Em entrevista coletiva na quinta-feira (15), o presidente da Petrobrás, Pedro Parente, apresentou o balanço financeiro da estatal do ano passado, registrando “prejuízo líquido” de R$ 446 milhões, o que seria o quarto ano consecutivo de perdas. Segundo o blog da Petrobrás “Fatos e Dados”, “Teríamos alcançado um lucro líquido de R$ 7,089 bilhões, mas despesas extraordinárias, especialmente o acordo de R$ 11,198 bilhões para encerramento da ação coletiva de investidores nos Estados Unidos (class action) e a adesão a programas de regularização de débitos federais, que somaram R$ 10,433 bilhões, tiveram impacto significativo no resultado”.
A proposta de “acordo” do pagamento bilionário e antecipado – sem necessidade – aos acionistas norte-americanos foi feito por Parente. A Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet) repudiou o “acordo” e disse que “o pagamento desses dez bilhões de reais é mais uma etapa da transferência da renda petroleira brasileira, que é fruto de um ato continuado de corrupção e de crime de lesa pátria”.
Por outro lado, é de um cinismo atroz a forma como foram apresentados os supostos prejuízos da Companhia desde 2014, ano em que teria um prejuízo líquido de R$ 21,6 bilhões. Naquele ano, teve início a Operação Lava a Jato, quando foi desbaratada a quadrilha – formada por políticos do PT, PMDB, PP e aliados, empreiteiras (Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez etc.) e diretores corruptos, para bancar as milionárias campanhas desses partidos e para favorecimento pessoal de alguns, através de propinas milionárias – que assaltou a Petrobrás.
Inicialmente, à época, a PriceWaterhouseCoopers (PwC), com sede em Londres, auditora dos resultados financeiros da Petrobrás, recusou-se a aprovar o balanço do terceiro trimestre da empresa e exigiu mais investigações internas sobre o esquema de desvio de dinheiro na estatal. Então, aplicou-se o teste de recuperação de valor (impairment), o que significa redução do valor recuperável de um bem ativo. Na prática, houve um prejuízo contábil, assim como nos três anos que se sucederam. Ente os anos 2014 e 2017, o impairment foi de R$ 44,64 bilhões, R$ 47,68 bilhões, R$ 20,30 bilhões e R$ 3,9 bilhões, respectivamente.
O vice-presidente da Aepet, Fernando Siqueira, citou o exemplo de 2015. O presidente da estatal era Aldemir Bendine, executivo preferido do PT e que hoje se encontra em cana, acusado de ter recebido R$ 3 milhões em propina para facilitar contratos com a Odebrecht: “A Petrobrás teve um lucro de R$ 15 bilhões. Bendine fez uma desvalorização de ativos (impairment) de R$ 48 bilhões. Então, o lucro que era de R$ 15 bilhões passou a ser um prejuízo de R$ 33 bilhões. Assim, passou a ideia de que a Petrobrás estava quebrada e tinha mais é que vender tudo”.
Some-se a isso o processo de venda de ativos da Petrobrás – chamado cinicamente de “desinvestimento” e agora de “aliança estratégica” com as multinacionais do petróleo –, iniciado na gestão de Graça Foster, mantido até hoje.
A meta no plano de negócios de Pedro Parente é entregar US$ 21 bilhões em ativos no biênio de 2017 e 2018.