A União Nacional de Jornalistas (NUJ) do Reino Unido se manifestou, no sábado (18), contra a decisão do governo britânico de extraditar o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, para os Estados Unidos, alertando que isso estabelece um mau precedente para a profissão.
Qualquer jornalista que receba informações confidenciais sobre os Estados Unidos, ou seja contatado por um informante para expor crimes ou irregularidades, agora temerá a extradição e corre o risco de passar o resto da vida na prisão, disse a secretária-geral da NUJ, Michelle Stanisttreet, em comunicado.
A ministra do Interior britânica, Priti Patel, aprovou no dia anterior que o jornalista australiano seja entregue aos Estados Unidos, que pretendem julgá-lo por expor no site WikiLeaks crimes de guerra cometidos por militares norte-americanos.
Se considerado culpado por um tribunal dos EUA, Assange pode ser condenado a 175 anos de prisão com base nas 17 acusações feitas contra ele por supostas violações da lei de espionagem daquele país.
Assange vem sendo punido pelos sucessivos governos estadunidenses por ter divulgado, a partir de 2010, centenas de milhares de arquivos do Pentágono comprovando os crimes de guerra no Afeganistão, no Iraque – inclusive o assassinato de dois jornalistas da Reuters em Bagdá -, e no campo de concentração e tortura de Guantánamo.
Sobrevivendo desde 2012 como refugiado político, vítima de perseguição na embaixada do Equador em Londres, ele foi entregue de forma vexaminosa pelo então presidente L. Moreno para a polícia londrina em 2019.
Assange só fez o trabalho de um jornalista investigativo.
A secretária-geral do NUJ lembrou, no entanto, que o fundador do WikiLeaks é perseguido por ações que fazem parte do trabalho diário de um jornalista investigativo.
“Priti Patel teve a oportunidade de mostrar humanidade e respeitar a liberdade de expressão, e lamento que ela tenha optado por não fazê-lo, acrescentou Stanistreet, que lembrou que ainda existem algumas vias legais para tentar impedir a extradição de Assange.
A decisão final sobre o destino do jornalista ficou nas mãos da ministra britânica depois que um tribunal superior aceitou um recurso de promotores norte-americanos em abril passado e anulou o veredicto de uma juíza de primeira instancia que se opôs a extraditá-lo após ouvir argumentos médicos sobre a frágil saúde do jornalista.
Assange, que está detido em uma prisão britânica de segurança máxima desde sua detenção em Londres em abril de 2019, tem 14 dias para recorrer da ordem de extradição assinada por Patel.
Falando no dia anterior a correspondentes estrangeiros nessa capital, a equipe de defesa do fundador do WikiLeaks e sua esposa, Stella Assange, disseram que esgotariam todas as vias legais para tentar impedir que ele seja entregue ao governo norte- americano.