“Foi um depoimento longo, mas tranquilo. Fiz um relato histórico de uma série de situações. Prova material? Tem bastante coisa”, disse Moro
O ex-ministro Sérgio Moro prestou depoimento à Policia Federal no sábado (2/4) sobre as denúncias de tentativas de interferência política nas investigações da PF por parte do presidente Jair Messias Bolsonaro. O depoimento, que ocorreu na sede do órgão em Curitiba, durou oito horas e o ex-ministro reafirmou que Bolsonaro tinha e tem a intenção de aparelhar a Polícia Federal para controlar investigações sigilosas.
Ele entregou as provas que ja tinha divulgado e outros materiais que comprovam as suas denúncias. A delegada Christiane Correa Machado, chefe do Serviço de Inquéritos Especiais, comandou o depoimento, que foi gravado.
“Foi um depoimento longo, mas tranquilo. Fiz um relato histórico de uma série de situações. Prova material? Tem bastante coisa”, disse Moro, segundo relatos de interlocutores ouvidos pela revista Veja. Sérgio Moro apresentou novas provas entre áudios, trocas de mensagens e e-mails. Ao pedir demissão do cargo de ministro no último dia 24 de abril, Moro afirmou que Bolsonaro tentou interferir e receber dados sigilosos de investigações da Polícia Federal.
Na manhã deste domingo (3), o ex-ministro Sergio Moro fez a seguinte postagem no Twitter: “Há lealdades maiores do que as pessoais.”
Nesta fase inicial do inquérito, os delegados podem marcar mais depoimentos e pedir também provas periciais, com a quebra de sigilos telefônicos, por exemplo.
Segundo a jornalista Bela Megale, no jornal O Globo, o telefone de Moro foi espelhado. Com isso, integrantes da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República (PGR) que conduzem o caso terão acesso às conversas de Moro com o presidente. Além de mensagens, delegados e procuradores agora têm em mãos áudios enviados por Bolsonaro e por outros integrantes do governo ao ex-ministro Sergio Moro
Logo após fazer as denúncias da interferência indevida de Bolsonaro na Polícia Federal, e, diante da afirmação do presidente de que ele [Moro] estava mentindo, o ex-ministro apresentou ao público uma troca de mensagem entre os dois em que Jair Bolsonaro manda ao ministro uma notícia veiculada no dia 23 de abril pelo site “O Antagonista”, com o seguinte título: “A PF está no encalço de 10 ou 12 deputados bolsonaristas”. Bolsonaro comenta abaixo da notícia: “mais um motivo para a troca”. Moro rebate afirmando que não era Maurício Valeixo, chefe da PF, mas que determina as investigações, mas sim o STF.
Bolsonaro estava se referindo a dois inquéritos que correm no Supremo para investigar a organização de atos antidemocráticos e o “gabinete do ódio”, uma estrutura de espionagem extra-oficial que funciona dentro do Palácio do Planalto e é coordenado pelo filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro e que fabrica fake news contra personalidades, instituições e desafetos do governo.
O nome de “gabinete do ódio” quem deu foi a deputada Joice Hasselmann (PSL), ex-líder do governo, em depoimento na CPI das fake news. As investigações apontavam para o envolvimento dos filhos de Bolsonaro.
O relator dos dois inquéritos no Supremo, ministro Alexandre de Moraes, observando os movimentos de Bolsonaro no sentido de aparelhar e controlar a Polícia Federal, determinou que os delegados responsáveis pelas investigações em curso não fossem afastados de sus funções. O objetivo do ministro era blindar as investigações alvos da atuação de Bolsonaro.
Outra medida tomada pelo STF foi a suspensão da nomeação por Bolsonaro de Alexandre Ramagem para a direção-geral da PF. O Supremo atendeu a uma ação apresentada pelo PDT apontando haver desvio de finalidade na indicação de uma pessoa intimamente ligada aos investigados para o comando da PF.
Alexandre Ramagem assumiu a segurança do então candidato a presidente, Jair Bolsonaro, logo após a facada sofrida por ele durante a campanha. Ramagem tornou-se íntimo da família Bolsonaro, particularmente do vereador Carlos Bolsonaro. Assim que assumiu a Presidência, Bolsonaro levou Ramagem para um cargo de assessoria na pasta do então ministro Santos Cruz, no Planalto.
Na época, segundo Gustavo Bebianno, ex-ministro do governo, Carlos Bolsonaro estava empenhado em criar uma “Abin paralela”, já que ele [Carlos] não confiava na estrutura oficial. Assim que o general Santos Cruz foi exonerado após conflitos criados por Carlos, Ramagem foi nomeado para a chefia da Abin.
O ministro Celso de Mello foi sorteado para a relatoria do inquérito, aberto a pedido da Procuradoria Geral da República, que investiga as denúncias feitas pelo ex-ministro Sérgio Moro contra o presidente. Mello determinou um prazo de 60 dias para que fossem feitas as investigações da tentativa de aparelhamento político da PF por parte de Bolsonaro, conforme denunciou Sérgio Moro.
Diante da insistência do presidente em intervir na PF, Celso de Mello antecipou os prazos e deu cinco dias para que a PF ouvisse o ex-ministro. O depoimento ocorreu neste sábado. Segundo relatos obtidos sobre o depoimento, Sérgio Moro acrescentou novas provas às que ele já havia divulgado.