O soldado disse que matou o palestino porque “ele usava luvas e saiu correndo, podia ser um terrorista”
“Eyad Hallaq nem mesmo sabia que existiam árabes e judeus neste país”, disse seu primo, o Dr. Hatem Awiwi, ao lamentar a perda
Com vários tiros nas costas, disparados da arma de um soldado israelense, um fuzil M-16, faleceu Eyad Hallaq, de 32 anos, palestino de Jerusalém e que frequentava e trabalhava em uma escola para pessoas com necessidades especiais.
O soldado, cujo nome não foi revelado, disse que suspeitou de Eyad por ele “usar luvas” e “carregar um objeto” que lhe pareceu “suspeito”.
O soldado acrescenta que ordenou que ele parasse mas ao invés disso ele saiu correndo.
O soldado que matou Eyad acabara de ingressar em serviço militar na Jerusalém árabe (anexada a Israel de forma unilateral pelo governo Menachem Begin, em 1980) e estava acompanhado de outro, um oficial veterano, que disparou para o ar e pediu ao mais novo parasse de atirar sem ser atendido, segundo informam os jornalistas Nir Hasson e Bar Peleg, em matéria publicada no dia 31 de maio no jornal Haaretz.
Familiares e conhecidos de Hallaq foram unânimes em afirmar que Eyad “era incapaz de causar mal a ninguém”.
O corpo de Eyad foi levado para um IML israelense e, apesar de seus familiares exigirem que um patologista por eles indicado estivesse presente durante a autópsia, isso lhes foi negado.
“Ele frequentava a escola diariamente e nunca teve qualquer problema com a polícia. De manhã recebemos um chamado da direção da escola nos dizendo que nosso filho tinha sido morto”, declarou o pai de Eyad.
Pouco depois, relata ainda o pai, policiais e membros do Shin Bet (polícia secreta israelense) chegaram em sua casa e sem dizer nada entraram e começaram a fazer uma busca. “Quando perguntamos o que estava acontecendo, fomos xingados”, acrescentou.
“Isso é um assassinato. Exigimos que estes policiais respondam perante a Justiça. De acordo com testemunhas, cerca de 10 balas foram disparadas contra ele”, declarou o advogado que representa a família.
Houve protestos contra o assassinato em Jerusalém e Yaffo (a antiga cidade árabe vizinha a Tel Aviv).
Ayman Odeh, deputado que preside a Lísta Árabe que concorreu às eleições para o parlamento israelense, o Knesset, expressou suas condolências à família e acrescentou que “temos que lutar contra a cobertura que a polícia com certeza fornecerá aos soldados e para que o responsável vá para a prisão”.
“Temos que nos lembrar que foi o soldado que apertou o gatilho, mas foi a ocupação que carregou a arma. Justiça de verdade para a família de Hallaq e todo o povo palestino quando este tiver liberdade e independência”, disse ainda Odeh.
O deputado Nitzan Horowitz, que preside o partido Meretz enviou uma carta para o chefe de polícia e para o ministro da Segurança Pública exigindo que o assassinato seja investigado. Já a jornalista Merav Michaeli, eleita deputada pelo Partido Trabalhista, afirmou que “a polícia existe para proteger as pessoas e não para atirar nelas”.
O secretário-geral para Jerusalém do partido Fatah, Shadi Mutour, declarou que “Hallaq foi executado por soldados sedentos de sangue cujo objetivo é implementar uma política de terror e intimidação contra os palestinos de Jerusalém Oriental, mas esse sadismo de quem se sente feliz em apertar o gatilho só fará com que os palestinos se aferrem mais a sua terra e a seus direitos”.
NATHANIEL BRAIA