O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a dizer que a economia está crescendo em “V”, nesta terça-feira (6). Ele disse isso no mesmo dia em que é noticiado que 19 milhões de brasileiros estão passando fome e o desemprego e o desalento atingem quase trinta milhões de pessoas. Também no mesmo dia em que o país bateu a marca de 4.195 mortes diárias pela Covid, segundo dados do CONASS, atingindo quase 340 mil mortes desde o início da pandemia.
A declaração de Guedes foi também no mesmo dia em que cerca da metade de um total de 45,6 milhões de brasileiros começaram a receber, depois de três meses sem nenhuma renda, o mísero auxílio emergencial de R$ 150,00, que não cobre nem as necessidades básicas. Um valor bem menor do que os R$ 600 aprovados no ano passado pelo Congresso Nacional quando a pandemia não atingiu o grau de letalidade e contaminação que atinge no momento atual, o pior, o mais trágico, e o que mais exige medidas urgentes para salvar vidas.
Ao contrário do que diz Guedes, o que o país está vendo e vivendo é o crescimento em “V” não da economia, mas sim da pandemia da Covid-19. O aumento acelerado do número de contaminação e no número de vidas perdidas diante do negacionismo de Jair Bolsonaro é assustador. Esse crescimento é fruto da sabotagem aberta do governo federal ao enfrentamento da maior crise sanitária da história do país, que deixou os hospitais colapsados, médicos e equipes esgotados, que fez faltar medicamentos, oxigênio, enfim, é fruto da campanha contra o uso de máscara, contra o isolamento social e contra a própria vacinação em massa da população.
Sem qualquer dado da realidade que confirme sua tese de crescimento em “V”, Guedes recorre aos dados do seu novo e fraudado Caged, dizendo que o país criou 140 mil empregos formais em 2020, ano de pandemia e de queda de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB), quando o Brasil bateu recorde de desemprego aberto, atingindo mais de 14 milhões de brasileiros. O “novo Caged” de Guedes inclui temporários, intermitentes, bolsistas, entre outros que não têm empregos formais.
19 MILHÕES DE BRASILEIROS ESTÃO PASSANDO FOME
Guedes disse, ainda, que deu autonomia ao Banco Central – que, no primeiro ato, na contramão do mundo, aumentou os juros, arrochando o setor produtivo e contribuindo para travar ainda mais os investimentos. E por último, para alegrar o mercado, o ministro de Bolsonaro declarou: “estamos de volta com o programa de privatizações”.
“Eletrobrás, Correios são só o começo. Não temos de ter vergonha de usar a palavra privatização”. As declarações foram feitas em evento virtual do Itaú LatAm nesta terça-feira. E mais uma vez, na contramão das principais economias do mundo que estão protegendo suas empresas, Guedes declarou: “Acho que devemos vender todas as empresas estatais”.
Enquanto a pandemia cresce em “V”, a economia segue patinando em torno de ZERO e só não está pior porque ainda trouxe no início do ano os resultados das medidas emergenciais que, a contragosto de Bolsonaro e Guedes, foram implementadas no ano passado, como o auxílio emergencial de R$ 600 e a ajuda às micro, pequenas e médias empresas e de manutenção de empregos e salários, aprovadas pelo Congresso Nacional no início da pandemia em março do ano passado.
Mas não dá para confundir os gráficos. Separamos alguns deles, os mais recentes, divulgados pelo IBGE, para avaliação do leitor. Todos eles estão com o formato de uma raiz quadrada, o que mostra queda e estagnação da economia e não um crescimento em “V” como ele alardeia falsamente.
VOLUME DE SERVIÇOS EM JANEIRO ACUMULA QUEDA DE 8,3%EM DOZE MESES
O setor de serviços depois de desabar menos 11,8% em abril de 2020, quando a Covid levou à paralisação as atividades não essenciais e o auxílio emergencial estava no início, em maio ficou negativo em -1,2%; em junho subiu 5,5%; de julho a novembro ficou em torno de 2% e em dezembro ficou estagnado em 0,0%. Em janeiro segue estagnado em 0,6%.
EM JANEIRO, COMÉRCIO VAREJISTA REGISTROU QUEDA EM 5 DE 8 ATIVIDADES
Da mesma forma o comércio varejista que caiu 17,1% em abril do ano passado, em maio subiu a 13,3% e a a partir de então desacelerou em junho (7,8%), julho (3,7%) e agosto (2,5%) , ficou em torno de zero em setembro (0,5%), outubro (0,9%) e novembro (-0,1%) e despencou em dezembro (-6,2). Em janeiro, continuou negativo em -0,2%.
CORTE NO AUXÍLIO, DESEMPREGO E CARESTIA DERRUBAM PRODUÇÃO INDUSTRIAL
A produção industrial em abril de 2020 desabou 19,5%. Em maio subiu 8,7% e ficou mais dois meses nesse patamar; junho (9,4%) e julho (8,7% ). Em agosto começou a desacelerar: (3,4%), setembro (2,8%), outubro (1,0%), novembro (1,0%), dezembro (0,8%), janeiro (0,4%) e recuou em fevereiro (-0,7%).
Mas, é verdade que não é apenas a contaminação e óbitos que crescem no Brasil. Com aval do governo os preços dos alimentos, na conta de luz, do gás de cozinha, dos combustíveis, dos aluguéis e dos remédios disparam, assim como cresce o cinismo de Paulo Guedes em tentar mascarar a grave crise sanitária que o país atravessa para manter sua obsessão rentista de transferir os recursos públicos e os resultados da produção e do trabalho para setor financeiro da economia.