
O pleito presidencial do 2º turno encerrou-se há quase 48 horas, mas o candidato derrotado, Jair Bolsonaro, continua enclausurado em seu silêncio, rompendo, por ora, uma tradição da política nacional: o vencido reconhece a vitória do vencedor numa comunicação com ele próprio.
Até mesmo Aécio Neves assim procedeu numa das eleições presidenciais mais disputadas após a redemocratização quando ligou para Dilma Rousseff, após a derrota também no 2º turno em 2014.
Com Bolsonaro já era previsível alguma reação ou reação nenhuma, através da mudez sepulcral.
Mesmo depois da manifestação de quase todos os governadores de estado eleitos este ano, inclusive os alinhados a ele.
Mesmo após o seu vice, general Hamilton Mourão, ter entabulado conversações com o futuro vice, Geraldo Alckmin, em torno da transição de um governo para outro.
Mesmo com as declarações dos dois chefes do parlamento, Rodrigo Pacheco, presidente do Senado Federal, e Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, este último seu aliado desde a primeira hora, bem como das principais lideranças do Congresso Nacional, de acatamento ao resultado das urnas.
Mesmo diante das centenas de manifestações de representações da sociedade civil organizada em defesa do respeito à democracia e ao estado democrático de direito.
Pouparemos referência ao Judiciário, especialmente aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que se expressaram na mesma direção, por óbvio – à exceção dos dois ministros da Suprema Corte indicados por Bolsonaro que acompanham a quietude do padrinho político, pois o mandatário os qualificam como integrantes de uma conspiração política urdida para devolver o poder a Lula com o uso das nada críveis urnas eletrônicas.
Previsível que uma corrente neofascista, ainda que em sua expressão bolsonarista em nosso país – tosca e medíocre, apresentasse um grau razoável de resiliência diante do movimento mudancista que se iniciou logo nos primeiros anos do trágico desgoverno que ainda está em curso.
As armas para resistir, guardadas as proporções históricas, são rigorosamente as mesmas que ajudaram o nazi-fascismo a vicejar na Europa no século passado e provocar o maior conflito bélico de nossa história, a 2ª Grande Guerra.
Disseminação pelas redes das ‘modernas’ fake News com o uso despudorado de robôs, imputação de falácias aos adversários, uso ilimitado e criminoso da máquina do Estado para comprar votos, aliciar políticos e amedrontar eleitores, manipulação grosseira da religião e das igrejas, bem como da dissimulação do patriotismo, para propagar cinicamente o ódio aos inimigos, ação permanente contra a educação e a cultura nacionais, entre outros, foram alguns dos recursos utilizados pelo bolsonarismo para resistir, enquanto, silenciosamente, seu governo praticava, como pratica, uma política de submissão aos grandes monopólios do setor financeiro, industrial e comercial, internos e forâneos, gerando inédita e inigualável desigualdade social e regional, e a volta do país ao mapa da fome e da miséria sem precedentes.
Compreensível, pois, que a luta fosse dura e a vitória difícil, mas aconteceu, especialmente pela expressiva frente ampla, social e política, que se formou em torno da candidatura de Lula.
Agora, Bolsonaro, diante do gritante isolamento a que está submetido após a vitória do ex-presidente, utiliza o único recurso que tem, o silêncio, como senha para continuar açulando os movimentos golpistas que neste momento se manifestam, principalmente, na ocupação das rodovias do país ao arrepio da lei, em criminosos atentados à democracia e à própria economia nacional, já muito cambaleante pelos graves estragos provocados pela dupla Bolsonaro/Guedes.
Felizmente, a Justiça e demais instituições estão alertas e vigilantes para debelar o quanto antes um movimento que já foi desacreditado pela própria representação dos caminhoneiros, com o uso implacável da lei, como nas demais demonstrações bolsonaristas de desobediência à decisões judiciais, e, se necessário, da força policial para restaurar a normalidade, a bem da democracia e do respeito à decisão soberana e majoritária do povo brasileiro nas urnas de 30 de outubro.
MAC