“Eu não estou conseguindo ver direito por causa do arame que está dificultando”, diz o soldado, enquanto acompanha pela mira telescópica de sua arma o jovem palestino que participa da manifestação do Grande Retorno, conforme mostra o vídeo que ele mesmo filmou. O clima entre os soldados da tropa israelense é de festa.
Após o disparo, que derrubou o palestino morto, um dos soldados exclama gargalhando: “que tiro certeiro!” e pergunta se o assassino conseguiu filmar. O atirador comemora: “Uau! Claro que eu filmei! Filhos da p***! Filmei mesmo!”
O vídeo passou a circular nas redes sociais e sites de notícias desde a terça-feira (10). Sua divulgação se deu pouco depois do massacre perpetrado por centenas de soldados israelenses, que obedecendo as ordens do Estado Maior, abriram fogo contra uma multidão de 50 mil palestinos na fronteira da Faixa de Gaza, no dia 30 de março. Desde então, o número de mortos subiu de 17 para mais de 30, deixando pelo menos 2.000 feridos.
Aliás, a rédea solta na matança está expressa na reação do próprio premiê israelense, que, no dia em que as notícias do massacre começaram a pipocar, louvou a “atuação” dos soldados e declarou que eles “fizeram o que tinham de fazer”.
O governo israelense também negou-se a atender à solicitação do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que pediu uma investigação independente e monitorada por órgãos internacionais, inclusive a ONU, alegando que matar civis palestinos em manifestação pacífica como se em um safári, é proteção dos cidadãos: “Israel age vigorosamente com determinação para proteger a sua soberania e a segurança dos seus cidadãos”.
O Ministro da ‘Defesa’, Avigdor Lieberman, também comemorou o crime divulgado na terça e afirmou que o atirador merece uma medalha, já que suas ordens eram de disparar contra qualquer manifestante próximo da cerca que divide a fronteira entre Israel e Gaza. Enquanto os soldados atiravam contra os palestinos próximos da cerca, estes protestavam queimando pneus, na tentativa de impedir a visão dos atiradores.
De acordo com comunicado da ONG israelense “Quebrando o Silêncio” (Breaking the Silence), integrada por militares contrários a intervenção militar na Faixa de Gaza, os “franco atiradores receberam ordens para disparar e matar os manifestantes”, mesmo se desarmados.