Uma foto publicada pelo jornal inglês Guardian que mostra um soldado australiano das forças especiais bebendo cerveja da perna protética arrancada de um afegão morto, é a mais recente prova da barbárie cometida nos 19 anos de ocupação do país da Ásia Central pelos norte-americanos e seus cúmplices.
Crimes de guerra cometidos pelas tropas especiais australianas vieram a público depois de longamente abafadas e a foto é um detalhe a mais dessas Mi Lais.
A foto, de acordo com o jornal inglês, foi tirada em um bar (não-oficial) das tropas especiais australianas, que funciona dentro da base de Tarin Kowt, a capital da província de Uruzgan.
Outras fotos demonstram que esses soldados australianos tinham uma verdadeira fixação pela perna protética. Um posou com a prótese amarrada à mochila; em outra, são dois os que se divertem exibindo o ‘troféu’. De acordo com o Guardian, há fotos de soldados dançando com a prótese.
Supostamente a prótese foi tirada de um “combatente talibã” – que é como os mercenários costumam classificar cada civil que assassinam – executado em abril de 2009 no decorrer de um ataque que os australianos desencadearam em Uruzgan.
A subtração da prótese como troféu de um suposto combatente morto e posterior manipulação, são, por si só, pela lei internacional crime de guerra – e são um indício muito forte de que o que houve, efetivamente, foi mais uma execução sumária de um civil, apesar de ser deficiente físico, que estava na hora errada, no lugar errado – isto é, no caminho dos mercenários australianos a soldo de Washington.
Na Austrália, a inconveniência das fotos foi respondida com o silêncio ostensivo daqueles que enviaram os mercenários ao Afeganistão. No máximo, um ex-oficial australiano, agora deputado trabalhista, Luke Gosling, observou que as imagens eram “preocupantes” e indicavam uma “conduta problemática”.
Enquanto olhavam para o outro lado quanto à barbárie flagrada, os líderes australianos estavam muito ocupados vociferando contra um tweet de um porta-voz do serviço diplomático chinês, na sua conta pessoal, de condenação dos crimes de guerra no Afeganistão recentemente admitidos pelo Relatório Brereton do exército australiano, e que incluía uma imagem, criada por um artista visual, de um soldado australiano com uma faca no pescoço de uma criança afegã.
O Relatório Brereton reconheceu que as forças especiais australianas massacraram pelo menos 39 civis e prisioneiros políticos afegãos entre 2009 e 2013, além de terem espancado, seviciado e torturado muitos mais.
Sendo que um desses crimes de guerra oficialmente admitidos pelo governo australiano consistiu em soldados das forças especiais degolarem dois garotos de 14 anos.
Segundo o establishment australiano, seria “repugnante” – a ilustração de denúncia do crime de guerra dos australianos contra dois garotos de 14 anos, não o crime de guerra.
O governo de Canberra passou a “exigir” que a China “pedisse desculpas” e que o Twitter censurasse a postagem, como uma ‘fake new’. Chegaram até mesmo a alegar que era uma postagem “semelhante às do Estado Islâmico”.
De acordo com os depoimentos – sob anonimato – de soldados ao Guardian, a prótese arrancada do morto teria virado uma espécie de “mascote doentia”, que levavam para aonde quer que fossem transferidos. Oficiais superiores certamente teriam visto a perna, por também freqüentarem o ‘bar’.
Nos 75 anos da criação do Tribunal de Nuremberg, o aparentemente crime menor de soldados treinados para a psicopatia militante acaba por ter um relevo especial, e revelador, sobre o que vem sendo esses 19 anos de ocupação do Afeganistão.
No “Braços da Mulher Gorda” – o nome do bar improvisado na base australiana -, a prótese arrancada de um afegão deficiente físico executado sumariamente merecia invulgar destaque. Era exibida sob um cabeçalho em alemão, “das Boot”. Junto, em lugar de destaque, uma cruz de ferro, a condecoração militar do Terceiro Reich.
Performance cuja única explicação é a identificação das tropas australianas de elite com a soldadesca nazista.
Não é a primeira vez que esse tipo de preferência aparece. Uma foto de 2012, que vazou para a ABC (o equivalente australiano da BBC) mostra dois soldados das forças especiais segurando uma bandeira confederada, ornada com as palavras “orgulho do Sul”.
Mais explícita ainda é a imagem, exibida pela ABC, em 2018, em que os soldados australianos desfilam pela província afegã ocupada num veículo ornado com uma bandeira nazista.
Extremistas australiano passaram a exigir do primeiro-ministro Morrison que “peça desculpas pela sua linguagem e de seus generais que condenaram todos os nossos homens no Afeganistão, os melhores dos melhores, à acusação de comportamento criminoso”.
O governo australiano até aqui não anunciou quaisquer plano para indenizar as famílias das vítimas e ninguém foi acusado de nada ainda. O soldado que foi registrado em foto bebendo cerveja direto da perna protética continua servindo no exército australiano. Dez foram afastados das forças especiais e 25 estão sob investigação de policiais federais. Nenhum dos criminosos de guerra flagrados tiveram as condecorações cassadas até agora.