“Já são seis anos de elevadas taxas de desemprego e, a contar pela expectativa de estagnação do PIB em 2022, pode haver pouco progresso deste quadro no presente ano”
Os dados mais recentes sobre o desemprego divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não são nada animadores, apesar da aparente redução da taxa de desocupação nos últimos meses do de 2021.
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) sublinha em análise dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do último trimestre de 2021, que o desemprego se manteve elevado no país na maior parte do ano, cedendo apenas na segunda metade – com a ampliação da cobertura vacinal, mas dando espaço ao trabalho informal que fez a renda dos trabalhadores despencar.
A taxa de desocupação média de 2021 foi de 13,2%, praticamente a mesma de 2020 (13,8%).
“No último trimestre do ano, a situação já se mostrava mais amena, muito embora a taxa de desemprego ainda permanecesse com dois dígitos, uma realidade que vem se arrastando desde 2016. Seu nível no 4º trim/21 foi de 11,1%, inferior portanto aos 14,2% do 4º trim/20 mas sem nenhuma melhora em relação ao triênio 2017-2019 para o mesmo trimestre”, registra o instituto.
“Assim, ao que tudo indica, compensamos o impacto da Covid-19, mas voltamos à mesma situação dramática em que o emprego se encontrava antes da pandemia. Vale enfatizar mais uma vez: já são seis anos de elevadas taxas de desemprego e, a contar pela expectativa de estagnação do PIB em 2022, pode haver pouco progresso deste quadro no presente ano”, acrescenta.
O agravante da vez é que a origem do declínio recente do desemprego é o aumento de postos de trabalho informais.
“Para o total Brasil, assim como para todas as regiões, são as ocupações por conta própria (+13,1% ante 4º trim/20), que compreendem os chamados “bicos”, trabalho sem carteira assinada (+18,3%) e trabalho doméstico (+22,1%) que mais crescem”, diz o Iedi. Esses três tipos de ocupação responderam por cerca de 70% do avanço da ocupação no Brasil em 2021, atingindo o ponto máximo da série histórica do IBGE no final de 2021, com a taxa de informalidade chegando a 40,7% do total da população ocupada.
“Para o total Brasil, assim como para todas as regiões, são as ocupações por conta própria (+13,1% ante 4º trim/20), que compreendem os chamados “bicos”, trabalho sem carteira assinada (+18,3%) e trabalho doméstico (+22,1%) que mais crescem”
Este perfil da retomada do emprego, resume o Iedi, “está contribuindo para o encolhimento da renda da população”. “Isso porque as ocupações informais costumam ter remuneração menor e mais irregular do que o emprego formal e nem sempre ocupam uma jornada completa de trabalho (subocupados por insuficiência de horas trabalhadas: +7,3% ante 4º trim/20)”.
“Sinal disso é que o rendimento médio nominal vem caindo desde o início da segunda metade de 2021 e no 4º trim/21 registrou -2,4% ante p 4º trim/20. Deve-se considerar também o efeito da aceleração da inflação, corroendo ainda mais o poder de compra dos brasileiros. A queda do rendimento médio real, isto é, descontada a inflação, chegou a -10,8% no 4º trim/21 frente a igual período do ano anterior, e já havia sido de -11,1% no 3º trim/21”.
Este movimento, diz o instituto, tem contribuído para manter a massa de rendimentos reais da população no vermelho, afetando um importante componente do PIB (Produto Interno Bruto) que é o consumo das famílias. No 4º trim/21, o declínio foi de -1,8% ante o 4º trim/20 e muito disso devido às regiões Sul (-4,3%) e Sudeste (-2,0%).