“Não se tem o básico e o essencial para viver. Não tem gás e, em grande parte, nem alimento para sobreviver”, diz o padre católico, que há anos realiza trabalhos assistenciais no centro de São Paulo
Famílias sem ter o que comer ou como cozinhar tornou-se uma cena corriqueira com o aumento cruel dos preços dos alimentos e do gás de cozinha. O novo reajuste nos preços dos combustíveis anunciado pela Petrobrás na semana passada – que impactará no preço do botijão – e terá impacto na inflação sobre os alimentos da cesta básica tornam a situação dos mais pobres “deplorável” nas palavras do padre Julio Lancellotti.
“(O preço dos combustíveis) Impactou, na medida em que muitas pessoas não conseguem comprar o gás. Muitos cozinham com etano ou na lenha. A situação é deplorável, à medida que não se tem o básico e o essencial para viver. Não tem gás e, em grande parte, nem alimento para sobreviver”, diz o padre católico, que há anos realiza trabalhos assistenciais no centro de São Paulo.
O preço dos alimentos da cesta básica em maio de 2022 estava 23,94% mais alto do que no mesmo período do ano passado de acordo com dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Já o gás de cozinha sofreu aumentos que elevaram o custo do botijão de 13 kg em 9,8% apenas este ano e em 23,2% em 12 meses de acordo com a ANP (Agência Nacional de Petróleo). Desde que a Petrobrás adotou a política de paridade de preço internacional do combustível, em 2016, houve um disparo nos preços da ordem de 324%.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que, em valores, uma cesta básica custa mais de R$ 700 na maioria das capitais brasileiras. Em São Paulo, por exemplo, o custo do conjunto de alimentos básicos é de R$ 777,92, em Florianópolis de R$ 772,07; em Porto Alegre, de R$ 768,76; e o Rio de Janeiro, de R$ 723,55.
O botijão de gás, por sua vez, chega a custar R$ 160 em boa parte do país. Somando as duas despesas básicas, um trabalhador paulistano que recebe um salário mínimo despende 77,8% de sua renda.
“Produtos como gás de cozinha, gasolina e óleo diesel são o que nós, economistas, chamamos de itens com demanda inelástica, ou seja, de difícil substituição. Nesse caso, há muito pouca coisa que os trabalhadores possam fazer no curto prazo”, explica o professor Balbinotto, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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