STF condena por unanimidade núcleo golpista do plano “Punhal Verde”

Ministro Flávio Dino conduziu o julgamento na Primeira Turma (Foto: Antonio Augusto - STF)

Núcleo dos “kids pretos” arquitetou plano para matar Lula, Alckmin e Moraes. Integrantes das Forças Especiais e agente da PF recebem penas de até 24 anos. Absolvição do general Theophilo é a primeira desde o início dos julgamentos

A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal), condenou nesta terça-feira (18), por unanimidade, 8 militares das Forças Especiais — conhecidos como “kids pretos” — e 1 agente da PF (Polícia Federal) por participação na tentativa de golpe de Estado de 2022 para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder.

Trata-se, segundo a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) do “núcleo 3”.


Também por unanimidade, os ministros absolveram o general Estevam Cals Theophilo por falta de provas, e configurou a primeira absolvição desde o início da análise da trama golpista.

As penas variam de 1 ano e 11 meses, em regime aberto, a 24 anos de prisão, em regime fechado. O grupo deverá pagar ainda R$ 30 milhões de indenização solidária, pelos danos causados às sedes dos Três Poderes — Executivo, Legislativo e Judiciário.

Votaram com o relator, Alexandre de Moraes, os ministros Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Flávio Dino, presidente da Turma.

NÚCLEO MILITAR

Segundo a PGR, o núcleo militar era responsável pelas “iniciativas mais violentas” da organização criminosa. Usando conhecimento tático especializado, o grupo buscava criar caos social, neutralizar autoridades e garantir condições para decretar medidas de exceção.

A denúncia aponta que o grupo chegou a planejar — ainda que sem execução — a morte do presidente Lula (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, além de tentar operar os chamados Planos Punhal Verde-Amarelo e Copa 2022.

O objetivo era matar estas autoridades.

Para a maioria dos ministros, houve intenção clara de golpe, frustrada pela falta de adesão do Alto Comando das Forças Armadas.

PORQUE O GENERAL FOI ABSOLVIDO

A absolvição do general Theophilo ocorreu porque as únicas evidências contra ele eram a delação de Mauro Cid e mensagens no celular do próprio militar.

Embora o encontro entre Bolsonaro e o general tenha sido confirmado, ambos negaram conteúdo golpista.

Moraes afirmou que não é possível condenar apenas com prova produzida por colaborador, sem confirmação independente, e citou jurisprudência pacífica sobre dúvida razoável.

ENTENDIMENTO DO STF

Moraes reforçou que as provas contra os demais militares são “fartas” e demonstram que eles integraram núcleo estratégico já condenado em outros julgamentos, incluindo o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro e generais de alta patente.

Cármen Lúcia lembrou que tentativas de ruptura institucional no Brasil, historicamente, surgiram das bases militares, não da cúpula.

Flávio Dino afirmou que o País chegou “à beira do precipício” e classificou os planos como de “altíssima reprovabilidade penal”.

Os ministros também rebateram o argumento de que, por não estarem em Brasília no 8 de janeiro, os militares não poderiam ser responsabilizados. Para o STF, o golpe “não é um retrato, é um filme”.

Isto é, não se trata de ações ou inações isoladas que desfecharam a trama, que culminou com o 8 de janeiro de 2023. Até porque, tudo começou ainda em 2022, ainda, sob Bolsonaro no comando da Nação.

QUEM FOI CONDENADO

Condenações integrais – regime inicial fechado:

• Hélio Ferreira Lima (TC) – 24 anos;

• Rafael Martins de Oliveira (TC) – 21 anos;

• Rodrigo Bezerra de Azevedo (TC) – 21 anos;

• Wladimir Matos Soares (PF) – 21 anos, com perda do cargo;

• Fabrício Moreira de Bastos (cel.) – 16 anos;

• Bernardo Romão Corrêa Netto (cel.) – 17 anos; e

• Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros (TC) – 17 anos.

Condenações mais brandas – com possibilidade de acordo:

• Ronald Ferreira de Araújo Júnior (TC) – 1 ano e 11 meses; e

• Márcio Nunes de Resende Júnior (cel.) – 3 anos e 5 meses

Absolvido:

• Estevam Cals Theophilo (general da reserva)

PRÓXIMOS PASSOS

Publicação do acórdão – STF irá publicar o acórdão, documento que consolida votos, fundamentos e resultado do julgamento. Só após essa publicação começam a correr os prazos para novos recursos.

Possíveis recursos dos réus -Condenados podem apresentar: Embargos de Declaração – recursos. Servem para pedir esclarecimentos sobre eventuais omissões, contradições ou obscuridades no acórdão. Não alteram o mérito, salvo situações excepcionais.

Habeas Corpus – Defesas podem tentar levar questionamentos procedimentais ou constitucionais às demais instâncias do STF.

Execução das penas -Após o fim dos recursos internos:

• Réus com penas em regime fechado serão conduzidos ao cumprimento imediato.

• Agente da PF condenado perderá formalmente o cargo após trânsito em julgado.

• Réus com penas brandas poderão negociar Acordo de Não-Persecução Penal com o Ministério Público, caso confessem.

Cobrança da indenização – O valor de R$ 30 milhões fixado como indenização solidária será executado:

• Via procedimentos de bloqueio de bens, contas e patrimônios; e

• De responsabilidade conjunta dos 9 condenados.

Prosseguimento de outros núcleos da trama golpista – O julgamento do núcleo militar é parte de uma série de processos: Primeira Turma e o plenário ainda têm dezenas de réus pendentes.

Efeitos institucionais e militares – As sentenças podem repercutir em conselhos disciplinares internos das Forças Armadas. Os militares condenados em regime fechado tendem a perder patente e posto, em processo posterior.

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