
“O Governo do Estado está adoecendo nossos professores”, denuncia deputado Arilson Chiorato
No artigo intitulado “Plataformas da morte!”, publicado na página da APP-Sindicato — que representa os servidores da educação pública do Estado do Paraná — assinado pela pedagoga Aline Chalus Vernick Carissimi, a entidade denuncia a violência imposta aos professores da rede pública estadual por meio das plataformas digitais. Essa pressão, segundo o sindicato, resultou na morte da docente Silvaneide Monteiro Andrade. A professora, de 56 anos, sofreu um infarto no último dia 30, dentro do Colégio Estadual Cívico Militar Jayme Canet, em Curitiba, onde lecionava.
Segundo relatos de colegas da unidade, Silvaneide, que ministrava aulas de Língua Portuguesa, estava sendo cobrada pelos índices de acesso às plataformas online da Seed (Secretaria de Estado da Educação) quando teve o mal súbito e acabou falecendo no local. “A vigilância por parte da Seed quanto ao uso das plataformas educacionais digitais e o excesso da burocracia vem sendo cada vez mais intensificadas no chão das escolas públicas da rede estadual de ensino”, aponta o texto.
“A aprendizagem dos estudantes”, continua o artigo, “tem se mostrado secundarizada pelas políticas educacionais do governo, na contrapartida dos números e estatísticas das unidades educacionais”.
Para inflar os números do Paraná nos rankings educacionais, a Seed adota uma gestão focada em metas e números, ignorando as condições de trabalho e a saúde dos educadores. Com apoio de tutores, embaixadores de plataformas e chefes dos NREs (Núcleos Regionais de Educação) — subordinados à gestão Ratinho Jr. (PSD) —, a Secretaria impõe uma vigilância constante sobre as escolas, cobrando resultados a qualquer custo. A política transforma a educação em mercadoria e aprofunda o assédio e a pressão sobre os profissionais da rede estadual.
“Nas últimas semanas a Seed tem exigido cada vez mais planilhamentos e resultados das equipes escolares, seja com as plataformas: LEIA, Redação Paraná, Matemática Paraná, Inglês Paraná, Quizziz, Agrinho, Recomposição da Aprendizagem, Simulados preparatórios para o SAEB a cada 15 dias, simulado Acerta Brasil, simulado online, Semana tech, Desafio Paraná online, etc…”, cita o artigo.
Tudo isso “configurado no alto preço da mercantilização e privatização da educação para empresas e conglomerados educacionais que levam o dinheiro público dos paranaenses à custo da nossa saúde!”, prossegue o texto. “Talvez a professora Silvaneide tenha sentido o impacto dessa pressão de uma forma tão avassaladora que ceifou sua vida. O trabalho do professor do Paraná não tem valor, no sentido mais amplo, do termo valorização, ele tem preço! Paga-se abono IDEB, gratificação GTE, que não permitem ao educador o adoecimento”, continua o documento.
O Paraná tem se consolidado como um laboratório de experimentações “inovadoras” no campo da educação, com impactos que se estendem para outras regiões do país. As plataformas digitais idealizadas e implementadas pelo ex-secretário da Educação Renato Feder, durante sua gestão à frente da Secretaria da Educação no estado, agora estão sendo replicadas por ele em São Paulo, onde ocupa o mesmo cargo na administração do bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Em São Paulo, sob o governo Ricardo Nunes, professores que adoecem ou precisam tirar licença têm salários cortados e perdem o direito a bônus e premiações, mesmo aqueles que já exerciam jornada integral. Assim como no Paraná de Ratinho Jr., a valorização docente é tratada como recompensa por produtividade, ignorando as condições de trabalho e o direito à saúde. “É articulado, é política da direita conservadora, dos bolsonaristas […]”. observa Cláudio Fonseca, presidente do Sinpeem (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo). “Isso não está descasado e merece resistência”, defende Cláudio.
DESMONTE DA EDUCAÇÃO PÚBLICA
O deputado estadual do Paraná Arilson Chiorato (PT) ingressou com um pedido de informações junto à SEED sobre o caso. “Precisamos apurar se o infarto é resultado da pressão que era submetida para cumprir metas consideradas impossíveis pelos docentes. Professores têm relatado cobranças excessivas. Vamos acompanhar o caso e, se necessário, outras medidas serão tomadas”, disse o parlamentar. “O Governo do Estado está adoecendo nossos professores. Vamos respeitar este momento da família e acompanhar esse caso de perto”, continuou Arilson.
Para o deputado, a morte da professora é um alerta sobre a precarização da educação no estado. “O desmonte da educação pública no Paraná é vergonhoso e mata. Não podemos aceitar o falecimento de uma docente dentro da escola, durante uma reunião em que era cobrada por metas (como temos informações), como algo normal. Não é. Os professores precisam de mais respeito e valorização. O ensino não pode ser tratado como um processo industrial, automatizado. Escola não é fábrica”, defende.
Entre os pontos destacados no pedido enviado à Seed, está a solicitação de detalhes sobre as metas que eram cobradas da professora e o conteúdo da reunião que ocorreu antes do infarto, incluindo os questionamentos feitos a ela naquele momento.
Educadores relataram exaustão física e emocional nos comentários da publicação do deputado Arilson Chiorato (PT) nas redes. Entre as queixas, destacam-se mudanças no regime de trabalho, acúmulo de funções, metas consideradas inalcançáveis e cortes na hora-atividade, período destinado ao planejamento pedagógico.
“Estamos na exaustão. Condições indignas de trabalho! Alteraram o regime dos pedagogos, reduziram Hora-atividade dos professores e aumentaram as demandas. Estão acabando com a educação”, desabafou uma professora.
Outro episódio que escancara o tratamento desumano destinado aos professores paranaense foi a circulação nos aplicativos de mensagens no dia 21 de maio, de uma imagem divulgada pela APP, de um professor hospitalizado realizando um curso para evolução na carreira. A participação mesmo durante a internação ocorreu devido à exigência do governo estadual de 100% de frequência no curso “Formadores em Ação”.