A juíza Gabriela Hardt, na quarta-feira (07/11), interrogou os donos do grupo Odebrecht – Emílio e seu filho Marcelo Odebrecht – e o executivo Alexandrino Alencar, no processo do sítio de Atibaia.
A juíza Hardt responde pela 13ª Vara Federal de Curitiba, substituindo o juiz Sérgio Moro.
O leitor poderá, abaixo, conferir a íntegra do depoimento de Marcelo Odebrecht. Ele é farto de detalhes sobre o esquema de corrupção montado pela Odebrecht e pelo PT – através, sobretudo, de Lula e Palocci. Mas, aqui, há dois pontos de destaque.
O primeiro é a resposta de Marcelo Odebrecht às contestações do advogado de Lula, Cristiano Zanin, ao conteúdo de seus depoimentos à Polícia Federal, ao Ministério Público, ao Tribunal Superior Eleitoral e à própria 13ª Vara Federal de Curitiba:
“O que complicou muito a vida de seu cliente não foram os meus relatos, foram meus e-mails.”
Em seguida, Marcelo Odebrecht passou a detalhar esses e-mails.
Como a campanha lulista do “não há provas” ou “cadê as provas?” parece ter infeccionado o cérebro de seus seguidores, fornecemos, aqui, nos seguintes arquivos, a íntegra dos e-mails entregues por Marcelo Odebrecht à Justiça:
O segundo aspecto mais importante para o processo da propina através das obras do sítio de Atibaia, é a declaração de Marcelo Odebrecht de que, ao contrário de outras propinas auferidas pelo esquema do PT-Odebrecht, essa estava ligada diretamente à “pessoa física” de Lula.
“… no início”, disse Marcelo, “eu, inclusive, reagi, fui contra por duas razões específicas.
“Primeiro, eu achava que era uma exposição desnecessária, (…) seria a primeira vez que a gente estaria fazendo uma coisa pessoal para o presidente Lula.
“Até então, por exemplo, tinha tido o caso do terreno do Instituto. O terreno do Instituto, bem ou mal, era para o Instituto Lula não era para a pessoa física dele.
“Quando eu vi lá, tinha um bando de gente trabalhando na obra. Quer dizer, a dificuldade de você manter isso em sigilo, em algum momento vazar, era enorme.
“Outra coisa, que é uma coisa mais pragmática: eu tinha uma discussão com meu pai, que o alinhamento que eu tinha com ele era de que tentasse, todo acordo que ele fizesse com Lula, passar pelo contexto da planilha Italiano, a conta corrente que eu tinha com Palocci, para que a gente não pagasse duas vezes”.
ORIGEM DA PROPINA
“De 2008 a 2010, eu e Palocci, referendados por meu pai e Lula, acabamos acertando um valor que chegou a R$ 200 milhões, mais ou menos. Dois desse valores eram contrapartidas específicas ao Refis da Crise e o assunto de uma linha de crédito para Angola”, declarou Marcelo Odebrecht.
“Teve alguns pedidos de propina que, inclusive, foram negados com base na existência da planilha Italiano e que imagino que outras empresas acabaram tendo que pagar. Por exemplo: a questão de Belo Monte, a questão de sondas [da Sete Brasil].
“Uma das maneiras que consegui de evidência que Lula conhecia a conta corrente com Palocci (nunca conversei com Lula sobre isso) foi a anotação em que cheguei a meu pai em 2010 e disse assim: meu pai, é bom você avisar a Lula que já acertei 200 milhões com Palocci, sendo 100 milhões já pagos e 100 milhões de saldo”.
Os e-mails são pródigos em provas de que a Odebrecht pagou as obras, como parte da propina para Lula e o PT.
Por exemplo, essa troca de mensagens entre Marcelo Odebrecht e Alexandrino Alencar – que, com Emílio Odebrecht, tratava diretamente com Lula (chamado por Marcelo de “o amigo de meu pai”):
Ou, essa enumeração de pontos, elaborada por Marcelo Odebrecht para seu pai, que iria se encontrar com Lula:
Ou esse relatório, via e-mail, do engenheiro Emyr Costa, destacado pela Odebrecht para as obras do sítio, a seu superior, Carlos Armando Paschoal, diretor da empresa em São Paulo:
(Sobre a atuação de Emyr Costa, v. seu depoimento: Dinheiro para obras no sítio de Lula vinha do departamento de propinas da Odebrecht, depõe engenheiro).
E poderíamos enumerar outros e-mails.
QUEM PAGOU
Uma forma muito original de suposta defesa de Lula apareceu nos últimos dias – embora sua originalidade seja relativa, pois já foi ensaiada, parcialmente, no caso do triplex.
Segundo esses defensores, não tem a menor importância que a Odebrecht tenha pago as obras do sítio de Atibaia.
O importante, dizem, é que o sítio não estava no nome de Lula. Portanto, o sítio não é dele.
Evidentemente, a acusação de lavagem, nesse caso, é, exatamente, de ocultação de patrimônio sob o nome de dois laranjas.
Portanto, essa defesa de Lula consiste na própria acusação.
Porém, ainda mais importante: por que a Odebrecht faria obras, por sua conta – isto é, pagando as obras –, de quase R$ 1 milhão no sítio de dois desconhecidos, que não lhe trariam, em troca, qualquer ganho?
Nem mesmo se pode alegar o espírito filantrópico da Odebrecht (!), pois os dois laranjas estavam muito bem de vida sem o sítio – e, ao que se sabe, continuam.
Mas, deixemos a debilidade mental em que afundaram alguns petistas, e vejamos o depoimento de Marcelo Odebrecht.
C.L.
De forma muito “original” este artigo trata a decisão de Moro como se condenação por “ato indeterminado” fosse algo normal. O voto do relator do processo no trf4 tem mais de 400 paginas de enchimento de linguiça e não analisou o mérito. Tem parte da imprensa, também, que age por interesses políticos.
Não é verdade. E você sabe disso, pois não o julgamos tão estúpido que não tenha percebido que, fora a análise sobre as preliminares da defesa, toda a sentença do relator no TRF4 foi sobre o mérito, o que constitui 3/4 do texto. Quem não entrou no mérito da acusação foi a defesa de Lula, que ficou em alegações meramente formais, pois a tese do réu era que as provas apresentadas não existiam… A outra hipótese que podemos aventar sobre a sua crença – de resto, muito parecida com a dos bolsonaristas em seu líder – é que você não leu a sentença.