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[O texto abaixo foi escrito para o Seminário Nacional de Formação da Juventude Pátria Livre (JPL). Devido ao seu interesse, reproduzimo-lo aqui.]
GABRIEL ALVES (*)
Nos últimos tempos vemos como uma imensa propaganda do individualismo cresceu em nossa sociedade. A imprensa, os coaches e influencers repetem como um mantra fórmulas de sucesso para a vida: dormir menos, trabalhar mais, não folgar em nenhum dia da semana, comprar cursos e pisar com força no pescoço do próximo. Filmes mostram exemplos de pessoas que venceram na vida reaproveitando parafusos de máquinas quebradas, economizando 10 centavos por dia até conquistar sua independência financeira, ou então, do herdeiro de banco que conseguiu, por méritos próprios, seu primeiro milhão antes dos 22 anos. Isso para não falar da massiva divulgação sobre como a solução para muitos temas depende APENAS de que cada um realize sua parte, dessa maneira vamos solucionar os problemas de fome, ambientais e sociais do mundo. Tudo isso amplificado pelas redes sociais, com cortes, vídeos e podcasts que comprovam os benefícios da solitária caminhada em busca da compra do próximo curso neoliberal que vai te enriquecer em 6 semanas.
Mas, mesmo com minha vizinha doando todo ano um saco de roupas para a legião da boa vontade, a pobreza segue existindo. As pessoas dormem menos, trabalham 15 horas por dia, praticamente não convivem com suas famílias e adoecem com tamanha exploração, mas mesmo assim ficam somente com uma pequena parte da riqueza que produzem, entregando todo o resto para seu patrão. Os EUA promovem guerras por petróleo e riquezas naturais, bancos seguem lucrando bilhões, ao mesmo tempo que deixam pessoas sem casa e muitos morrem de fome no planeta, que também desperdiça toneladas de alimentos. Isso acontece, pois, ainda que a propaganda nos diga que as soluções para os problemas são individuais. A vida e a história da humanidade nos provam que só a luta coletiva pode mudar o mundo.
Como diz o próprio título do texto, os jovens reunidos em torno da JPL não são quaisquer jovens, não buscam qualquer tipo de nova sociedade e não almejam conquistar apenas algumas tímidas melhorias. Como indica o nome da própria organização, sua luta é por uma Pátria Livre, liberta das amarras e da espoliação imperialista, baseada nos princípios revolucionários que a guiam desde sua fundação e tendo como horizonte a superação da sociedade capitalista para construir em seu lugar uma nova sociedade livre da exploração de classes.
Logo, buscamos a coletividade como ferramenta de luta, almejando a construção de uma Pátria Livre, soberana e justa.
Nessa caminhada pela construção de uma sociedade diferente, a juventude cumpre papel de vanguarda. Essa ideia, já apresentada por Che Guevara em seu texto “Ser um jovem comunista” segue sendo totalmente verdadeira, ainda que para muitos soe apenas como uma agitação de propaganda. Em uma de suas frases mais famosas ele disse que “Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética” e conseguiu expressar perfeitamente em poucas palavras toda a capacidade que existe na juventude em ser solidária, de se indignar contra o que acredita ser errado e, principalmente, de sempre enxergar que a situação pode ser diferente do que é (mesmo quando todos dizem que sempre foi assim, logo, não existe solução).
Por isso, não nos faltam exemplos na história de como os jovens estiveram à frente de vários movimentos de mudança. Tanto no Brasil como em outros países. Assim aconteceu na revolução russa, em Cuba com sua juventude rebelde e nas lutas anticolonialistas que libertaram um conjunto de países africanos. Esses são alguns exemplos onde jovens se engajaram pela libertação de seus povos e nações, na histórias temos muitos outros.
