Milhares de trabalhadores foram às ruas para que o governo volte atrás em suas decisões e estabeleça um diálogo efetivo com as entidades, e resolva definitivamente as demandas do setor, estratégico para o atendimento à população
“Hoje marchamos por um reajuste salarial digno de 3% sobre o IPC acumulado anual, o que representa um aumento real para o setor público, e por mais estabilidade no emprego. Não permitiremos que mudanças nos governos de Estados e municípios se transformem numa carnificina trabalhista”, afirmou o presidente da Central Unitária dos Trabalhadores (CUT) do Chile, David Acuña, à frente da manifestação na estação Los Héroes del Metro, em Santiago, na quinta-feira (28).
O protesto tomou o país “contra os compromissos não cumpridos” pelo presidente Gabriel Boric e contou com a participação de entidades representativas como a Associação Nacional de Funcionários Públicos e a Confederação Nacional de Servidores da Saúde Municipal, que mobilizaram suas bases. Com esta força, todos os órgãos públicos foram fechados, sendo abertas tão somente as unidades de saúde para os atendimentos de emergência. As lideranças agradeceram a compreensão e o apoio recebidos da população.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), a inflação no Chile alcançou 4,1% em outubro, elevando o custo de vida, numa alta de preços que vai dos combustíveis aos alimentos.
“ESTABILIDADE NO EMPREGO É DÍVIDA HISTÓRICA”
David Acuña sustentou que “a estabilidade no emprego é fundamental para os trabalhadores do Estado” e defendeu que o governo se responsabilizasse por saldar essa “dívida histórica” de uma negociação que se arrasta.
Infelizmente, lembrou o dirigente sindical, “a controladora geral da República, Dorothy Pérez, o único que faz é impor incerteza aos milhares de servidores”. “Por isso estamos mobilizados, à beira de uma negociação no setor público, onde estamos pedindo um reajuste real de salário salarial real”, explicou Acuña, recordando que “nas duas últimas negociações não tivemos reajuste real”. “Não conseguimos recuperar a perda do poder de compra. Há compromissos não cumpridos”, acrescentou.
A presidente da Confederação Nacional de Servidores da Saúde Municipal, Gabriela Flores, encaminhou as demandas do setor, condenando o governo por não cumprir com seus compromissos com a categoria, nem com a sociedade, nem com a saúde pública.
“O presidente prometeu fortalecer as obras públicas e a atenção primária e hoje não cumpre nenhuma delas”, afirmou Flores, frisando que a adesão de cerca de 95% dos consultórios demonstrava o respaldo às reivindicações.
REJEIÇÃO AOS CONGELAMENTO DO ORÇAMENTO DA SAÚDE
O dia de mobilização foi marcado pela contundente rejeição ao congelamento do orçamento da saúde primária, aprovado recentemente pelo Congresso. Segundo Flores, esta decisão afetará gravemente os municípios.
“O congelamento do orçamento terá consequências desastrosas para os prefeitos que acabaram de tomar posse, porque os recursos não serão suficientes para cobrir as necessidades de saúde nas suas comunidades”, declarou a dirigente.
Flores também combateu a procuradora Dorothy Pérez por rejeitar a figura de “confiança legítima” para os funcionários municipais, o que poderia deixar milhares de trabalhadores em situação de vulnerabilidade laboral. A sindicalista descreveu esta medida como discricionária e uma ameaça direta à estabilidade dos funcionários públicos. “Rejeitamos esta decisão mesquinha, que coloca em risco a continuidade do trabalho de milhares de funcionários em todo o país”, asseverou.
Para o presidente da Associação Nacional de Funcionários Públicos, José Pérez Debelli, “a ministra do Trabalho, sendo uma ex-dirigente sindical e com uma importante carreira política, que valorizamos, tem que estar sintonizada e falar a favor dos trabalhadores públicos, pois é nossa representante no Ministério do Trabalho e Segurança Social”.
Na avaliação de Debelli, “a controladora errou”, e “bateu a porta na cara dos trabalhadores do Estado do Chile com a sua opinião humilhante sobre os servidores, que atenta contra o trabalho decente”.
No encerramento das mobilizações, tanto o coordenador da Mesa do Setor Público, Carlos Insunza, como David Acuña conclamaram o governo a dar respostas satisfatórias às reivindicações, caso não queira acender uma longa marcha de protestos.