmara de deputados dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto, em apoio ao separatismo e à submissão a Washington, recebida com tapete vermelho pela presidente Tsai, bem como da reação do governo chinês diante da provocação contra a soberania chinesa.
Ainda segundo o SCMP, em mensagem de vídeo de campanha na quinta-feira Tsai chamou a votação do fim de semana de “referendo sobre sua liderança”, dizendo que votar em candidatos do DPP era um voto para ela e seu compromisso de “cuidar bem” de Taiwan, uma forma cínica de se referir ao separatismo que propugna.
O presidente do KMT, Eric Chu Li-luan, agradeceu aos taiwaneses pela vitória, que considerou de “todos os que apóiam a democracia, a justiça e a razão”.
Ao SCMP, Chang Chun-hao, professor de ciências políticas da Universidade Tunghai em Taichung, disse que essas vitórias do KMT aumentam as chances do partido nas eleições presidenciais de janeiro de 2024. “A derrota do DPP também deve impactar o partido nas eleições presidenciais”, assinalou.
Para Wang Kung-yi, chefe da Sociedade Internacional de Estudos Estratégicos de Taiwan, um think tank com sede em Taipei, os resultados indicam que os eleitores estão punindo o governo Tsai: “muitos eleitores não estão satisfeitos com algumas de suas políticas”, ressaltou.
Segundo ele, por um lado os eleitores estão “especialmente descontentes” com o fracasso do governo Tsai em garantir um suprimento adequado de vacinas, visto como “principal motivo das mortes por Covid na ilha”.
Por outro lado, acrescentou Wang, os eleitores não foram convencidos pela chamada carta de ameaça da China jogada por Tsai e seu partido. “A campanha eleitoral se transformou em uma corrida de ‘patriotismo’ nos últimos estágios, depois que Tsai definiu as urnas como uma forma de enfrentar Pequim e proteger Taiwan”.
“UMA SÓ E MESMA CHINA”
Desde o “Consenso de 1992”, que o KMT e Pequim assinaram, cuja essência é o reconhecimento de que a parte continental e Taiwan pertencem a “uma só e mesma China”, as relações através do Estreito se tiveram grande desenvolvimento e muitas empresas de Taiwan possuem unidades fabris na parte continental. Especialmente durante o governo do KMT de Ma Ying-jeou, de 2008 a 2016.
Taiwan é parte da China milenar, tendo sido ocupada pelo Japão, durante o ‘século de humilhações, assim como ocorreu com Hong Kong com os ingleses.
No ano passado, nos 110 anos da Revolução Xinhai, que fundou a primeira República Chinesa, encerrando 2.000 anos de dinastia imperial, e foi encabeçada por Sun Yat Sen, fundador do Kuomintang, o presidente Xi Jinping reiterou que “a tarefa histórica da reunificação completa da pátria mãe deve ser cumprida e definitivamente será cumprida”.
Taiwan foi libertada do jugo japonês em 1945 e em 1949, quando a revolução derrotou o regime de Chiang Kai-shek e foi proclamada a República Popular da China, este se refugiou em Taiwan, sob proteção da frota de guerra norte-americana.
Em 1971 a ONU, através da resolução 2758, reconheceu oficialmente a República Popular da China como “único representante legítimo da China perante as Nações Unidas” e restabeleceu o assento no Conselho de Segurança da organização, que fora usurpado por mais de uma década pelo regime de Chiang Kai-shek.
Esse princípio de “Uma Só China” tem sido a pedra angular da política externa chinesa, e foi formalmente reconhecido por Washington para a normalização das relações, processo iniciado por Nixon após a derrota no Vietnã e concluído no governo Carter. Desde Trump, vem sendo violado escandalosamente por Washington
Nesse discurso dos 110 anos da república, Sun foi saudado por Xi como um grande herói nacional, patriota e um grande pioneiro da revolução democrática da China.
O presidente reafirmou a proposta da China de reunificação pacífica de Taiwan à mãe pátria, sob o modelo de “um país, dois sistemas”, concretizando o sonho de “revitalização nacional” de muitas gerações de patriotas, e voltou a enfatizar que a China tem força e determinação para cumprir com essa esperança comum da nação inteira.
Observação reiterada no recente encontro Xi-Biden, em que a questão de Taiwan foi claramente sinalizada como uma “linha vermelha” da China. Um integrante de Taiwan, que esteve no Grande Salão do Povo nesse 110º aniversário da primeira revolução, disse ao Global Times que havia sido “verdadeiramente tocante quando vi que o continente estava sinceramente comemorando Sun e a Revolução de 1911, enquanto as autoridades de Taiwan estão tentando esquecer ou ficar longe de Sun e seus ideais políticos, algumas delas até mesmo tentando cortar os laços com o continente chinês e a nação chinesa.”