O jornalista Julian Assange é perseguido e caluniado por Washington há anos por ter exposto os crimes de guerra dos EUA no Iraque e Afeganistão – inclusive a execução de dois jornalistas por um helicóptero militar – assim como a tortura em Guantánamo
Stella Assange, esposa do preso político Nº 1 do mundo, Julian, pediu a liberdade para seu marido e fundador do WikiLeaks, cuja extradição para os EUA é “iminente”, em um ato em Londres, no Westminster Central Hall, na semana passada.
O evento é parte da mobilização para deter a entrega de Assange ao regime de Biden, aos EUA, onde o aguardam a famosa ‘corte da CIA’ na Virginia e 175 anos de cárcere, sob a iníqua ‘lei de espionagem’, após um juiz britânico ter-lhe negado o direito de apelar à Suprema Corte britânica.
Julian Assange foi perseguido durante uma década por ter exposto os crimes de guerra dos EUA no Iraque e Afeganistão – inclusive a execução, por um helicóptero de guerra, de dois jornalistas –, assim como a tortura em Guantanamo. Foi ainda alvo de uma operação da CIA de destruição de reputação, além de por duas vezes a alta cúpula de Washington ter estudado sua eliminação física, e com a CIA até mesmo o vigiando durante seu asilo na embaixada do Equador, como a justiça espanhola investiga.
O ato contou também com a presença do ator britânico Russel Brand e do jornalista norte-americano Matt Taibbi e foi seguido, no sábado, por um protesto na Praça do Parlamento. Aos presentes, Stella denunciou que Julian Assange “está em uma posição muito precária agora” ao sequer lhe ser permitido “apelar ao Supremo Tribunal”.
Assange havia entrado com o pedido de apelação em setembro do ano passado, mas, sublinhou Stella, “um único juiz, em uma decisão de três páginas, em que não entra em nenhum dos argumentos, diz que não pode recorrer”.
“Ele ainda tem uma última oportunidade de ir a dois juízes diferentes da Suprema Corte. Mas a situação agora é crítica”, alertou a esposa de Assange.
Stella salientou que Assange, como editor, recebeu informações de uma fonte, Chelsea Manning, um soldado dos EUA no Iraque. “Um analista de inteligência que testemunhou, que estava lendo relatórios mostrando informações sobre assassinatos de civis na casa das dezenas de milhares, de mortes de civis no Iraque e no Afeganistão”.
“Evidências de crimes de guerra, incluindo um vídeo que foi divulgado como ‘Assassinato Colateral’ em 2010, mostrando como um helicóptero abateu civis, incluindo dois jornalistas, feriu gravemente duas crianças e destruiu o veículo de resgate que veio tentar levar um dos jornalistas moribundos para um hospital e matou todos eles também, exceto as duas crianças, que sobreviveram porque o pai jogou o corpo em cima delas. Elas ficaram gravemente feridas, mas sobreviveram”, destacou Stella.
“Julian e WikiLeaks colocaram isso em domínio público e os registros de dezenas de milhares de assassinatos de civis no Iraque e no Afeganistão; evidências de tortura e de como o governo dos EUA estava usando suas embaixadas para inibir e inviabilizar as investigações na Alemanha, Espanha e Itália dos voos de ‘rendição’ da CIA, para impedir que os responsáveis fossem levados a julgamento, para impor a impunidade”, ela reiterou.
“E o caso contra Julian é de impunidade contra a responsabilização. E o fato é que Julian está preso porque publicou a verdade, porque expôs a criminalidade do país que está tentando extraditá-lo”, afirmou Stella. E acrescentou: “esse país também conspirou para assassiná-lo quando Pompeo era chefe da CIA; alguém foi responsabilizado?”
“Há anos há uma campanha para difamar Julian, a fim de abrir caminho para sua prisão. Julian é um símbolo. Ele é um impedimento. Ele é uma mensagem para todos os jornalistas não publicarem a verdade”, advertiu Stella.
“Não publique a verdade, pois isso irrita pessoas suficientemente poderosas, porque elas virão atrás de você”. Essa é a mensagem geral que “está sendo enviada. Temos que lutar”, convocou.
Stella conclui, chamando a uma ampla mobilização para barrar a extradição de Assange e impedir que uma farsa jurídica seja encenada por Washington para moer o jornalismo, a verdade e os direitos humanos.
“Ele está enfrentando 175 anos nos EUA sob a Lei de Espionagem. [No ‘julgamento’] não há defesa do interesse público. Ele não pode dizer por que publicou o que publicou. Ele não pode dizer que foram crimes de guerra, que o governo dos Estados Unidos foi responsável. Ele não tem defesa. A última defesa são pessoas decentes ao redor do mundo defendendo a verdade”.