
O ex-analista de inteligência, Clebson Ferreira de Paula Vieira, relatou ter sofrido no Ministério da Justiça do governo de Jair Bolsonaro pressão para produzir relatórios que ligassem Lula, que era candidato à Presidência, à facção criminosa Comando Vermelho durante as eleições de 2022.
Sua superior, a então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça Marília Ferreira Alencar, pediu a Clebson que cruzasse os dados dos votos de Lula no primeiro turno das eleições com locais controlados pela facção.
“Chegou um pedido para tentar ver essa análise de correlação estatística da concentração de votos em territórios do CV [Comando Vermelho] no Rio de Janeiro, para saber se havia correlação, para ver se o candidato à época, Lula, tinha maior concentração de votos em áreas dominadas por facção criminosa”, disse Clebson em depoimento.
O servidor foi indicado como testemunha de acusação pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no processo em que Marília, assim como o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros membros do antigo governo, responde por tentativa de golpe de Estado.
O caso é confirmado por uma mensagem enviada por Clebson à sua esposa quando da ordem dada por Marília. O servidor contou que sempre que “chegava alguma demanda com viés político” contava com sua esposa e que ficava “muito mal” com “uma demanda daquelas, diretamente da diretora”.
“Camila era minha esposa à época e eu conversava com ela sempre que chegava alguma demanda com viés político, que parecia um movimento para ajudar o governo. Por isso mandei a mensagem, dizendo que tinha chegado uma demanda daquelas”, relatou.
O servidor ainda contou que recebeu ordens para fazer análises estatísticas das eleições, incluindo estudos sobre segurança das urnas eletrônicas. Naquele momento, o governo Bolsonaro se empenhava em mentir sobre elas como forma de abrir espaço para um golpe.
Marília Alencar também teve participação no uso da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para tentar atrasar eleitores de Lula a chegarem a seus locais de votação, novamente no segundo turno das eleições presidenciais de 2022.
Ela, que respondia a Anderson Torres, ministro da Justiça, pediu aos funcionários da pasta que fossem mapeados os municípios onde Lula obteve maior vantagem no primeiro turno. A PRF agiu exatamente nesses locais.