Volume de serviços cai 0,3% no primeiro trimestre, na comparação com o trimestre encerrado em dezembro – a primeira taxa negativa desde o segundo trimestre de 2020
Sufocado pela restrição de demanda imposta pelos juros altos, o volume de serviços no Brasil segue abaixo do nível de dezembro do ano passado, ao ter registrado apenas 0,9% em março frente a fevereiro, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta terça-feira (16).
Após a alta de 3,1% no último mês do ano de 2022, o setor de Serviços recuou 2,9% em janeiro, não conseguindo recuperar as perdas no mês seguinte, em que registrou 0,7% em fevereiro. Apesar de ter ficado no azul no primeiro trimestre, os resultados de fev-mar/23 não foram fortes o suficiente para anular a retração de janeiro. Na comparação com o trimestre encerrado em dezembro, houve uma queda de 0,3% no volume de serviços, a primeira taxa negativa desde o segundo trimestre de 2020.
A média móvel trimestral foi de –0,5% no trimestre encerrado em março de 2023 frente ao mês anterior, encerrando 16 meses de taxas positivas registradas desde novembro de 2021.
Com o resultado de março, o volume de serviços brasileiro está 1,3% abaixo do nível alcançado em dezembro de 2022, “o auge da série histórica”, ressaltou o IBGE. Da mesma forma estão no vermelho os ramos de serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,0%), os serviços prestados às famílias (-2,4%) e outros serviços (-9,1%).
No acumulado dos últimos 12 meses, o Índice de volume de serviços passou de 7,8% em fevereiro para 7,4% em março, sendo o menor resultado desde setembro de 2021 (6,8%) para o setor, responsável por mais de dois terços da economia. Em janeiro, o crescimento estava em 8,0%.
Com o esgotamento dos efeitos positivos da normalização da mobilidade no país pós-pandemia, o setor de Serviços está sentindo com mais intensidade o efeito dos juros altos, que vêm provocando a desaceleração da atividade econômica no país, desde o segundo semestre do ano passado.
O presidente do Banco Central, Campos Neto, manteve a taxa básica da economia em 13,75%, no mesmo patamar desde agosto do ano passado, mantendo o Brasil como o maior juro do mundo. Com a economia estagnada, altos índices de inadimplência e endividamento das famílias e recordes nos números de pedidos de recuperações judiciais e falências, os juros elevados travam os investimentos, corroem o orçamento das famílias e aceleram as demissões.
Alegando uma falsa demanda, contestada pelo setor produtivo, economistas e pelo governo, Campos Neto ameaça com a manutenção dos mais altos juros do mundo estrangulando a economia brasileira por longo período.
PRODUÇÃO INDUSTRIAL NO VERMELHO E VENDAS DO COMÉRCIO ESTAGNADAS
Em março, a produção industrial nacional registrou alta de 1,1%, após dois meses consecutivos de queda ( -0,2% em fevereiro e 0,3% em janeiro). De janeiro a março, a produção industrial está negativa em -0,4%. Assim, a indústria brasileira permanece produzindo em níveis 1,3% abaixo do período pré-pandemia e 17,9% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011.
“Ainda que em mar/23 a produção industrial tenha progredido, rompendo a série de resultados que colocou o setor em um quadro de virtual estagnação, o movimento não foi forte o suficiente para salvar o primeiro trimestre de ano. Para além dos espasmos que eventualmente ocorrem, ainda não há sinal de uma nova fase de expansão para a indústria”, observou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Já as vendas do comércio recuaram -0,1% em fevereiro contra janeiro deste ano, em que obteve um pico de 3,8% após a queda de 0,6% em novembro e tombo de 2,6% em dezembro, isto mesmo com as promoções da Black Friday e do período festivo de final de ano.
O Banco Central persiste em manter a taxa de juros em patamares elevados, com a Selic em 13,75% ao ano, restringindo a demanda de bens e serviços no país e endividando as empresas e as famílias, mesmo com a inflação desacelerando.
Segundo o IBGE, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de abril ficou em 0,61%, abaixo dos índices de 0,71% alcançado em março e 0,84% em fevereiro. Nos 12 meses até abril, a inflação oficial acumula alta de 4,18% e de 2,72% nos primeiros quatro meses de 2023.