
Presidente do México rechaça uso de força militar estrangeira no seu território a pretexto de combater cartéis de drogas: “isso não é permitido e nem faz parte de nenhum acordo”
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, rejeitou terminantemente qualquer permissão para que o governo dos Estados Unidos, a pretexto de combater os cartéis de drogas, invada o seu país. O presidente Trump instruiu secretamente o Pentágono para começar a usar a força militar no México contra essas “organizações terroristas” e, conforme reportagens obtidas pelo The New York Times, as autoridades estadunidenses já estariam delineando opções para o combate extraterritorial.
“Os Estados Unidos não virão ao México com as forças armadas; cooperamos, colaboramos, mas não haverá invasão, isso está descartado, absolutamente descartado e, além disso, já manifestamos isso em todas as chamadas: isso não é permitido e nem faz parte de nenhum acordo”, afirmou Sheinbaum, durante coletiva na sexta-feira (8).
Ao ser informada de que essa ordem executiva estava a caminho, a presidente mexicana foi enfática em esclarecer que “nada tem a ver com a participação de nenhum militar ou instituição em nosso território”.
Na contramão, o embaixador dos Estados Unidos no México, Ronald Johnson, emitiu uma declaração que, conforme o editorial do La Jornada, “dispara o alarme sobre até onde Trump e seus assessores estão dispostos a ir para transformar a crise de saúde pública que a sociedade americana enfrenta em uma guerra sem outro vencedor além do complexo militar-industrial da superpotência”.
É significativo, denunciou o jornal mexicano, que das 14 linhas que compõem seu texto em espanhol, Johnson tenha usado oito para defender a decisão de classificar seis organizações criminosas sediadas no México como “terroristas” (Sinaloa, Jalisco Nueva Generación (CJNG), Noreste, Golfo, Carteles Unidos e Nueva Familia Mexicana).
“Isso constitui um absurdo semântico e jurídico, visto que o terrorismo usa a violência para promover uma agenda política e ideológica, enquanto os cartéis são entidades movidas pelo lucro, assim como as empresas farmacêuticas (made in USA) que causaram a epidemia de dependência de opioides como o fentanil, os fabricantes e distribuidores (dos EUA) das armas sem as quais os cartéis não existiriam, e os bancos (principalmente dos EUA) que lavam centenas de bilhões de dólares a cada ano com todos os tipos de atividades ilícitas. Significativamente, Johnson não mencionou nenhum desses atores em sua declaração”, assinalou o La Jornada.
“CADA PAÍS DEVE TRABALHAR PARA COMBATER AS CAUSAS QUE LEVAM ÀS DEPENDÊNCIAS”
Como o Ministério das Relações Exteriores lembrou em resposta às declarações do embaixador, “cada um deve trabalhar no seu país, para combater as causas que provocam as dependências e a violência derivada do tráfico ilegal de drogas e armas”. Sendo assim, combater o tráfico de armas para o sul é tão importante quanto combater o fluxo de narcóticos para o norte.
Além disso, o ministério afirmou que a cooperação entre ambas as nações se “baseia nos princípios da confiança mútua, responsabilidade partilhada, igualdade soberana, respeito pela integridade territorial e cooperação sem subordinação”. O ministério explicou ainda que o México conta com uma Estratégia Nacional de Segurança para construir a paz com justiça, a partir da atenção às causas estruturais que propiciam a violência e avançar para que haja impunidade zero.
‘O México continuará a trabalhar de forma coordenada com os Estados Unidos. Em particular no combate ao tráfico ilícito de drogas e armas, que é fundamental para diminuir a violência. Há meses que trabalhamos num acordo de segurança sobre esses princípios: colaboração e respeito pela soberania”, sublinhou.
O que salta aos olhos nesta confusão feita por Trump sobre o que é crime organizado e terrorismo, é a tentativa da aplicação extraterritorial de suas leis por Washington. No caso mexicano, buscam dar carta branca ao presidente dos EUA para ordenar bombardeios, assassinatos seletivos, massivos ou quaisquer formas de agressão sem a aprovação do Congresso.