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ISO SENDACZ (*)
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Sob a égide do lançamento da nova moeda digital chinesa, o jornalista Luis Nassif trouxe ao GGN o professor Elias Jabbour para uma conversa de trinta minutos.
O entrevistado aproveitou o tema para introduzir o papel da China no mundo de hoje e as características do Estado chinês no mundo pós-Bretton Woods.
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Jabbour declarou que encontrou seu embasamento teórico nas lições de Ignácio Rangel sobre a Economia do Projetamento, obra que por ora passa a integrar nossa lista de leitura e estudo.
A China emprega hoje 2 milhões de pessoas no que foi, ou deveria ter sido, o nosso Ministério do Planejamento. Algo como, considerando as proporções de PIB e população, tivéssemos aqui uns 300 mil especialistas em pesquisa e projeto trabalhando no governo federal, o triplo de todos os servidores de funções exclusivas de Estado em atividade na União.
O “projetamento” envolve, segundo o geógrafo, antever em nível estatal, sob a direção do Partido Comunista, os problemas que cada etapa do desenvolvimento chinês possa causar na realidade seguinte ou ainda mais adiante. Construir o futuro por meio do planejamento das ações no tempo presente.
Por um tempo, o foco foi o mercado interno, para alcançar o fim da pobreza hoje internacionalmente conhecida. Mais recentemente, a meta passou a ser a inserção da China no mundo. Para entender melhor o mercado, criou-se uma classe de empresários, muitos deles bilionários e descontentes com o regime chinês, financiada por recursos públicos e com o Estado como freguês mais relevante. Uma espécie de, como Elias explicou, “fábrica de fabricantes”, trazendo o camponês médio e sua milenar sabedoria ao mundo da indústria.
O experimento chinês não parou por aí: as gigantes estatais e as novas empresas foram ao exterior exportar parte de sua produção, fazer investimentos, comprar terras e indústrias já existentes e procurar assim ser protagonista da ordem econômica internacional.
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Nada que os EUA não tenham feito no século passado, mas com uma novidade: a China procura participar dos organismos multilaterais que os estadunidenses começam a abandonar.
E a bola da vez, ante o crescente isolamento estadunidense e seu dólar, padrão internacional de conversão de moedas e transações internacionais desde o momento seguinte à demonstração nuclear em Hiroshima e Nagasaki, pode ser a nova moeda digital chinesa.
Encerramos agradecendo aos debatedores da GGN pela oportunidade do relato e sugerindo conferir também as entrevistas de Elias Jabbour à Leonardo Attuch, na TV 247, e ao portal Vermelho.
Sobre criptomoedas e a moeda digital soberana chinesa falaremos mais nos próximos dias.
(*) Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, diretor do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central e do Instituto Cultural Israelita Brasileiro, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.