Na segunda-feira passada (20), dia que expirou o autoproclamado terceiro programa de “ajuda financeira” da Troika (Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e União Europeia) para a Grécia, o primeiro-ministro Alexis Tsipras anunciou sua decisão de cavar bem fundo no poço da submissão e transformar seu governo numa caixa de ressonância e de registro das decisões tomadas pelos credores. Uma sujeição, particularmente, à Alemanha, que fez com que, após oito anos, a economia grega fosse reduzida em 26%, o ganho real dos salários despencasse 30%, o desemprego afligisse 20% dos trabalhadores e a dívida pública fosse elevada a 180% do Produto Interno Bruto (PIB), a mais alta da zona do euro.
A partir do que foi informado por Tsipras, “as feridas da crise e o trauma da longa austeridade”, mantida com a desregulamentação das relações de trabalho e a deterioração dos direitos dos trabalhadores, não só permanecerão como irão se agravar, já que, entre outras aberrações, a Grécia ficará obrigada a atingir um superávit primário – recursos públicos desviados das áreas sociais para os bancos – de 3,5% de seu PIB até 2022, e de 2,2% até 2060. Um país cambaleante, completamente fragilizado pela desestruturação do Estado, também precisará implantar um sistema de privatizações e vender duas dezenas de portos, aeroportos e empresas nacionais aos cartéis e especuladores para fazer caixa ao estrangeiro.
RETROCESSO
Como se a tragédia atual fosse pouca, o presidente do Banco Central, Giannis Stornaras, sustentou a continuidade da política antipátria e antipovo, defendendo a aceleração do retrocesso, pois ainda “nos falta um longo caminho a seguir”. “Se não se cumprem as medidas de austeridade, entre elas novos cortes nas aposentadorias, o país não conseguirá a liquidez nos mercados a patamares de juros razoáveis”, ressaltou Stornaras, sustentando a necessidade de destruir a economia para salvá-la. O mesmo argumento utilizado pelo comandante estadunidense após bombardear e reduzir a escombros a histórica cidade vietnamita de Hue.
Segundo o insuspeito Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEDE), durante os últimos oito anos foram realizadas duras reformas, cortes sociais e aumentos de impostos para ter acesso aos euros utilizados para alegria e glória do sistema financeiro. A partir de agora, conforme os antigos tutores, Atenas terá que se “autofinanciar”, se autoflagelar, cortar na própria carne dos investimentos públicos e nas áreas sociais para alimentar a voracidade do FMI e da UE.
O diretor-gerente do MEDE, Klaus Regling, intimou a Grécia a cumprir estritamente com os termos do mal chamado “acordo”. “Somos um credor muito paciente, porém queremos nos devolvam o que foi pago. Por isso vamos seguir bem de perto os acontecimentos na Grécia”, advertiu. Regling saudou a decisão do governo grego de renunciar à soberania e vestir sem pudor a camisa-de-força, seguindo à risca o caminho delineado. Certamente, enfatizou, “há muito mais confiança que há dois anos”. Mas pediu mais, para que a confiança seja “totalmente restaurada”.
“Hoje podemos concluir com segurança o programa, sem mais prosseguimento de ajudas financeiras, já que pela primeira vez a Grécia pode sustentar-se por si mesma”, acrescentou o presidente da Junta de Governo do MEDE, Mario Centeno, parabenizando o “extraordinário esforço” e a boa cooperação do atual governo. No entanto, alertou, o organismo continuará realizando no país as missões habituais no marco da “vigilância reforçada”, em conjunto com a UE, até que o país devolva ao menos 70% do dinheiro. “A Grécia ainda encara numerosos desafíos”, acrescentou o vice-presidente da Comissão Europeia para o euro, Valdis Dombrovskis.
DÍVIDA ODIOSA
Para o cientista político e historiador belga Eric Toussaint, do Conselho da Associação pela Tributação das Transações Financeiras para ajuda aos Cidadãos (ATTAC). “a dívida cobrada da Grécia deve ser anulada, já que é ilegítima, odiosa, ilegal e insustentável”, como foi demonstrado pela Comissão para a Verdade sobre a Dívida Grega, instalada pela presidenta do parlamento do país em 2015”.
Toussaint lembrou que os 14 países da zona do euro concederam empréstimos bilaterais à Grécia, em 2010, com “taxas de juros abusivas de cerca de 5%”, o que lhes possibilitou lucrar imensamente com a crise. Só a Alemanha, denunciou, conseguiu naquela época “mais de 1,3 bilhões de euros de lucro graças ao seu empréstimo bilateral à Grécia. E a França não ficou atrás”. Na avaliação do historiador, “seria necessário contabilizar também as economias realizadas pelos países dominantes da zona do euro no refinanciamento de suas dívidas públicas: a crise que golpeou a Grécia e a outros países da periferia produziu uma fuga de credores que privilegiaram os países mais ricos da zona do euro que, consequentemente, conseguiram uma redução no custo de suas dívidas. No caso da Alemanha, entre 2010 e 2015, as economias chegariam a 100 bilhões de euros”.
LEONARDO SEVERO
A Alemanha vem sempre sendo denunciada como a responsável pelas mazelas da Grécia, todos os problemas da Grécia devem-se principalmente a Alemanha . Qual o motivo ? Seriam empréstimos ? Mas porque os gregos pegaram dinheiro a juros de agiotagem ?
O meio da Alemanha dominar as outras economias, na Europa (e, por trás da Alemanha, os americanos), é o euro. Fazer a Alemanha e a Grécia (ou Portugal) terem a mesma moeda, somente pode ser um modo de saquear o país de economia mais frágil ou menor. Por gentileza, leitor, v. HP 02/03/2012, A verdade sobre a conspiração que submeteu a Grécia ao FMI e HP 17/02/2012, Dívida é usada como pretexto para destruir Estado e escravizar Europa.