O governo de Jair Bolsonaro comunicou, na quinta-feira (5), que os diplomatas venezuelanos devem deixar o Brasil. Para bajular Donald Trump, Bolsonaro diz que reconhece apenas os diplomatas do autoproclamado presidente Juan Guaidó.
Na quarta-feira (4), o Itamaraty começou a retirar os representantes brasileiros da embaixada em Caracas. Quatro diplomatas e 11 funcionários foram removidos de seus cargos.
A expulsão dos representantes do governo de Nicolás Maduro no Brasil faz parte do alinhamento automático de Jair Bolsonaro com a política de Donald Trump de impor Juan Guaidó como presidente da Venezuela sem ser eleito.
A medida destrói anos de sucesso da política externa brasileira independente, que vigorou até mesmo debaixo de governos da ditadura.
Uma vez que a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas impede ações militares nas embaixadas de outros países, a permanência ou não dos diplomatas venezuelanas é incerta.
O diplomata Paulo Roberto de Almeida criticou a medida de Bolsonaro. “Não existe sequer uma nota, entrevista, explicação da chancelaria brasileira a gesto tão inusitado nas relações exteriores do Brasil, sem precedentes em nossos anais diplomáticos, e sem qualquer explicação ou elaboração a respeito, por parte do governo ou da chancelaria”, assinalou o diplomata, autor do blog Diplomatizzando.
Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil na Inglaterra (1994-1999) e nos Estados Unidos (1999-2004), estranhou a medida bolsonarista.
“Eu não me lembro em toda a minha carreira diplomática do Brasil tomar uma atitude dessas: fazer uma retirada coletiva de todos os diplomatas e funcionários da embaixada e dos consulados. Esse é um ponto importante, porque a embaixada é responsável por cuidar dos brasileiros fora do país. E uma das consequências é em relação à assistência aos brasileiros que moram na Venezuela e que precisam tirar certidão de nascimento, renovar passaporte, etc. Como é que vai ficar isso? A outra questão é sobre os adidos, porque só serão removidos os funcionários diplomáticos. Quem irá cuidar dos prédios, da embaixada? Isso ainda não está claro”, comentou o embaixador em entrevista para o jornal O Estado de S. Paulo.
O embaixador assinalou que a medida é inusitada, pois não houve comunicação de rompimento. “Para haver rompimento, precisaria haver uma declaração do governo brasileiro, o que não aconteceu. Por enquanto, é uma retirada dos funcionários da diplomacia. Em todo caso, é um agravamento das relações”, disse.
Crítico do apoio de Bolsonaro a Guiadó, o embaixador, com mais de 40 anos de carreira, disse que o ato de Bolsonaro é “sem precedentes”.
“A medida não tem nada a ver com Guaidó. Tudo o que o governo brasileiro poderia fazer para apoiá-lo, já fez. A decisão tem a ver com o governo Maduro e é sem precedentes”, frisou.
Em novembro de 2019, no dia da reunião dos presidentes do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), apoiadores de Juan Guaidó invadiram a embaixada venezuelana em Brasília. Pouco tempo depois da invasão, tiveram que deixar o edifício.
Somente o Brasil, de todos os países do BRICS, reconhece o golpista Guaidó como presidente da Venezuela.
Nos Estados Unidos, Donald Trump chegou a cortar a energia da embaixada para forçar a saída dos representantes do governo de Nicolás Maduro.
Na quinta-feira, o general Santos Cruz, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro, comentou que o alinhamento automático do governo à política de Trump é prejudicial ao Brasil.
“Qualquer alinhamento automático não é bom, por filosofia. Você não pode se alinhar automaticamente com outro país, seja China ou Estados Unidos. O Governo pegou uma vertente muito forte pro lado dos Estados Unidos e isso não é bom. Você tem que analisar e não pode ter um comportamento ideológico, porque ele direciona você de tal forma que perde a capacidade de análise”, disse.