Empresários bolsonaristas, donos de grandes redes de lojas e restaurantes, trocam mensagens em um grupo de Whatsapp defendendo um golpe de estado caso Lula vença as eleições, revelou o site Metrópoles.
O presidenciável Ciro Gomes (PDT) e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) estão cobrando medidas e pedem boicote às empresas envolvidas.
No grupo estão empresários como Luciano Hang, dono da Havan, Afrânio Barreira, dono do Grupo Coco Bambu, José Isaac Peres, dono da rede de shoppings Multiplan, José Koury, do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro, Ivan Wrobel, dono da construtora W3 Engenharia, e Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo, dono da marca Mormaii.
Essa panelinha de empresários bolsonaristas está com medo de perder seus privilégios, sua mamata com o governo Bolsonaro.
Eles estão na contramão da imensa maioria de empresários que apoiam a democracia. Mais de 20 mil empresários assinaram a Carta em defesa da democracia, do sistema eleitoral brasileiro e das urnas eletrônicas. A Carta foi lida na última quinta-feira (11) em um expressivo ato contra o golpe com assinaturas de empresários, juristas, ex-ministros do STF, economistas, intelectuais, estudantes, sindicalistas, artistas, entre outros.
Uma conversa do submundo do crime sobre um possível golpe começou no grupo Empresários & Política no dia 31 de julho, às 17h23, com uma mensagem de Ivan Wrobel, da W3 Engenharia, que publicou: “Quero ver se o STF tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na Av. Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público”.
De acordo com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, com base em informação do Comando Militar do Leste, não haverá desfile em terra, apenas apresentações da Aeronáutica e da Marinha.
A conversa se desenrolou com José Koury, proprietário do shopping Barra World, dizendo que prefere “golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”.
Afrânio Barreira, do Coco Bambu, respondeu a mensagem com uma figurinha aplaudindo.
Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da rede de lojas Mormaii, acredita que “o 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro”.
Ele ainda respondeu a mensagem de José Koury, alegando que “golpe foi soltar o presidiário!!! Golpe é o ‘supremo’ agir fora da constituição! Golpe é a velha mídia só falar merda”.
Morongo afirmou que “quando o mínimo das regras que nos foram impostas são chutadas para escanteio, aí passa a valer sem a mediação de um juiz. Uma pena, mas somente o tempo nos dirá se voltamos a jogar o jogo justo ou [se] vai valer pontapé no saco e dedo no olho”.
Em diversos momentos, os empresários bolsonaristas desacreditam das urnas eletrônicas e criticam o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Supremo Tribunal Federal (STF) e seus ministros, especialmente Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso.
Para André Tissot, da empresa especializada na venda de imóveis de luxo no Rio Grande do Sul, Grupo Sierra, “o golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo. [Em] 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais”.
José Isaac Peres, da rede de shoppings Multiplan, publicou que “o TSE é uma costela do Supremo, que tem 10 ministros petistas. Bolsonaro ganha nos votos, mas pode perder nas urnas. Até agora, milhões de votos anulados nas últimas eleições correm em segredo de Justiça. Não houve explicação”.
O CEO da Thavi Construction, Vitor Odisio, mandou uma mensagem no grupo no dia 10 de junho falando que Bolsonaro não será eleito por culpa das urnas eletrônicas.
“Bolsonaro não leva essa eleição de forma nenhuma com essa formação de TSE e essas urnas”.
“Tem que intervir antes, esquecer o TSE, montar uma comissão eleitoral (como quase todos os países do mundo fazem), votação em papel e segue o jogo! Simples assim. Depois da eleição já era, vai ser esperneio…”, acrescentou.
CIRO E RANDOLFE
O candidato à Presidência da República, Ciro Gomes, afirmou, através de seu Twitter, que “está na hora de boicotar os produtos e serviços de facínoras que querem o fim do nosso estado democrático de direito”.
“Assim como existe um pequeno grupo golpista nas Forças Armadas, há, também, um grupelho de amantes da ditadura no empresariado. E as autoridades têm que identificá-los e puni-los para que fiquem ainda menores. Sejam reduzidos a pó”, continuou.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) acionou o Supremo Tribunal Federal para que essas conversas e mensagens favoráveis a um golpe de estado sejam investigadas no âmbito do inquérito das milícias digitais, que é relatado por Alexandre de Moraes.
A investigação é “o melhor instrumento para responder a essas indagações, sendo imperioso que o STF atue em defesa da Constituição Federal, do regime democrático e do sistema eleitoral”, defendeu Randolfe.
O parlamentar chamou o caso de “gravíssimo” e pediu que seja apurada o possível financiamento de manifestações golpistas a partir desses empresários.