Símbolo da luta por justiça e democracia no Paraguai, onde chegou em 1964, o jesuíta e jornalista espanhol Francisco Oliva – Pa’i Oliva pela denominação dos sacerdotes em guarani -, completou 90 anos no domingo, em Assunção, rodeado de amigos.
Na comemoração, a historiadora e ativista por direitos humanos, Margarita Durán Estrago, o cantautor Ricardo Flecha, o prefeito da capital, Mario Ferreiro, e vários companheiros da vitoriosa campanha pela libertação dos camponeses de Curuguaty.
“Se ser de esquerda é a opção preferencial pelos pobres, que Jesus impulsionou com as suas palavras e sua vida no Reino de Deus, sim, eu sou”, declarou o religioso, para quem a “religião não pode estar separada da realidade”. “Aqui me dei conta de que uma fé autêntica precisa estar comprometida com o seu entorno”, destacou. Em função disso, fundou a rádio da Universidade Católica de Assunção, já que “os meios de comunicação têm um papel importantíssimo nos avanços sociais, porém seguem em mãos dos que não querem mudanças”.
Por despertar a consciência crítica dos mais jovens, nos anos 60 a ditadura de Stroessner o deteve “um mês após de que obtive a nacionalidade paraguaia”. Seis policiais o levaram em uma canoa que cruzou o rio Paraguai até o lado argentino, onde as autoridades o salvaram de ser “um desaparecido a mais”. Dali foi para Buenos Aires, onde trabalhou nove anos com refugiados, tendo atuado também no Equador e na Nicarágua.
Em 1996, após 27 anos de exílio da pátria guarani, Pa’i Oliva voltou a praticar o sacerdócio em várias capelas da região dos banhados da periferia abandonada da capital, onde mantém uma escola de formação secundária, uma rádio comunitária, um restaurante para deficientes físicos, tendo ainda fundado uma cooperativa para mães solteiras.