O Conselho de Segurança da ONU aprovou, no dia 24, um cessar-fogo na Síria, o que inclui a região de fortes embates, Ghouta Oriental. A aprovação se deu em meio a uma campanha midiática de um suposto morticínio de civis na região onde estão se dando choques entre forças sírias e aliados e os grupos terroristas, em especial o proscrito pela ONU, que já apresentou vídeos de seus mercenários comendo fígado de soldados mortos, a Jabhat Al Nusra, que ficou tão desgastada mundialmente que nem mesmo os Estados Unidos podiam mais apoiá-la e, mudando de nome, agora se chama de Hayat Tahrir al Shams (Organização de Libertação do Oriente), alojada em Ghouta.
Também notabilizada por cortar cabeças dos que não obedecem ao que eles definem como a Sharia (legislação corânica), a Al Nusra foi responsável por uma saraivada de 1.500 obuses sobre Damasco em 15 dias, causando a morte diária de civis. No dia 22 morreram três civis e 22 ficaram feridos em Damasco e povoados vizinhos devido a ataques destes bandos; no dia 23 a cidade também foi atingida por bombas e, uma delas, que caiu no bairro Ruk El Din, e tirou a vida de 3 pessoas e deixou 15 feridos. No dia, seguinte, 24, mesmo dia em que a ONU deliberava sobre “a situação em Ghouta”, a rua Paquistão, o mercado Reslan e a cidade antiga foram alvo de obuses. Um civil ficou ferido atingido por um franco-atirador.
Segundo o representante permanente da Síria na ONU, nestas semanas, centenas morreram ou ficaram feridos. Em contraposição aos informes aleatórios, suspeitos e genéricos apresentados pela mídia pró-imperial, o comando da Polícia de Damasco passa a emitir boletins diários com local, e quantidade de vítimas dos ataques sobre a capital síria em cada caso.
Sobre esta provocativa agressão, a imprensa, norte-americana, que a local repete cega e servilmente, não diz, nem disse, em momento algum, uma palavra. Assim como, aliás, pouco falou do ataque norte-americano em Raqqa, quando os Estados Unidos usaram o combate ao Daesh (Estado Islâmico) na cidade e a reduziram a um monte de ruínas com milhares de mortes (inclusive por fósforo branco) em pouco mais de três meses (até a anti-Assad “Rede Síria pelos Direitos Humanos”, falou em 1.800 mortes de civis entre agosto e outubro de 2017 pelas mãos dos Estados Unidos, que sem ser convidado intervem em solo sírio ferindo a soberania síria, a Carta da ONU e todas as leis internacionais a esse respeito).
Aprofundando a desesperada cruzada, no dia posterior à Resolução do Conselho de Segurança da ONU, dia 25, o portal G1, assim como noticiários televisivos, fala em “500 civis mortos”.
A fonte citada para esta “informação” é, desta vez, o “Observatório Sírio de Direitos Humanos”, que consiste em um escritório com um homem, Rami Abdulrahaman, trabalhando no bairro de Coventry, Londres. Rahman, em entrevista ao NYT, em 2012, disse que seu escritório é financiado pela “União Europeia, outros países e organizações ocidentais”. Ou seja, financiado pelas mesmas fontes que detratam o governo sírio e financiam o terror contra ele há sete anos, no vão intuito de derrubá-lo.
Uma fonte, como se vê, extremamente veraz e confiável.
Aliás, só para se ter uma ideia do absurdo e da falta de base destas denúncias repetidas por aqui, dois dias antes da reunião do CS da ONU, os jornais locais falavam que “enquanto isso, 13 hospitais apoiados pela MSF foram alvo de repetidos ataques”. (Jornal O Globo).
Uma rápida contabilidade pode mostrar a total inconsistência da afirmação: O governo sírio reconhece a região como local de habitação de 150 mil pessoas, hoje, o que daria uma média de 1 hospital para cada 11.500 pessoas. O Dr. Assad Frangieh, médico especialista em redes hospitalares comentando o total disparate, disse: “Para se ter uma ideia, a cidade de Santo André que tem 700 mil habitantes é servida por 5 hospitais, uma média de 1 hospital para cada 140 mil habitantes. Como pode tanto hospital funcionando numa região ocupada por bandos terroristas?”.
Diante de tudo isso, a questão do cessar-fogo aprovado pela ONU também pede um olhar mais acurado em busca da verdade acerca do que está em disputa há sete anos nesta porção do Oriente Médio.
Durante os debates, o representante permanente da Síria junto à ONU, Bashar Al-Jaafari, declarou:
“Nós praticamos o direito soberano de auto-defesa e continuaremos lutando contra o terrorismo aonde quer que ele se encontrar no solo da Síria”.
Logo após a votação, o representante russo, Vasily Nebenzya, esclareceu que tais grupos violaram acordos nas denominadas zonas de desescalada. Acordos que foram resultado de um intenso esforço de diplomacia e reconciliação, aí incluídas 6 conferências em Astana (Cazaquistão) e o Congresso pelo Diálogo Nacional em Sochi, na Rússia, assim como das vitórias militares contra os bandos financiados pelos EUA e satélites.
Nebenzya declarou que a Resolução 2401 (que acabava de ser aprovada) “deixa claro que o cessar das atividades de combate não se aplica às operações militares contra o Daesh, Jabhat al-Nusra e qualquer grupo similar incluído na lista de organizações terroristas”.
Ele prosseguiu, enfatizando que “a luta contra o terrorismo não pode se tornar um pretexto para levar adiante agendas ilegais, como faz os Estados Unidos” e acrescentou que “a retórica hostil contra a Síria deve parar”.
Quanto a isso, Jaafari precisou que “o requerido dos governos dos Estados Unidos, Inglaterra e França é que parem com encontros e planos estratégicos para trazer de volta a era do colonialismo e na busca de dividir a Síria e mudar o sistema de governo dentro dela pela força”.
Já passou da hora “destes governos reconhecerem que os esquemas de divisão da Síria e mudança de governo pela força e para garantir a continuidade do terrorismo e da presença militar ilegal em nossos territórios não terão sucesso”.
Aqui vai um breve levantamento de significativos locais atingidos pelo bombardeio terrorista sobre Damasco nestas semanas, divulgado pelo jornalista Serge Marchand para o portal Rede Voltaire: a embaixada do Irã, o bairro residencial Mezzeh, as sedes da TV nacional, do Ministério da Defesa, a praça histórica dos Omaiadas, o Centro Cultual Russo e a embaixada da Rússia.
Mesmo sob esse fogo, o governo sírio não respondeu à bala imediatamente. Tanto a Síria quanto a Rússia, através do Centro de Reconciliação que mantém no país, pediram a deposição das armas dos agressores e que os residentes da região (que são mantidos reféns como escudos humanos) pudessem sair através de corredores humanitários, isso foi negado exatamente para fomenta a propalada catástrofe humanitária e assim criar o mais recente de uma série de climas de histeria anti-Assad (desta vez, numa repetição mal requentada da cruzada contra a luta pela libertação de Alepo deste mesmo grupo, campanha midiática que ficou desmoralizada com a festa realizada pela população para receber as tropas governamentais e o carinho dos soldados para atender à população sitiada por anos). Sobre Alepo não se fala mais, já não serve à propaganda imperial.
NATHANIEL BRAIA