No Brasil, esses exemplos são ainda mais próximos da JPL, a partir dos jovens que fizeram parte do MR8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro). Com apenas 20 e poucos anos a ditadura impôs a eles uma difícil alternativa: se submeter a agenda de destruição nacional autoritariamente aplicada; ou resistir a ela, se necessário dando a própria vida para defender seu país. Mesmo muito novos, escolheram resistir. E corajosamente se dedicaram a essa batalha pela liberdade de seu povo. Dessa geração dois nomes foram homenageados por nós na galeria de patronos da Jota, Stuart Angel e Sérgio Rubens.
No entanto, para a construção dessa batalha não basta somente coragem ou indignação, também é necessário dispor de consciência, estudo, organização e espírito coletivo. Quando pensamos no papel da juventude revolucionária isso é ainda mais necessário.
Mas, antes de qualquer coisa, é importante destacarmos bem o que deve ser realizado pela organização de juventude e pelos jovens revolucionários nessa busca pela construção de uma nova sociedade. Para isso, vejamos o que disse o grande revolucionário soviético Stalin para a União da Juventude Comunista soviética em 1924:
“A primeira contradição consiste em contrapor a União como ‘reserva’, à União, como ‘instrumento’ do Partido. Que é a União, uma reserva ou um instrumento? Uma coisa e outra. Isto é claro e já foi dito pelos próprios camaradas nos seus discursos. A União da Juventude Comunista é uma reserva, reserva composta de camponeses e de operários, da qual o Partido retira novos contingentes. Mas, ao mesmo tempo, é um instrumento, um instrumento nas mãos do Partido, que influencia as massas da juventude. Poder-se-ia dizer, mais concretamente, que a União é um instrumento do Partido, uma arma auxiliar do Partido, no sentido de que os militantes ativos da União são um instrumento do Partido para influenciar os jovens que estão fora da União. Estes conceitos não são contraditórios e não podem ser contrapostos um ao outro” (J. V. Stálin, Sobre as Contradições no Komsomol).
Ou seja, cabe a JPL dar conta de duas grandes tarefas em seu trabalho político. Ser uma “reserva”, capaz de formar e preparar jovens, com muita discussão política e estudo, para que possam cumprir tarefas dentro do partido e da luta de todos os brasileiros por sua libertação. Realizando essa ação em profunda integração com os rumos que a luta revolucionária apresenta. Em igual importância, a Jota deve buscar atuar nas mais variadas frentes de luta política para influenciar o conjunto da juventude e da sociedade, sempre municiada de seu acúmulo histórico e da necessidade de se fortalecer a organização coletiva partidária.
Por isso, creio ser de fundamental importância a realização deste Seminário Nacional de Formação que está sendo organizado para os próximos dias. Não é possível se propor a mudar o Brasil sem conhecê-lo e amá-lo profundamente. Conhecer nossa história, nossa cultura, nossos heróis e traidores; bem como os acontecimentos políticos e econômicos que nos trouxeram até aqui, nossas riquezas, potencialidades e, também, entraves que ainda mantêm nossa nação em condição de dependência em relação ao imperialismo.
O estudo é, portanto, arma fundamental para a atuação do jovem revolucionário, pois apenas ele é capaz de nos dar as ferramentas para conseguir transformar nossa pátria. Através deles teremos a consciência plena dos problemas nacionais e quais devem ser os caminhos propostos para sua superação. Mas tão importante quanto as ferramentas teóricas são as ferramentas de organização para enfrentar essa realidade. O estudo da história de luta dos povos nos mostra que apenas coletivamente encontraremos as condições para essa transformação.
Quando falamos sobre lutar coletivamente, ressaltamos que tanto a JPL quanto o partido são apenas instrumentos de luta construídos pelo povo brasileiro na batalha por sua libertação. E são, portanto, patrimônio de toda essa coletividade, sendo seus coletivos o principal espaço para formação e mobilização do conjunto da juventude. Um espaço democrático, que seja construído da mais sincera crítica e autocrítica para formulação de suas posições políticas, mas também sobre a atuação de cada um dos seus integrantes. Onde as diferenças sejam apresentadas e discutidas através do mais sincero debate, ainda que ele seja longo. Para que dessa forma seja construída uma posição a ser assumida por toda coletividade, nos marcos do centralismo democrático que sempre guiou nossa organização.
