
Depois de ter recuado da sua histeria tarifária na quarta-feira (9), adiando-a por 90 dias, após desova sem precedentes de títulos do Tesouro e pânico em Wall Street, o governo Trump piscou pela segunda vez em menos de uma semana, ao isentar smartphones, computadores, televisores de tela plana, chips e outros itens eletrônicos, fornecidos na maior parte desde a China, do tarifaço de 125% decretado por ele sobre produtos importados do grande país asiático.
O recuo tornou-se evidente pela publicação, pela agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP), dos códigos tarifários concernentes e esclarecimento de que as exclusões são retroativas às 12h01 do dia 5 de abril, segundo a Reuters. As isenções se estendem a 20 categorias de produtos.
As altas tarifas sobre a China inevitavelmente levariam a um aumento acentuado nos EUA dos preços dos eletrônicos de consumo que, em boa parte, hoje vêm da China. Segundo analistas, sob o tarifaço o preço do Iphone poderia dobrar de preço no mercado americano. O que teria acarretado enormes perdas.
Em desespero, a Apple chegou a entupir seis cargueiros aéreos Jumbo para trazer seus Iphones, antes da data fatídica.
De acordo com estimativas da Wedbush Securities, aproximadamente 90% da produção e montagem do iPhone da Apple é feita na China, Além disso, segundo a Everscore IS, 80% dos iPads e mais da metade de todos os computadores Mac produzidos são fabricados na China.
APPLE VÊ US$ CENTENAS DE BILHÕES ESFUMAREM EM POUCOS DIAS
Desde que a guerra tarifária do governo Trump foi anunciada em 2 de abril, a Apple perdeu mais de US$ 640 bilhões em valor de mercado, e foi ultrapassada pela Microsoft como a ação mais valiosa do mundo.
Esta nova diretiva “remove por enquanto uma enorme nuvem negra sobre o setor de tecnologia e a pressão que as grandes empresas de tecnologia dos EUA estão sob (…) Elas não têm outra opção, já que a cadeia de suprimentos está essencialmente na Ásia”, disse Daniel Ives, chefe de pesquisa de tecnologia da Wedbush Securities, em um comunicado.
Essa mudança de rumo dos Estados Unidos é “a melhor notícia possível para os investidores do setor tecnológico”, ele resumiu. Sem essas isenções, “a indústria tecnológica americana teria retrocedido dez anos e a revolução da Inteligência Artificial teria desacelerado consideravelmente”, acrescentou.
Analistas apontaram as contradições das medidas de Trump e seus remendos. Produtos de alta tecnologia e alto preço agora podem ser importados da China com tarifas baixas aplicadas a eles, enquanto produtos intermediários de baixa tecnologia da China, que os produtores dos EUA precisam para seus produtos, terão tarifas super altas sobre eles.
ALÍVIO
Para o Wall Street Journal, “as isenções provavelmente serão um grande alívio para os fabricantes de eletrônicos – mas parecem minar o esforço do presidente para mover cadeias de suprimentos de alta tecnologia para os EUA”.
Porta-voz da Casa Branca asseverou que, apesar da medida, isto é, de ter piscado de novo, Trump continua focado em incentivar as empresas a transferir a produção de volta para os Estados Unidos. “O presidente Trump deixou claro que os Estados Unidos não podem depender da China para fabricar tecnologias críticas, como semicondutores, chips, smartphones e laptops”, acrescentando que a Apple e outras empresas “estão se esforçando para transferir sua produção para os Estados Unidos o mais rápido possível”.
RECESSÃO NO RADAR
Quanto ao clima nos EUA em relação ao tarifaço de Trump e suas consequências, em uma chamada de capa o Wall Street Journal assinalou que “as mulheres jovens estão começando a proteger suas vidas contra a recessão”, acrescentando que “os maiores consumidores dos Estados Unidos estão deixando de fazer manicure e Ubers, à medida que aumentam as preocupações com a economia”.
De acordo com o JP Morgan, o risco de uma recessão subiu de 40% para 60% com a guerra tarifária, assim como de alta da inflação.
O Porto de Los Angeles, o principal terminal de contêineres dos Estados Unidos, informou que transportadoras marítimas estão cancelando viagens previstas para chegar no próximo mês, após o tarifaço. Gene Seroka, diretor executivo do porto, disse em uma coletiva de imprensa na sexta-feira (11) que 12 viagens já foram canceladas para o mês de maio, em comparação com sete no mesmo mês de 2024.
“Preparem-se. Isso vai ficar muito turbulento para nós”, ele disse. Segundo ele, varejistas e fabricantes estão reduzindo novos pedidos diante do aumento das tarifas ainda mantido sobre importações chinesas.