“Não toleraremos estes ataques aos nossos membros que exercem o seu direito constitucional à greve”, advertiu o presidente Shawn Fain
O presidente do sindicato dos trabalhadores da indústria automobilística (UAW), Shawn Fain, acusou na quinta-feira (28), a General Motors (GM) e a Stellantis de promoverem ataques contra trabalhadores em greve após vários incidentes em que membros de piquetes ficaram feridos. A greve, que atinge fábricas da Ford, GM e Stellantis, as “Três Grandes de Detroit”, já dura duas semanas.
“Condenamos esta violência que a GM e a Stellantis estão promovendo. Não toleraremos estes ataques aos nossos membros que exercem o seu direito constitucional à greve”, advertiu Fain.
“Que vergonha para essas empresas por contratarem fura-greves violentos para tentar quebrar nossa greve”, acrescentou o presidente do sindicato, segundo um vídeo publicado na rede social X, anteriormente conhecida como Twitter.
Em Michigan, cinco membros de um piquete foram atropelados na entrada de um dos locais de trabalho da GM em greve por uma van que saía das instalações. Dois dos feridos tiveram que ser hospitalizados, segundo Fain.
“Em Massachusetts, outro membro e um senador estadual foram atropelados por carros enquanto faziam piquetes em frente a um centro de distribuição da Stellantis. E na Califórnia, fura-greves apontaram armas para nossos membros em outro centro de peças da Stellantis”, disse o presidente do sindicato.
Fain disse que este é um ataque a todos os trabalhadores que optam por se levantar e lutar por um futuro melhor. “Lutar pela justiça econômica e social não é um crime. É o nosso dever cívico. É o nosso direito sagrado. É por isso que convidamos o público a juntar-se a nós nos piquetes nesta luta”, disse ele.
Em resposta, a GM anunciou, após as denúncias de Fain, a rescisão dos serviços de um subcontratado apontado como responsável pelo atropelamento dos cinco membros do piquete.
Já a Stellantis/Chrysler optou por culpar os piquetes de greve, chamando-os de “perigosos e até violentos”, com comportamentos como “cortar pneus de caminhões”, seguir indivíduos “até suas casas” e lançar “calúnias raciais” contra os fura-greves.
Nesta sexta-feira (29), mais duas fábricas entraram em greve, uma unidade de montagem da Ford em Chicago e uma unidade da GM em Lansing, Michigan, ampliando a greve “stand up” com mais 7.000 trabalhadores.
A greve teve início no dia 15 com a paralisação de três fabricas, uma de cada das “Três Grandes”, em três Estados, Michigan, Missouri e Ohio, com 13 mil trabalhadores. Expandiu-se para 38 centros de distribuição de peças em 20 estados na semana seguinte.
É a primeira vez na historia que o sindicato lança uma greve contra as “Três Grandes” simultaneamente, e a estratégia de mobilização é puxar greves em fabricas selecionadas, ir obtendo avanços nas negociações, ao mesmo tempo em que mantém a categoria em prontidão para generalizar a greve, caso as montadoras não recuem.
A PAUTA DA GREVE
Nos salários, o sindicato pede aumento de 40% em quatro anos, mesmo porcentual de aumento já auferido pelos executivos das montadoras. Também a restauração do ‘COLA’, o mecanismo de compensação da inflação durante o contrato.
Outra exigência central da greve é a restauração do princípio do salário igual para trabalho igual, que foi desmantelado sob o governo Obama, durante o resgate da GM e da Chrysler em 2009. Quando foi imposto que novos operários iriam ter um salário menor do que os antigos, os chamados “dois níveis”, nos quais o novo trabalhador leva oito anos para passar da escala de baixo para a escala normal.
O UAW está exigindo o fim dos “dois níveis” salariais. As montadoras só aceitam reduzir de oito anos para quatro o período para alcançar a escala normal de salários.
A pauta também requer a efetivação dos trabalhadores temporários após 90 dias de trabalho e a criação de um banco de empregos para trabalhadores demitidos.
Para os aposentados, o sindicato pediu a restauração das pensões e dos benefícios de saúde, reduzidos por Obama. Há uma década os aposentados não têm aumento.
Diante da badalada transição para os veículos elétricos, o sindicato reivindica o direito de greve no caso de fechamento de fábricas e acusa as montadoras de usarem essa transição como pretexto para tirar direitos e demitir trabalhadores.
Apesar de estarem tendo lucros recordes – US$ 21 bilhões só no primeiro semestre -, a participação nos lucros diminuiria 29% pela proposta da GM e seria 21% menor na Ford. A Stellantis ameaçou fechar 18 fábricas durante a vigência do contrato.
Outra questão importante é a introdução, nos EUA, de uma conquista que já existe em países europeus de mesmo nível de desenvolvimento, a redução da jornada semanal para 32 horas, sem redução de salário.
“Continuaremos a construir o nosso arsenal de democracia e venceremos. A nossa estratégia está funcionando”, afirmou Fain.
“Os membros do UAW salvaram a indústria automobilística em 2008. Desistimos de muita coisa quando as empresas estavam em apuros. Agora as empresas estão indo incrivelmente bem e nós deveríamos estar incrivelmente bem também”, acrescentou, denunciando a “ganância das montadoras”.
CENA PATÉTICA
Na quarta-feira, o ex-presidente Donald Trump, em pré-campanha para a eleição presidencial do próximo ano, cumpriu sua ameaça de ir a uma fábrica “apoiar” os trabalhadores das montadoras, só que optou por uma em que a sindicalização é proibida, onde voltou a se apresentar como o “messias” dos trabalhadores. Uma cena “patética”, segundo o presidente do sindicato, Fain
Na véspera, Joe Biden, que concorre à reeleição no próximo ano, se tornou o primeiro presidente em exercício a ir a um piquete de greve, de megafone e boné, em que asseverou que os trabalhadores das montadoras “salvaram a indústria automobilística” e merecem “ganhar muito mais do que estão recebendo”.