“Cada minuto uma tortura”, diz família. O governo brasileiro, em nota, condenou Israel pela ação, “assim como a detenção ilegal de ativistas pacíficos, dentre os quais quinze nacionais brasileiros”. Além de Miguel Viveiros, outro brasileiro está desaparecido
A família do cineasta Miguel Viveiros de Castro está denunciando o desaparecimento do brasileiro após o sequestro da flotilha ‘Global Sumud Flotilla’ pelas hordas navais de Israel na quarta-feira (1º de outubro). Os familiares pedem ao Itamaraty uma ação imediata para descobrir o paradeiro do cineasta.
Miguel estava a bordo do barco Catalina, uma das mais de 40 embarcações que integravam a flotilha e levavam alimentos e remédios para a faminta população palestina, isolada pelo exército sionista israelense.
A família divulgou uma nota pública onde relata o desaparecimento de Miguel Viveiros. O texto denuncia o desaparecimento como crime de Israel e cobra respostas rápidas.
“Miguel não é número, não é abstração. É uma vida, é uma pessoa, é um brasileiro desaparecido em meio a uma operação que ataca não apenas Gaza, mas também aqueles que ousam romper o cerco”, diz o comunicado assinado por Marta Viveiros de Castro e Luiz Rodolfo.
Após o ataque sionista contra a flotilha, não houve qualquer comunicação ou registro de vídeo, como previa o protocolo de segurança adotado pelos ativistas do comboio humanitário. A ausência de sinais levou a família a exigir que o desaparecimento seja formalmente reconhecido.
A família fez três pedidos principais: 1) Que o desaparecimento de Miguel seja reconhecido formalmente; 2) Que autoridades brasileiras e internacionais atuem de imediato para esclarecer seu paradeiro; 3) Que a verdade seja estabelecida, sem “subterfúgios linguísticos” como “possivelmente interceptado”.
“A incerteza é devastadora. É uma forma de sofrimento que destrói por dentro, que impede a família de respirar, que torna cada minuto uma tortura”, afirmam os familiares.
Segundo nota da família, havia 15 brasileiros que estavam na flotilla, e que 13 aparecem como sequestrados. “Dois não aparecem — e Miguel é um deles”, diz o texto.
De acordo com informações da coordenação da missão, 12 brasileiros foram confirmados como sequestrados pelas forças israelenses e levados ao porto de Ashdod, entre eles parlamentares como a deputada Luizianne Lins (PT) e a vereadora Mariana Conti (Psol).
Miguel Viveiros de Castro é documentarista e ativista brasileiro, conhecido por seu trabalho em defesa dos direitos humanos e das causas ambientais. Entre seus projetos está o filme “Mundurukânia, Na Beira da História”, que retrata aldeias indígenas na Amazônia.
Em nota divulgada nesta quinta-feira (2), o governo brasileiro repudiou o seqüestro de embarcações da Flotilha Global Sumud pelas hordas israelenses, ocorrida na madrugada da quarta-feira (1º), em águas internacionais.
Leia a nota na íntegra:
Interceptação de embarcações da “Flotilha Global Sumud” por Israel e detenção arbitrária de cidadãos brasileiros
O governo brasileiro condena, nos mais fortes termos, a interceptação ilegal e a detenção arbitrária, por Israel, na última madrugada, em águas internacionais, das embarcações que integram a “Flotilha Global Sumud”, assim como a detenção ilegal de ativistas pacíficos, dentre os quais quinze nacionais brasileiros, incluindo a Deputada Federal Luizianne Lins. O Brasil exorta o governo israelense a liberar imediatamente os cidadãos brasileiros e demais defensores de direitos humanos detidos.
O Ministério das Relações Exteriores de Israel, por meio da Embaixada do Brasil em Tel Aviv e da Embaixada de Israel em Brasília, foi formalmente notificado da inconformidade do Brasil com as ações do governo de Israel.
Tendo em vista o caráter pacífico da flotilha e seu objetivo de realizar entrega de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, sua interceptação por forças israelenses constitui grave violação ao direito internacional, incluindo o direito marítimo internacional, em particular a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), que consagra a liberdade de navegação.
Operações de caráter estritamente humanitário devem ser autorizadas e facilitadas por todas as partes em conflito, não podendo ser arbitrariamente obstadas ou consideradas ilícitas. O Brasil conclama a comunidade internacional a exigir de Israel a cessação do bloqueio à Gaza, por constituir grave violação ao direito internacional humanitário.
Recorda, ademais, as obrigações legais de Israel sob a Convenção de Viena sobre Relações Consulares (1963) e exige a facilitação de visitas por parte das autoridades consulares da Embaixada do Brasil em Tel Aviv a todos os ativistas brasileiros detidos ilegalmente.
O Brasil expressa sua posição de que Israel deverá ser responsabilizado por quaisquer atos ilegais e violentos cometidos contra a Flotilha e contra os ativistas pacíficos que dela participam e deverá assegurar sua segurança, o bem-estar e integridade física enquanto permanecerem sob a custódia de autoridades israelenses.