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Acordo de cessar-fogo em Gaza está mantido apesar das tensões geradas com a sabotagem de Netanyahu e as ameaças de limpeza étnica de Trump
Já saíram das masmorras israelenses 369 prisioneiros palestinos neste sábado (15), enquanto o Hamas soltou três cativos israelenses na sexta troca de presos, depois de uma tensa semana devido ao não-cumprimento, por Israel, de itens chave como a abertura à entrada da ajuda humanitária na Faixa de Gaza, ameaças do regime Netanyahu e arreganhos do presidente Trump de fazer “o inferno estourar” no enclave palestino, depois da provocação de sua “Riviera Sobre Cadáveres” e limpeza étnica de 2,2 milhões de palestinos expulsos a outros países.
Para esse desfecho, os mediadores do Qatar e Egito trabalharam intensamente. Uma multidão acolheu em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, o primeiro ônibus com os presos palestinos, enquanto em Tel Aviv a notícia da libertação de três reféns foi comemorada. Vestidos com lenços tradicionais keffiyeh, os palestinos recém libertos foram levantados nos ombros, abraçados por seus parentes e depois levados para exame médico. A parte principal dos libertos, 333 palestinos de Gaza, chegou a Khan Younis, no sul do enclave, em comboio de ônibus vindo de uma prisão no Negev, sendo entusiasticamente recepcionados.
Antes, também em Khan Younis, ladeados por combatentes do Hamas, os cativos israelenses – Sagi Dekel-Chen, Alexander Sasha Troufanov e Yair Horn – foram conduzidos a um palco no local de soltura, por volta das dez da manhã, horário local (cinco da manhã, no horário de Brasília), de acordo com imagens ao vivo, puderam falar à multidão brevemente por microfone e pediram mais trocas de reféns sob o acordo de cessar-fogo, segundo o relato do Middle East Eye.
Em seguida, foram conduzidos para veículos da Cruz Vermelha, para o retorno a Israel. Uma multidão se reuniu na “Praça dos Reféns” de Tel Aviv para assistir à troca em uma tela grande, com muitos carregando bandeiras israelenses e cartazes com mensagens como “Bem-vindos de volta” e “Complete o cessar-fogo”. As pessoas começaram a aplaudir e chorar quando surgiram as notícias de que a Cruz Vermelha já estava a caminho trazendo os três israelenses.
O regime Netanyahu acabou cumprindo no sábado o combinando, mas não sem expor sua truculência, tendo obrigado os presos a usarem camisa estampada com o slogan “Não esqueceremos nem perdoaremos” em árabe e a Estrela de David, apesar de sua ficha corrida incluir desde a Nakba até o genocídio transmitido ao vivo para o mundo inteiro e sendo investigado pela Corte Internacional de Justiça de Haia.
O Clube de Prisioneiros Palestinos disse que alguns dos prisioneiros palestinos libertados estão com a saúde extremamente debilitada, com sinais de tortura severa, doenças e fome. Segundo a entidade, dos libertados 36 têm penas de prisão perpétua, sendo que 24 serão deportados. A grande maioria dos libertos foram presos em Gaza durante a operação genocida.
Em um comunicado, o Hamas destacou a discrepância entre as condições dos prisioneiros israelenses e dos detidos palestinos libertados. “Condenamos o crime da ocupação de colocar slogans racistas nas costas de nossos prisioneiros heróicos e tratá-los com crueldade e violência, em uma flagrante violação das leis e normas humanitárias”.
Entre outras violações do acordo de cessar-fogo, a ocupação israelense matou em plena trégua 92 palestinos em Gaza e feriu mais de 800. Entregou só metade do combustível prometido, deixando hospitais sem funcionar e se recusa a permitir a entrada de máquinas pesadas, o que torna extremamente lento o trabalho de busca sob os escombros, tendo sido encontrados desde o início da trégua menos de 700 corpos dos cerca de 10 mil que se acredita estarem sob os destroços. A entrada de uma quantidade mínima de tendas e zero casas portáteis vem deixando ao relento dezenas de milhares de retornados ao norte.
A primeira fase do acordo de cessar-fogo entrou em vigor em 19 de janeiro, com duração de 42 dias, estabelecendo a troca de centenas de presos palestinos por 33 israelenses cativos em Gaza. Com a troca deste sábado, 19 prisioneiros israelenses já foram entregues, além de cinco cidadãos tailandeses, libertados em uma entrega não combinada. Também a retirada de tropas israelenses, de que a saída do corredor Netzarim que divide o enclave foi a principal etapa, o retorno dos palestinos deslocados internamente para o norte de Gaza e a entrada da ajuda humanitária
A trégua de seis semanas busca abrir caminho para a segunda rodada de negociações com o objetivo de garantir a libertação dos cativos restantes e completar a retirada das forças israelenses. A terceira etapa do cessar-fogo envolveria um plano para a governança de Gaza e reconstrução.