
“É um tiro do pé”, afirma Celso Amorim sobre a ameaça de Donald Trump de taxar quem se aproximar do BRICS
A ameaça feita na noite de domingo (6) pelo chefe do governo dos Estados Unidos, Donald Trump, de sobretaxar os países que se alinharem ao BRICS é a confirmação de que o crescimento e o fortalecimento do grupo, que hoje já superam 40% do PIB global em paridade de poder de compra, está incomodando bastante o império em decadência.
No mesmo dia, a cúpula dos chefes de Estado do BRICS alertava o mundo contra o uso de tarifas comerciais como armas políticas contra os demais países.
No comunicado da cúpula de líderes, o BRICS criticou, sem citar nominalmente Trump ou os EUA, o “aumento indiscriminado de tarifas” como ameaça à redução do comércio global e condenou a imposição de “medidas coercitivas unilaterais contrárias ao direito internacional”.
Os países manifestaram também no texto ter “sérias preocupações” com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais “que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da OMC (Organização Mundial do Comércio)”.
O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, afirmou, nesta segunda-feira (7), que a possível imposição de uma tarifa adicional pelos EUA ao Brasil é um “tiro no pé” do governo norte-americano. “Nós temos muita vontade de comerciar com os Estados Unidos. Aliás, o Brasil é um dos poucos países que têm déficit com os Estados Unidos, quer dizer, os EUA têm um superávit conosco. Então, acho que, digamos, sinceramente, que se começarem a aplicar tarifas ao Brasil, desculpe, é um tiro no pé”, declarou.
Na noite do domingo (6), Donald Trump usou sua rede social para destilar ameaças aos países que se alinharem ao BRICS em sua luta pelo desenvolvimento e disse que qualquer um deles que “se alinhe às políticas antiamericanas do BRICS” será afetado por uma tarifa adicional de 10%. “Não haverá exceção a essa política. Obrigado por sua atenção”, escreveu Trump. O que o presidente dos EUA deixou claro nessa manifestação é que ficou muito incomodado com o sucesso do BRICS e que seguirá sua política de querer subjugar outros países aos seus interesses.
Paralelamente ao anúncio de Trump, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse que os EUA, os americanos, aplicarão em 1º de agosto tarifas aos parceiros comerciais com os quais não tenha alcançado acordos, seja Taiwan ou a União Europeia. As tarifas “saltarão” até os níveis absurdos que Trump havia anunciado em 2 de abril, antes de suspender as taxas para permitir negociações comerciais e estabelecer um prazo até 9 de julho para conseguir acordos.
A cúpula dos BRICS foi contundente: “A proliferação de ações restritivas ao comércio, seja na forma de aumento indiscriminado de tarifas e de medidas não tarifárias, seja na forma de protecionismo sob o disfarce de objetivos ambientais, ameaça reduzir ainda mais o comércio global, interromper as cadeias de suprimentos globais e introduzir incerteza nas atividades econômicas e comerciais internacionais, potencialmente exacerbando as disparidades econômicas existentes e afetando as perspectivas de desenvolvimento econômico global”, disse trecho do documento.
Outros integrantes do governo Lula também disseram nesta segunda-feira (7) que as ameaças de Donald Trump fortalecem as críticas do bloco contra medidas unilaterais no comércio internacional, como as tarifas impostas pelo regime ditatorial dos EUA. Na avaliação de um membro do governo brasileiro, a ameaça de Trump é a prova concreta da necessidade de defesa do multilateralismo e reforça a mensagem defendida pelo BRICS contra medidas unilaterais.
Para os integrantes do BRICS, a ameaça de Trump é a prova concreta da necessidade de defesa do multilateralismo e reforça a mensagem defendida pela cúpula que está sendo realizada no Rio de Janeiro. Um interlocutor do Itamaraty ressalta que as referências nos documentos do grupo são abrangentes e valem para diversos países, mas admite que o recado é principalmente destinado aos americanos.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que o BRICS não é um grupo que age contra outros países. “A singularidade de um grupo como o BRICS é que se trata de um grupo de países que compartilham abordagens comuns e uma visão de mundo comum sobre como cooperar, com base em seus próprios interesses”, disse.
Um porta-voz do governo da África do Sul, por sua vez, afirmou, ainda, que o país não é antiamericano e busca um acordo comercial com os EUA. “Ainda aguardamos comunicação formal dos EUA a respeito do nosso acordo comercial, mas nossas conversas permanecem construtivas e frutíferas”, afirmou à agência Reuters o porta-voz do Ministério do Comércio, Kaamil Alli.
A porta-voz do Ministério do Exterior, Mao Ning, em entrevista coletiva em Pequim (madrugada no Brasil), afirmou que, “no que diz respeito à imposição de tarifas, a China declarou repetidamente sua posição de que não há vencedores em guerras comerciais e tarifárias e o protecionismo não leva a lugar nenhum”.
“O mecanismo BRICS é uma plataforma importante para a cooperação entre mercados emergentes e países em desenvolvimento”, disse. “Defende abertura, inclusão e cooperação ganha-ganha e não tem nenhum país como alvo”, acrescentou.