Além de agredir parceiro Argentino, ataca tarifa externa comum e defende acordos bilaterais. Proposta interessa aos EUA e União Europeia
O Brasil assumiu na quinta-feira (08) a presidência temporária do Mercosul. Jair Bolsonaro, que por diversas vezes deu a entender que o país sairia do bloco, que reúne, além do Brasil, o Uruguai, a Argentina e o Paraguai, discursou na reunião virtual da Cúpula dizendo que sua missão nos próximos seis meses será “modernizar” regras, ou seja, voltou a criticar a pilares fundamentais da integração econômica entre países latino-americanos.
A fala de Bolsonaro começou com um ato falho, quando disse “pandemia brasileira”, ao se referir à “Presidência brasileira”. Ele criticou o mandato argentino no bloco – o presidente do país, Alberto Fernández, que dirigiu a cúpula nos últimos seis meses – afirmando que “não se avançou na modernização” do Mercosul no período. A agressão ao mandatário do país vizinho e o segundo do bloco foi desnecessária e completamente gratuita.
IMPLOSÃO DAS REGRAS QUE VIABILIZARAM A CRIAÇÃO DO BLOCO
“Deveríamos ter apresentado resultados concretos nos dois temas que mais mobilizam nossos esforços recentes: a revisão da tarifa externa comum e a flexibilidade para negociação comerciais com parceiros externos”, disse Bolsonaro, deixando claro seu objetivo é implodir o Mercosul, escancarando as fronteiras dos países do bloco a outros países em detrimento da produção e dos empregos da região. A Argentina e os demais parceiros são contra a proposta.
A principal controversa entre o que defende Bolsonaro e o presidente argentino está nos pilares fundamentais do bloco de integração econômica: a adoção de tarifas externas comuns e a regra de consenso (unanimidade) entre os integrantes (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) nas tomadas de decisão.
PROPOSTAS BENEFICIAM EUA E UE
Bolsonaro, com o discurso alinhado ao ministro da Economia, Paulo Guedes, defende que as decisões sejam individuais e que acordos comerciais com nações de fora do bloco sejam “flexibilizados”. Também defende a redução drástica da TEC (Tarifa Externa Comum), que regula a entrada de produtos extrazona com uma taxa média de 14%. Na prática, acabar com o Mercosul. Esta são propostas que não interessam ao desenvolvimento da região e são defendidas pelos governos dos EUA e da União Europeia.
Fernández, ao discursar na abertura da reunião da cúpula, condenou a posição puxada pelo Brasil e apoiada pelo presidente Uruguaio, Luis Lacalle Pou.
“São regras, e abandonar o consenso entre os países para negociar por fora significa descumprir as regras”, disse o presidente Argentino. “A globalização em que acreditamos é uma globalização mais regionalizada, que fortaleça as cadeias regionais de produção, e queremos mais cadeias regionais, e não menos”, defendeu.
Na semana passada, entidades de empresários e trabalhadores da indústria, divulgaram nota conjunta em defesa do Mercosul e contra a proposta do governo Bolsonaro de reduzir as tarifas, alertando que a negociação de acordos separadamente, por país, significaria a implosão do Mercosul.
BOLSONARO MENTE SOBRE SITUAÇÃO DO BRASIL
Em seu discurso, o presidente brasileiro tentou passar a imagem de que o país está em pleno processo de recuperação, minimizando a crise econômica e a pandemia que já matou mais de meio milhão de brasileiros. Milhares de empresas brasileiras fecharam as portas e o desemprego está em níveis recordes. A lenta retomada, restrita por conta da sabotagem de Bolsonaro à aquisição de vacinas, não recuperou os empregos e nem o nível de atividades de antes da pandemia.
O Brasil não vacinou completamente mais do que 14% de sua população. No dia da reunião, o Brasil registrou 1.481 mortes por Covid-19. E, agora, torna-se ainda mais evidente que esquemas de corrupção no trato com vacinas se somaram à sabotagem de Bolsonaro e ajudaram a atrasar ainda mais a vacinação. Tudo isso está sendo investigado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado.
Como se nada disso estivesse acontecendo, Bolsonaro seguiu em seus desastroso e mentiroso discurso. “Meu governo está empenhado em garantir rápida e plena recuperação da economia neste momento de intensificação da imunização em massa. Os brasileiros voltam a estudar e trabalhar em plena segurança. A viver, enfim, em condições de plena normalidade”, disse ele.