“Se acharmos que temos que estar submetidos à vontade de A ou B, aí é falsa soberania”, avaliou a deputada, criticando a política externa de Bolsonaro e Ernesto Araújo. “Eu acredito que nossas Forças Armadas têm condições de fazer a defesa nacional”
A deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB-AC), ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara e ex-secretária do Ministério da Defesa, afirmou que a submissão de Bolsonaro e seu ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, rompe com a tradição do Itamaraty na política externa e envergonha os diplomatas.
“É uma vergonha para um país do tamanho do Brasil, o nível de subserviência e esse nível de confrontos ideológicos dentro dessa instituição. Diria que nossos diplomatas estão muito envergonhados com o comportamento do Brasil e em ver como outros países estão nos vendo”, declarou a deputada, durante entrevista ao Fórum Mar & Defesa.
“O Brasil precisa saber se comportar. Quais os interesses com os EUA, quais os interesses com a China? Não é uma relação de amizade. Vai muito da inteligência de quem está no comando. Não quero me preocupar em defender os interesses dos EUA ou da China. Acho que o Brasil tem se envolvido em conflitos desnecessários por estar do lado de A ou B. Isso é muito ruim”.
“Esse formato, essa política, que só olha para a questão ideológica, coloca, sim, em risco nossa soberania”, observou.
Segundo ela, soberania “é termos capacidade de cuidar e desenvolver o país de forma livre”.
“Se acharmos que temos que estar submetidos à vontade de A ou B, aí é falsa soberania. Eu acredito que nossas Forças Armadas têm condições de fazer a defesa nacional, mas isso depende muito de quem está no comando do país e do Itamaraty”, avaliou a parlamentar.
Ela declarou que “um país que não tem defesa forte, que não prima por sua defesa, é um país subjugado”.
Perpétua enfatizou que “as Forças Armadas servem ao Estado, e não a governo”. “E aqui lembro de uma frase do general [Eduardo] Villas Bôas, onde ele diz que ‘quando a política entra nos quartéis por uma porta, por outra está saindo a hierarquia, a obediência’. Isso pra mim é muito forte e é algo que a gente precisa olhar, sobretudo nesse momento”, destacou, parafraseando o ex-general do Exército.
Para ela, é ruim para a imagem da instituição “quando o Bolsonaro, com a lambança que ele costuma fazer, insiste em trazer para o seu colo as Forças Armadas. Isso é ruim para as instituições, pois elas são instituições de Estado”.
A deputada apresentou uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que passa para a reserva os militares com mais de 10 anos de carreira que assumam cargos em governos e afaste os que têm menos. Isso afasta a possibilidade de partidarizar as Forças Armadas, argumenta.
ORÇAMENTO E PESQUISA
Perpétua Almeida defendeu que pelo menos 2% do PIB seja voltado para a Defesa. “Eu sou favorável a um orçamento maior das Forças Armadas, pois entendo que elas têm um papel fundamental para a soberania do país”.
“Quem sustenta a indústria de Defesa são as aquisições nacionais e não se faz isso se você não tem dinheiro em pesquisa”, continuou.
“Não existe nenhum projeto que aguente sem previsibilidade. Sem saber se terá recurso, como você leva um projeto adiante?”.
“Mas, na minha opinião, era preciso organizar melhor os projetos estratégicos de Defesa. Dessa forma, a gente aproveita melhor os recursos. Se a gente não resolver essa prioridade, a gente vai ter sempre a preocupação, por exemplo, se quando terminar um protótipo ele estará obsoleto ou não”.
Segundo ela, “você não desenvolve essa área se não tem recursos”.
Por outro lado, a deputada acredita que é delicado discutir aumento dos recursos para Defesa durante a pandemia de coronavírus. “É difícil falar disso nesse momento, onde temos mais de 90 mil mortos pela Covid-19, mais de 20 milhões de desempregados, 700 mil pequenas empresas com até 49 empregados fecharam as portas e na área da Defesa tem muitas pequenas empresas nesse perfil”.
“Precisamos preparar o país e a economia para chegarmos a 2% do PIB para a Defesa Nacional”.
Assista a entrevista na íntegra:
SEGURANÇA PÚBLICA
A deputada Perpétua Almeida reafirmou sua posição “contrária à forma de segurança nacional que Bolsonaro põe e diz, para mim é um engano”.
“Quando a gente discute segurança pública não é dar armas para população e dizer ‘te vira, vai cuidar da sua segurança’. Isso não é segurança”, disse.
Para ela, “é perigosa a decisão que Bolsonaro tomou acerca de armar a população, satisfazer o seu desejo, e cancelar portarias do Exército sobre o monitoramento de armas e munições. O tratamento de Bolsonaro nesse assunto é irresponsável”.
SOBERANIA NACIONAL
Durante a entrevista, a ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional disse que a posse de uma arma nuclear pode fazer parte da soberania de um país. “Alguns querem ter seu armamento nuclear e não quer deixar que outros tenham. Isso é algo tão fora do normal que para mim não cabe. Isso [armamento nuclear] é soberania”.
“Alguns países querem ter armas nucleares, mas não querem que os países as tenham”.
“Eu acredito que o Brasil deva abrir esse debate, acho importante ser discutido, até porque outros países têm. Mas não vejo que Bolsonaro e o Itamaraty com capacidade de chamar esse debate nacional. Com eles, eu prefiro que a gente não tenha, porque será feito de forma equivocada. Mas o Brasil precisa, em algum momento, se reencontrar com esse debate”, afirmou.
Fonte: Portal do PCdoB