Marcos de Oliveira, do jornal Monitor Mercantil, anfitrião do Fórum de Cooperação de Mídia China-América Latina, denuncia desigualdade “insustentável” e destaca o desafio de enfrentar as necessidades de desenvolvimento dos povos na “busca de um mundo mais justo economica, social e ambientalmente. Um mundo multipolar, com oportunidades para todos”
“Somos todos integrantes do que hoje se chama de Sul Global, em busca de um mundo mais justo economica, social e ambientalmente. Um mundo multipolar, com oportunidades para todos”, afirmou o presidente do jornal Monitor Mercantil, Marcos de Oliveira, em sua participação no Fórum de Cooperação de Mídias da China e América Latina e Caribe.
Em seu pronunciamento, Marcos apontou que, apesar de abrigar 79% da população mundial, os países do Sul Global detêm apenas 39% da riqueza mundialmente produzida”.
“É uma realidade insustentável”, acrescenta o presidente do Monitor Mercantil, anfitrião do Fórum, “mas como resultado das lutas e conscientização dos povos, essa realidade começa a mudar.
“O mundo unipolar já não tem mais espaço; um mundo multipolar já começa a ser construído”, destacou ainda Marcos no Fórum China-ALC que se realizou no Rio de Janeiro de 15 a 18 de outubro.
Ele salientou que “a oportunidade de construir uma realidade melhor passa pela relação entre os países, uma relação que deve trazer benefícios a todos, não apenas para um lado, e é isso que a América Latina e o Caribe devem pavimentar em suas relações com a China”.
“Estamos vivendo uma nova era em que a China e a América Latina e o Caribe entraram em relações que buscam o bem-estar para todos”, afirmou Tian Min, cônsul geral da China no RJ, ao participar da inauguração da Exposição Fotográfica sobre a Amizade China-América Latina e Caribe, no Planetário do Rio.
“A China tem se destacado como o segundo maior parceiro comercial da ALC por vários anos consecutivos. A busca de cooperação entre nossas mídias visa mostrar a realidade e a história da China para os povos da ALC e revelar aos chineses a história e a realidade da ALC”, prosseguiu a cônsul.
“Nestes últimos anos, reportagens sobre as questões populares da China e ALC têm ajudado os nossos povos a se entenderem e a se conhecerem melhor, contribuindo significativamente para aprofundar o entendimento entre os nossos povos”.
“Essas fotos”, destacou Tian Min, “testemunham os esforços conjuntos para que possamos alcançar um futuro compartilhado de desenvolvimento conjunto. A promoção desta amizade se insere no esforço de desenvolvimento de novas relações internacionais baseadas na cooperação, respeito mútuo, na justiça e dignidade, contribuindo assim para um mundo mais justo e razoável”.
“Este ano marca o 50º aniversário da abertura das relações diplomáticas entre a China e Brasil. As coberturas de mídia sobre as atividades referentes a esta data comemorativa têm contribuído para o fortalecimento da amizade entre a China e o Brasil”, finalizou Tian.
Em entrevista ao jornal Hora do Povo que participou do Fórum através de seu editor internacional, Nathaniel Braia, o diretor da TeleSur e colunista do Monitor Mercantil, Beto Almeida, destacou que “esse encontro, uma realização do jornal chinês, Diário do Povo e o Monitor Mercantil traz muitas mensagens”.
“Uma delas, destacou Beto, é que esse encontro de mídias da América Latina e Caribe se dá aqui no Rio de Janeiro, por iniciativa do Diário do Povo, um jornal respeitado e um dos dez melhores do mundo segundo a Unesco, por um lado e, por outro, pelo Monitor Mercantil que tem buscado se manter trazendo à sociedade brasileira, através de seus leitores, um pensamento crítico sobre a nossa realidade econômica e, defendendo a nossa soberania, dentro um modelo democrático e nacional-desenvolvimentista, o que, como demonstra este Fórum, é perfeitamente possível e atingível”.
“A China vem a ser uma possibilidade de grande parceria que nós precisamos burilar. A China já alcançou grandes conquistas e é um país respeitado mundialmente. O Brasil necessita se posicionar nesta cooperação com uma proposta mais protagonista, de forma a que essa cooperação adquira um caráter bilateral e, portanto, seja mais ainda bem aproveitada”, acrescenta o jornalista.
“Há muitos desafios neste sentido, eu destacaria um exemplo concreto de possível cooperação: a China é hoje o país mais desenvolvido em termos de sistema ferroviário; já o Brasil apresenta um atraso inaceitável neste setor. Uma cooperação entre os dois países favorecendo a interconexão das nossas regiões (coisa que já tivemos no passado e se perdeu), de forma a contribuir decisivamente para o nosso desenvolvimento e industrialização”.
