
Desfraldando bandeiras com símbolos de unidades militares responsáveis pela execução de palestinos em Gaza, a dupla de israelenses participava de um festival de música quando foi capturada pelos policiais
Grupos de direitos humanos da Bélgica informaram que soldados das forças de ocupação de Israel, cujas tropas são responsáveis pela execução desde outubro de 2023 de mais de 59 mil palestinos na Faixa de Gaza, foram presos na cidade de Boom, nesta segunda-feira (21), quando participavam de um festival de música eletrônica fazendo apologia a uma unidade militar do regime.
Os dois jovens agitavam uma bandeira da Brigada Givati, unidade militar israelense comprometida com o terrorismo de Estado aplicada pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, quando foram detidos.
O interrogatório foi realizado sob uma nova disposição do Código de Processo Penal da Bélgica – em vigor desde abril de 2024 -, que permite a investigação de violações no exterior se os atos se enquadrarem em tratados internacionais ratificados pelo país europeu, incluindo as Convenções de Genebra de 1949 e a Convenção das Nações Unidas contra a Tortura de 1984.
A denúncia foi protocolada pela Fundação Hind Rajab (HRF) e pela Rede Global de Ação Legal (GLAN) neste fim de semana, em que apontaram “grandes violações do direito internacional humanitário”, ações que têm sido “cometidas na Faixa de Gaza por dois membros do Exército israelense”.
“Nossas organizações dão as boas-vindas a este avanço com determinação e humildade. Continuaremos a apoiar os processos em curso e apelamos às autoridades belgas para que prossigam a investigação de forma plena e independente. A justiça não deve parar por aqui e estamos comprometidos em vê-la até o fim”, acrescentaram.
Sediada na Bélgica, a HRF tem feito campanha por ações judiciais contra soldados israelenses por crimes de guerra. A entidade homenageia com seu nome uma menina palestina de seis anos executada pelos israelenses enquanto fugia do enclave com sua família no início dos bombardeios. “Esta é a primeira vez que um país europeu reconhece a jurisdição universal contra soldados israelenses e age de forma contundente, prende-os e os leva à delegacia de polícia para interrogá-los”, comemorou.
Conforme a Al Jazeera, desde sua formação no ano passado, a HRF apresentou dezenas de queixas em mais de dez países, visando militares israelenses de baixa e alta patente. Na avaliação da entidade, os recentes acontecimentos representam “um ponto de virada na busca global por responsabilização”.
Para a Fundação Hind Rajab, “num momento em que demasiados governos permanecem em silêncio, esta ação envia uma mensagem clara: provas credíveis de crimes internacionais devem ser enfrentadas com resposta legal – não com indiferença política”.
Neste domingo (20), o Programa Alimentar Mundial (PMA) das Nações Unidas acusou Israel de “usar tanques, atiradores de elite e outras armas de fogo” para disparar contra uma multidão de palestinos famintos em busca de comida. Conforme as autoridades do PMA, logo após cruzar a fronteira norte de Zikim em direção a Gaza, seu comboio de 25 caminhões encontrou grandes multidões de civis esperando por suprimentos de comida, quando foram atacados. O incidente resultou na perda de “inúmeras vidas”, com muitos civis sofrendo ferimentos graves.
As detenções aconteceram um dia após o rei Philippe da Bélgica descrever a situação humanitária em Gaza como “uma vergonha para a humanidade” e reiterar o apelo da ONU para pôr “um fim imediato a esta crise insuportável”.