NEIL CLARK*
Tomemos o plano de paz de Kofi Annan de 2012.
“Em poucos dias, com o plano de paz de Annan recebendo uma resposta positiva de ambos os lados, no recente março, as forças imperiais destinaram, abertamente, pela primeira vez, milhões de dólares ao Exército Livre Sírio (ELS), para equipamento militar, para prover salários a seus soldados e subornar forças governamentais a fim de que desertassem. Em outras palavras, aterrorizados com o fato de que a guerra civil estava começando a morrer, eles estão achando uma forma de institucionalizá-la”, notou meu colaborador de portal, Dan Glazebrook, no semanário egípcio Al-Ahram.
A ajuda fornecida aos ‘rebeldes’ parecia estar mudando os rumos do conflito em favor dos que queriam mudar o regime. Enquanto os líderes ocidentais alertavam para os perigos dos terroristas ‘islâmicos’ linha dura em casa, davam as boas-vindas para os ganhos destes grupos na Síria. Um informe da Inteligência dos EUA, que veio à luz agora, datado de agosto de 2012, admitiu que “Os salafistas, a Irmandade Islâmica” e a Al Qaeda são as principais forças na direção da insurgência na Síria”. O informe acrescenta que a “Al Qaeda apoiou a oposição desde o começo”, e diz ainda que “isto é exatamente o que as potências que apoiam a oposição querem, no sentido de isolar o regime sírio”.
A entrada legal russa em setembro de 2015, em defesa da Síria secular, onde os povos de todas as religiões pudessem novamente viver em paz, comprovou-se um fator de mudança de jogo e ajudou a empurrar de volta os avanços obtidos pelo Estado Islâmico (EI) e outros grupos radicais terroristas. A guerra poderia ter chegado ao fim em 2016, desde que os Estados Unidos e seus aliados tivessem aberto mão de sua obsessão por mudança de regime e permitissem que as forças sírias e suas aliadas retomassem o controle de todo o país. Mas não o fizeram.
Em setembro de 2016, com os ‘rebeldes’ no contrapé, outro cessar-fogo foi acordado entre o secretário de Estado, John Kerry, e o ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov.
De novo não se chegou a nada. Como eu escrevi neste portal: “enquanto o Exército Árabe Sírio teve que deter seus avanços, os ‘rebeldes’ seguiram com seus ataques. O general russo, Vladimir Savchenko, verificou que, em um único período de 24 horas, havia ocorrido não menos de 55 ataques rebeldes, levando à morte de 12 civis”.
E uma semana depois do início do assim chamado cessar-fogo, ataques aéreos norte-americanos ‘acidentalmente’ mataram 62 soldados sírios em Dir Ezzor. “Desde o início, houve muitos ‘acidentes’ deste tipo, incluindo os que partiram do governo americano, buscando quebrar os acordos de cessar-fogo”, lamentou então Lavrov. O fato é que os EUA não têm sido sérios sobre o desejo de acabar com as hostilidades e apenas buscavam usar o ‘cessar-fogo’ como cobertura para rearmar as facções e retomar terreno.
No momento em que o governo sírio se movimentava para liberar Alepo Leste, os muda-regime tornaram-se crescentemente histéricos. Na Inglaterra, o deputado de direita, John Woodcock, um ex-dirigente do grupo Trabalhistas Amigos de Israel, chamou o jornal Morning Star de “escória traidora” por usar a palavra “liberação” com relação a Alepo.
Mas Alepo foi liberada e a vida aos poucos foi voltando ao normal. Vemos lamentos similares do tipo “algo precisa ser feito” por parte dos muda-regime no momento em que as foças sírias se mobilizam para recapturar o enclave rebelde de Guta Leste. Mas é interessante que as mesmas pessoas são amplamente silentes com relação à catástrofe humanitária que atinge o Iêmen. “Direitos humanos” só os preocupam quando as transgressões podem permitir acusações contra ‘Inimigos Oficiais’ do Ocidente.
Ainda no início deste mês, até mesmo o escritor neoconservador, Max Boot, acabou admitindo no Washington Post: “O caminho para salvar vidas, como concluí com tristeza, é deixar Assad vencer o mais rápido possível. Alepo se transformara em um terreno baldio em 2016. Mas agora que caiu nas mãos das forças de Assad, fotos que circulam mostram civis passeando por seus parques reconstruídos. Isso é preferível a uma guerra sem fim e inútil”.
Porém outros muda-regime ainda preferem uma “guerra sem fim e inútil” a uma vitória de Assad e reformas democráticas. A menos que isso mude, o derramamento de sangue ainda vai prosseguir.
* É jornalista, escritor e editor do Blog wwwneiclark66.blogspot.com