Sobreviventes de Hiroshima rejeitam retomada de testes nucleares pelos EUA

O grupo japonês de sobreviventes dos bombardeios nucleares dos EUA a Hiroshima e Nagasaki, “Nikon Hidankio”, condenou a ordem de Trump de retomada de testes de armas nucleares, classificando-a como “totalmente inaceitável”, de acordo com um documento divulgado na sexta-feira (31).

O “Nihon Hidankyo”, um movimento dos hibakusha (sobreviventes), enviou à embaixada dos EUA no Japão uma carta de protesto ao anúncio feito por Trump na véspera. Na carta, Hidankyo, vencedor do Nobel da Paz em 2024, enfatizou que a ordem “contradiz diretamente os esforços das nações em todo o mundo que se empenham por um mundo pacífico, sem armas nucleares, e é totalmente inaceitável”.

O prefeito de Nagasaki também condenou a ordem de Trump, afirmando que ela “despreza os esforços de pessoas em todo o mundo que têm suado sangue e lágrimas para realizar um mundo sem armas nucleares”.

Para o prefeito de Hiroshima, Shiro Suzuki, a retomada dos testes tornaria Trump indigno a premiações, referindo-se à intenção da primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, de indicar o líder norte-americano para o Nobel da Paz, aliás já extremamente desmoralizado com a recente premiação da golpista venezuelana Corina Machado.

Cerca de 140.000 pessoas morreram em Hiroshima e outras 74.000 em Nagasaki, muitas delas devido aos efeitos da exposição à radiação. Outros dois grupos de sobreviventes sediados em Hiroshima também se manifestaram, afirmando que “protestam veementemente e exigem firmemente que tais experimentos não sejam conduzidos”.

Trump determinou, pelas redes sociais, a retomada dos testes, suspensos há mais de 30 anos, alegando que o Departamento de Guerra foi instruído a iniciar os testes de armas nucleares “em igualdade de condições”, em resposta aos programas de testes “de outros países”.

A ordem veio a público minutos antes de Trump se encontrar com o presidente chinês Xi Jinping, durante uma cúpula na Coreia do Sul.

No entanto, não ficou claro se o presidente se referia ao teste de sistemas de armas ou à condução de explosões de teste reais — algo que os Estados Unidos não realizam desde 1992. A última explosão de teste nuclear dos EUA ocorreu em setembro daquele ano: uma detonação subterrânea de 20 quilotons.

A comunidade internacional reagiu ao anúncio. O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, classificou os planos de retomada como “regressivos e irresponsáveis”, além de representar “uma séria ameaça à paz e segurança internacionais”.

As declarações de Trump vieram na esteira de anúncios russos sobre testes bem-sucedidos de lançamento do míssil de cruzeiro Burevestnik e do drone submarino Poseidon, que podem vir a ser usados como transportador de ogiva nuclear.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, esclareceu que os exercícios russos recentes “não podem, de forma alguma, ser interpretados como testes nucleares”.

A China, por meio de seu porta-voz Guo Jiakun, fez um apelo para que Washington “cumpra seriamente” a proibição global de testes nucleares. Os EUA são signatários do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT) desde 1996, e qualquer teste de bombas constituiria uma violação flagrante desse acordo.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, reiterou que “o teste nuclear nunca pode ser permitido sob nenhuma circunstância”.

O anúncio de Trump ocorre poucos meses antes do último grande tratado de controle de armas nucleares entre os EUA e a Rússia – o Novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas, ou Novo START – expirar em fevereiro de 2026.

O presidente russo Vladimir Putin propôs aos EUA que os limites quantitativos determinados pelo tratado sejam respeitados pelo período de um ano por ambas as partes, para propiciar tempo a que um novo acordo seja discutido. Apesar de um comentário em princípio favorável de Trump, até agora Moscou segue aguardando uma resposta oficial.

Durante o seu primeiro mandato, Trump retirou os EUA do Tratado INF de proibição de mísseis nucleares intermediários (alcance entre 500-5000 km), assinado por Reagan e Gorbachev em 1987, para debelar a ameaça de guerra nuclear no teatro europeu. Levando Moscou a reagir de forma espelhada.

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