Nos dias de hoje, vivemos certamente momentos onde o imperialismo busca fortalecer cada vez mais o individualismo em nossa sociedade. Tempo onde a troca das relações sociais reais pelas virtuais, a ostentação e a defesa de que a busca pela melhoria de suas condições de vida deve apenas ser defendida por você, pois ninguém mais vai colocar esse sonho como prioridade. Em momentos de crise da humanidade, é comum que as pessoas não vejam dentro das condições comuns as possibilidades para a superação da sofrida realidade em que vivem e, por isso, o individualismo se fortalece sobremaneira. Nessa conjuntura, cabe a nós, revolucionários, transformar a vida coletiva não somente em forma de atuar politicamente, mas como base de nossa própria existência enquanto seres humanos. Como imposição da coletividade frente ao individualismo, como a busca pelo aprendizado da juventude na construção de um homem novo, completamente diferente daquele moldado pelo capitalismo em sua fase superior, onde a exploração o afasta a cada dia da humanidade e de seu igual, para existir, se justificar e potencializar, caminhando de mãos dadas com a mentira e a agressão imperialista.
Assim sendo, podemos compreender a questão posta por Stalin também nesse outro prisma. Ao apresentar a juventude como “instrumento” e “reserva” do partido, a tarefa que se coloca aos quadros que dirigem esse trabalho é a de transformar a sociedade, visando a construção de uma pátria socialista, onde a exploração do homem pelo homem não mais exista; mas também a de se revolucionar enquanto pessoa, pois para a construção dessa nova sociedade será necessário a construção desse novo homem, despojado do individualismo e capaz de colocar os valores comuns acima de qualquer outra questão. O homem que é capaz de se indignar com a injustiça cometida contra qualquer outro ser humano, ainda que não o conheça, e que se esforce a todo momento na busca pelo aprendizado, acreditando que a construção coletiva é sempre a melhor maneira de se realizar qualquer tarefa.
Lenin, em discurso ao III Congresso de Toda a Rússia da União Comunista da Juventude da Rússia, no ano de 1920, disse:
“Pois bem, ao abordar deste ponto de vista a questão das tarefas da juventude, devo dizer que essas tarefas da juventude em geral e das uniões da juventude comunista e de quaisquer outras organizações em particular poderiam exprimir-se com uma só palavra: a tarefa consiste em aprender.
“Naturalmente, isto não é mais que ‘uma só palavra’. Ela não dá ainda respostas às perguntas principais e mais essenciais: que aprender e como aprender? E aqui toda a questão está em que, juntamente com a transformação da velha sociedade capitalista, o ensino, a educação e a formação das novas gerações, que criarão a sociedade comunista, não podem ser os antigos” (LENIN, V.I., As Tarefas das Uniões da Juventude).
Ao destacar que a formação das novas gerações não pode ser constituída pelos mecanismos antigos, Lenin, obviamente, se refere as condições da Rússia após a Revolução de 1917 e de como a juventude nos marcos do socialismo seria formada com base nos valores fundamentais da nova sociedade. E, a partir dessa formulação, gostaria de abordar mais duas questões. A primeira é a de que os jovens de hoje em dia, mesmo os que já fazem parte das fileiras da JPL, foram formados e vivem nos marcos de uma sociedade capitalista. Dessa forma, são alvo constante de uma carga massiva de propaganda ideológica que busca reforçar os valores cada vez mais individualistas da sociedade, inclusive os mais destacados e experientes quadros. A baixa vigilância, a despolitização e a perda da perspectiva revolucionária devem ser alvo constante de enfrentamento, pois podem levar ao egoísmo que pode colocar nossas opiniões pessoais acima de tudo, desprezando a organização e sua disciplina.