“A China tem muito a ganhar com o desenvolvimento do Brasil e dos países da América Latina e Caribe, e é nisto que devemos nos debruçar e isto é a razão de ser deste encontro: a busca do estabelecimento de relações de forma a combater as desigualdades que ainda persistem entre os povos do mundo”, enfatizou Beto.
O jornalista cubano, Dilbert Reyes Rodriguez, diretor do Granma, ressaltou as profundas diferenças entre a abordagem internacional da China em contraposição aos Estados Unidos, perpetradores por décadas de um impiedoso bloqueio, em entrevista nos concedida no dia 18, véspera do apagão em Cuba, que teve como causa principal este bloqueio.
“Em termos de valores humanos, morais, os Estados Unidos imperialista se coloca do lado oposto aos valores de Cuba revolucionária que se pauta e se insere na luta anti-imperialista”, destacou Dilbert.
“Quero deixar claro este bloqueio, mundialmente condenado, expressa uma contradição entre o governo dos Estados Unidos e o povo cubano. Estados Unidos promove uma guerra contra o povo cubano, que causa danos ao nosso povo, não apenas contra o nosso governo. Por outro lado, quero deixar claro que não é uma contradição do povo cubano com o povo norte-americano, é uma marca do governo imperialista norte-americano”, disse o jornalista cubano.
“Já com a China temos valores em comum. Isto se expressa ao longo de nossa história desde as revoluções de Cuba e da República Popular da China”, acrescentou.
“Claro que, ao destacarmos os valores comuns, não apagamos as diferenças entre nós, as características da construção do socialismo em Cuba e na China; cada qual com suas formas específicas”.
“A nossa amizade não começa agora, ela tem raízes na valorização de um mundo multipolar, onde todos os povos possam compartilhar as riquezas produzidas por todos”.
“Neste encontro se contou com a participação intensa de meios de comunicação com características progressistas, campo no qual nos incluímos, e que se posicionam de forma distinta daqueles meios pertencentes a empresas que se nutrem do papel de auxiliares da visão hegemonista que caracteriza esta ânsia imperialista de dominação que Estados Unidos capitaneia”, finalizou Dilbert.
A deputada estadual pelo Rio de Janeiro, Tia Ju, que preside a Frente Parlamentar Brasil-China no Rio, destacou avanços na compreensão mútua através do trabalho midiático. “O trabalho conjunto envolvendo as mídias chinesa e latino-americana tem possibilitado que as narrativas sobre nossos países circulem com maior autenticidade, desconstruindo estereótipos e promovendo um entendimento mais profundo”.
Ju falou aos delegados, referindo-se à importância do Fórum que trabalhou no sentido da “construção de uma relação de confiança, que se reflete nas trocas culturais, tecnológicas e educacionais”.
O historiador Evandro Menezes de Carvalho destacou os avanços nas relações China-América Latina e Caribe, reconhecendo que “muito há ainda a ser feito”.
Ao ressaltar as virtudes do desenvolvimento chinês que deve servir de estímulo e exemplo para a nossa região, Evandro, que é professor da Universidade Federal Fluminense, da FGV Rio e catedrático de Cultura da Universidade de Língua e Cultura de Pequim, informou que “em 2023 o PIB chinês se aproximou da marca de USD 18 trilhões, representando 18% da economia mundial”.
“Mas o maior feito da República Popular da China foi ter erradicado a pobreza extrema do país”.
O professor condenou o “espírito de Guerra Fria, com todos os seus estereótipos e violências implícitas” vanguardeado pelas ações e mídia norte-americanas, para conclamar os delegados ao Fórum a entenderem a necessidade de se “dialogar mais e mais, no espírito de amizade que sempre norteou aqueles que estão comprometidos com a paz e prosperidade comum dos povos”.
Guillermo Diez Attienza, assessor da Presidência do Monitor Mercantil participou dos debates na mesa sob o tema “Aprofundar os Intercâmbios Culturais e Promover Laços Interpessoais”.
Ele estabeleceu aspectos de paralelos e complementares entre o Brasil e a China: “se a China é produto de uma cultura multi-milenar, o Brasil, nas palavras do antropólogo Darcy Ribeiro, vive ‘um despertar civilizatório’”.
“Isto nos coloca em uma posição de enlace da competição leal com a colaboração desenvolvimentista mútua e com base e respeitando os valores de cada povo”.