“Ao subir a taxa de juros, sobem os custos do carregamento da dívida pública, que é passivo do Estado e ativo do setor privado”, afirma o economista Lara Resende
O economista André Lara Resende, um dos criadores do Plano Real, combateu o aumento da taxa de juros implementada pelo governo Bolsonaro com o pretexto de combater a inflação. Segundo ele, algum aumento da taxa de juros poderia fazer sentido quando a alta de preços é resultado de pressão de forte demanda agregada, o que não é o caso atual.
Na opinião de Resende, a alta de juros para controle da inflação pela qual passa hoje o país é “questionável”, com custo para emprego, investimentos e crescimento econômico, além de ser um elemento “destruidor de equidade”.
A taxa básica de juros subiu para 7,75% ao ano, maior patamar desde 2017, e o Brasil voltou a ocupar o primeiro lugar no ranking dos países com os juros reais mais altos do mundo. O índice de inflação, medido pelo IPCA, teve a maior alta para o mês de outubro desde 2002, em 12 meses chegou a 10,67%.
Para o economista, a disparada da inflação é resultado da pandemia e da saída da crise sanitária. Houve uma desorganização de cadeias produtivas internacionais, com alguns setores que sofreram pressão de demanda muito grande. Lara Resende citou os portos nos Estados Unidos, com capacidade saturada reveladora das limitações logísticas globais, e a pressão de preços vinda da alta de commodities e produtos energéticos, que subiram no mundo inteiro.
Segundo Resende, não é uma clássica inflação de demanda, mas sim de alta de preços provocada por gargalos específicos. Nesse sentido, diz ele, é “altamente questionável e equivocada” a ideia de que se consiga combater a inflação com o aumento de juros, o que traz ainda custos para crescimento e investimento.
“Ao subir a taxa de juros, sobem os custos do carregamento da dívida pública, que é passivo do Estado e ativo do setor privado”, afirma o economista. Quando se sobe a taxa de juros, há transferência de recursos do Estado para detentores da dívida pública. De acordo com Lara Resende, a cada ponto percentual de alta nos juros há transferência de 0,8 ponto percentual do PIB para os agentes superavitários do setor privado que detêm a dívida pública. A alta de juros, portanto, segundo Lara Resende, “é destruidora da equidade e concentradora de riqueza”.
O ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) defendeu que é fundamental dar sentido correto aos gastos públicos, de forma a aumentar a capacidade produtiva, com investimentos em infraestrutura, educação, treinamento profissional, tecnologia e recursos renováveis.
As declarações foram feitas durante audiência pública na Câmara dos Deputados, na quinta-feira (18), sobre “A teoria monetária moderna e a dívida pública” promovida pelo Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Casa.
Com informações do Valor