A segunda é que a melhor resposta que pode ser dada como enfrentamento a essa realidade é reforçar a formação e o estudo dentro das fileiras da Jota, agindo cada dia mais de maneira coletiva. Nesse sentido, cabe a JPL reforçar ainda mais sua vida coletiva, como combate a essa situação. Tendo seus coletivos cada vez mais fortalecidos e com vivo funcionamento, desde sua direção nacional até os organismos de base. Sendo sua organização um contraponto ao individualismo, formando e preparando seus filiados com princípios distintos daqueles que imperam na sociedade capitalista vigente.
Contra a alienação a que tentam nos submeter, devemos responder com mais estudo e consciência; contra a exploração e a injustiça, respondemos com nossa indignação e capacidade de mobilização; para a tentativa de nos dividir e ao individualismo tão propagandeado, nossa resposta é a vida coletiva cada vez mais forte e o aumento de nossa organização.
Por último, gostaria ainda de falar sobre mais um tema. Uma organização revolucionária, como a JPL, deve ter como princípio a luta política/ideológica ativa, como forma de construção de sua unidade interna. Sendo essa questão assumida por toda sua militância. Não nos interessa a harmonia sem princípios ou a falsa unidade.
O líder chinês Mao Tsé-Tung alertou para esse desvio em seu texto “Contra o Liberalismo”, onde discute a importância do reforço da luta política dentro da vida coletiva. Segundo ele, uma das formas de liberalismo se manifesta quando “em privado entregamo-nos a críticas irresponsáveis, em vez de fazermos ativamente sugestões à organização. Nada dizemos de frente às pessoas, mas falamos muito pelas costas; calamo-nos nas reuniões, e falamos a torto e a direito fora delas. Desprezamos os princípios de vida coletiva e deixamo-nos levar pelas inclinações pessoais”.
Ou então, mais adiante, quando “não obedecemos a ordens, colocamos as nossas opiniões pessoais acima de tudo. Não esperamos senão atenções por parte da organização e repelimos a disciplina desta”. Para ele, “os liberais consideram os princípios do Marxismo como dogmas abstratos. Aprovam o Marxismo mas não estão dispostos a pô-lo em prática, ou a pô-lo integralmente em prática; não estão dispostos a substituir o liberalismo pelo Marxismo (…) O liberalismo é uma manifestação do oportunismo e está em conflito radical com o Marxismo”.
Portanto, cabe aos jovens revolucionários trazer para sua prática o estudo, a disciplina e a organização coletiva. Sendo a Jota um instrumento de luta que se aprimore a cada dia, capaz de mudar tanto o país quanto a cada um dos jovens que se organiza em suas fileiras.
Nos últimos anos não foram poucos os desafios que se apresentaram. A partir da incorporação do PPL ao PCdoB, a JPL tem trabalhado intensamente na direção de fortalecer o partido, se integrando na sua ação através de uma ação unitária. Esse esforço foi de grande importância para derrotar o bolsonarismo e garantir a democracia no Brasil. Trabalhamos intensamente para organizar uma ampla frente capaz de resistir a esses ataques, em sintonia com o PCdoB e a orientação partidária, buscando sempre mobilizar a juventude brasileira contra os ataques da extrema direita no período. O resultado dessa atuação foi a grande vitória obtida nas eleições de 2022.
Essa importante vitória aconteceu por uma estreita margem, demonstrando o acerto do posicionamento amplo e decidido contra o fascismo. Por isso, se enganam aqueles que acreditam que Bolsonaro e sua quadrilha são cartas fora do baralho, em especial após a eleição de Trump nos EUA. E é nessa conjuntura que a importância de uma organização patriótica e revolucionária é ainda maior, para isso devemos crescer em trabalho, organização e em consciência, pois só assim alcançaremos nossos objetivos. Vamos à luta, camaradas, o Brasil e sua juventude precisam mais do que nunca de nós!
(*) ex Coordenador Nacional da JPL e Secretário adjunto de juventude do PCdoB