O suicídio de crianças e adolescentes no Japão atingiu o maior patamar em 30 anos, informou o ministro de Educação japonês, Noriaki Kitazaki. Segundo estudo do governo, 250 crianças da escola primária até o Ensino Médio tiraram suas vidas até março de 2017. Esse número é o maior registrado desde 1986 – e cinco vezes maior que o computado um ano antes, divulgou a BBC.
Sendo 60 vezes maior do que a média mundial, o índice de suicídio entre crianças e jovens (faixa etária de 10 a 19 anos) é a maior causa de morte nesta faixa no Japão.
“O número de suicídios de estudantes permanece alto e isso é um assunto alarmante que deve ser abordado”, afirmou o ministro Kitazaki, sem entrar em mais considerações.
Segundo pesquisa do professor Kenzo Denda, da Universidade de Hokkaido, 1 em cada 12 crianças em idade escolar do primeiro grau, e 1 em cada 4 estudantes da escola secundária, sofrem de depressão clínica.
Funcionários avaliam que os problemas relacionados à escola, apontados pelos estudantes, como bullying, são chaves para a crise de suicídio juvenil do país.
O governo japonês divulgou uma análise sobre 18 mil suicídios de menores de 18 anos, ocorridos entre os 1972 e 2013. O total de mortes nessas quatro décadas se mostrou maior nos dias 8 e 11 de abril, 30 de agosto, 1 e 2 de setembro. Esses são os dias em que acabam as férias escolares e começam as aulas. Para muitos jovens que sofrem com problemas nas relações dentro da escola ou bullying, o período de férias é o momento de fugir das pressões e, quando acaba, o retorno à escola se torna assustador.
Após analisar alguns casos de suicídio, a polícia percebeu um aumento drástico no número de estudantes que culpam as pressões escolares como a principal fonte de seus problemas. E estes problemas afetam crianças de todas as idades.
Em matéria publicada pela BBC, o colunista Rupert Wingfield-Hayes, que estudou aspectos do problema, aponta para elementos de rigidez no relacionamento entre as pessoas na sociedade japonesa. A depressão não é um assunto livremente debatido em uma sociedade onde a busca pelo sucesso leva a exigências exacerbadas sobre os jovens, incluindo resultados no aproveitamento escolar. A tecnologia mal empregada leva a um menor grau de socialização entre as crianças e a um elevado grau de isolamento.
Só há muito pouco tempo e diante dos índices alarmantes de suicídio é que o governo começou a considerar apoio a atendimento psicológico em clínicas públicas. Mas há denúncias de que as corporações produtoras de medicamentos exponenciaram seus lucros, com a venda de antidepressivos, no país que atravessa um longo período de estagnação econômica. (https://www.japantimes.co.jp/news/2014/04/12/national/media-national/big-pharma-manipulating-the-market-now-thats-depressing/#.W-NQ2NtKhPY )