Os servidores públicos chilenos realizaram uma paralisação nacional nesta quinta-feira “em defesa do emprego e da função pública” e contra “a continuidade da prática de demissões arbitrárias, injustificadas e massivas” – duas mil apenas nas últimas semanas – realizadas pelo presidente Sebastián Piñera.
A greve, sublinha o presidente do Agrupamento Nacional de Empregados Fiscais (Anef), jornalista Carlos Insunza, “é para resistir à investida neoliberal que busca debilitar a função pública para posteriormente avançar na privatização, na terceirização e no debilitamento do Estado, que é a linha do governo”.
No correr do ano, denuncia o secretário-geral da Central Unitária dos Trabalhadores (CUT) do Chile, Nolberto Díaz, cinco mil funcionários públicos já foram jogados no olho da rua. Com estas novas demissões às vésperas do Natal, condena, “o governo simplesmente apagou o acordo que havia assinado, faltou com sua palavra”.
Com faixas e cartazes exigindo “Não às demissões” e “Respeito aos direitos”, os servidores se concentraram a partir do meio dia na Praça da Constituição, em frente ao Palácio de la Moneda, em Santiago, para denunciar que desde quando foi empossado, em março, Piñera tem provocado enormes danos à estrutura pública. No conjunto das regiões os funcionários colocaram balões e bandeiras pretas nas frentes dos locais de trabalho alertando a população sobre o processo de desmonte da máquina pública.
De acordo com a Anef, há uma “forte concentração e impacto” em áreas de relevância social que ficarão extremamente debilitadas. A gravidade da situação, descrevem, é a seguinte: “Ministério do Interior e serviços dependentes, mais de 400 demissões, completando o corte de 25% do pessoal de março até o momento; Educação, 210 demissões, do total de 400 programadas pelas autoridades; Moradia, 200 demissões; Saúde, 135 demissões; Bens Nacionais, 42 demissões, incluindo a de 12 funcionários reincorporados por ordem judicial, completando o corte de 20% do quadro desde março; Serviço da Mulher e Igualdade de Gênero, 52 demissões, completando 27% do quadro total, 13% desde março; e Serviço Nacional de Capacitação e Emprego (Sence), com 72 demissões, completando o corte de 15% do total no transcorrer do ano”.
Também ocorreram demissões em massa no Ministério do Meio Ambiente e em outros organismos do Estado nas diferentes regiões, acrescentou Carlos Insunza, condenando “a situação absolutamente inaceitável” criada por Macri. “A onda de demissões vulnera os acordos firmados pelo governo com a Mesa do Setor Público e com a Anef duas semanas atrás”, protestou.
Entre outros abusos contra os direitos coletivos e a liberdade sindical, alertou a Agrupação do Ministério de Transportes e Telecomunicações, “foram demitidos dois dirigentes sindicais e uma trabalhadora em período de amamentação”.
Sem constrangimento, Piñera está aplicando à risca o falido receituário de desmonte do Estado, ditado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial – que inclusive manipulou o ranking do “Doing Business” para vender uma imagem positiva do seu mandato anterior (2010-2014) a fim de favorecê-lo eleitoralmente no último pleito.