Bolsonaro inventou balela de fraude em 2018 para insuflar ato golpista
Jair Bolsonaro disse na segunda-feira (09) que acredita que houve fraude nas eleições de 2018. A afirmação, para variar, foi feita sem nenhuma prova. Ele diz que tem, mas que não vai “apresentar agora”.
Além de mentirosa, a afirmação é uma afronta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), órgão responsável pela fiscalização e aprovação do pleito.
Bolsonaro já havia inventado essas acusações antes – sobre fraude nas eleições de em 2018. Ele diz que foi eleito no primeiro turno. Nunca apresentou nenhum fato que corrobore o que afirma. Continua sem apresentá-los.
E, com a glutonia que lhe é peculiar, não respondeu às perguntas dos jornalistas sobre quais seriam essas provas da fraude. Bolsonaro é assim. Acha que, por ser presidente, pode mentir à vontade e não tem que dar satisfação.
Agora que o caldo está entornando, ele usa de novo essa invencionice de fraude para se passar por vítima e insuflar a convocação de seu ato golpista de 15 de março. Algumas pessoas aventaram a hipótese de que ele criou essa história da fraude para fugir de explicar o desastre econômico de seu governo. Afinal, o país está literalmente afundando.
Mas, parece mesmo que é um aceno a seus milicianos para convencê-los de que ele estaria sendo perseguido pelo “sistema”. A “vítima” [ele] precisa ser defendida. Esse é o mote da encenação para agitar as fileiras milicianas.
A “fraude” faz parte da convocação do ato golpista. “Eu acredito que, pelas provas que tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu tinha sido, eu fui eleito no primeiro turno, mas no meu entender teve fraude. E nós temos não apenas palavra, nós temos comprovado, brevemente eu quero mostrar”, disse o orador, sem ter a menor preocupação em mostrar as provas que diz possuir.
Ninguém pode, muito menos o presidente, fazer uma acusação dessa gravidade sem comprovar o que diz. São ministros da mais alta corte eleitoral do país que estão sendo acusados por ele de terem validado um pleito roubado.
Aliás, por falar em roubo e fraude, o TSE está querendo saber dos mortos que assinaram a ficha de filiação do partido de Bolsonaro.
Se fazer de vítima para insuflar sua militância. Esse é o plano dos golpistas. Já na base militar em Boa Vista, ele disse que levou uma facada no pescoço dentro do palácio. Como assim? Quem o esfaqueou? Uma mentira a mais, inventada para indignar seus seguidores. Tudo para insinuar que “estão agredindo o presidente”. “Não querem deixar o presidente governar”.
Foi este o discurso escorregadio de Augusto Heleno, chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), na base militar em Rondônia. Falou em facada, disse que não querem deixar ele governar, etc, etc. Quem não quer deixar? Ele está governando… e afundando o país. É isso o que eles querem esconder.
As mentiras são ditas assim sem o menor pudor.
Fixado no papel de vítima para motivar as pessoas a irem às ruas em defesa do “mito” ameaçado, Bolsonaro lembrou, em seu discurso em Miami, o episódio da facada na campanha. A representação não dispensou nem o melodrama. A narrativa teve até choro no meio do relato. O discurso era para “emocionar” um auditório de religiosos.
E o pior é que a invencionice da fraude em 2018 não é nem original. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que jantou com Bolsonaro no sábado, também costuma deslegitimar o sistema eleitoral americano, afirmando que acredita ter havido fraude nas eleições que o levaram a poder em 2016. Até nisso, Bolsonaro macaqueou o seu guru, Trump.
A presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Rosa Weber, respondeu aos ataques do presidente surtado. Ela reafirmou, nesta terça-feira (10), a “absoluta confiabilidade e segurança do sistema eletrônico de votação”. A ministra lembrou ainda que “o sistema é auditado, o que permite a apuração de eventuais denúncias e suspeitas, sem que jamais tenha sido comprovado um caso de fraude, ao longo de mais de 20 anos de sua utilização”.
Quando terminava esta matéria, o Tribunal Superior Eleitoral, também publicou nota contra as aleivosias de Bolsonaro.
Leia a nota na íntegra do TSE:
“Ante a recente notícia, replicada em diversas mídias e plataformas digitais, quanto as suspeitas sobre a lisura das eleições 2018, em particular o resultado da votação no 1º turno, o Tribunal Superior Eleitoral reafirma a absoluta confiabilidade e segurança do sistema eletrônico de votação e, sobretudo, a sua auditabilidade, a permitir a apuração de eventuais denúncias e suspeitas, sem que jamais tenha sido comprovado um caso de fraude, ao longo de mais de 20 anos de sua utilização.
Naturalmente, existindo qualquer elemento de prova que sugira algo irregular, o TSE agirá com presteza e transparência para investigar o fato. Mas cabe reiterar: o sistema brasileiro de votação e apuração é reconhecido internacionalmente por sua eficiência e confiabilidade. Embora possa ser aperfeiçoado sempre, cabe ao Tribunal zelar por sua credibilidade, que até hoje não foi abalada por nenhuma impugnação consistente, baseada em evidências.
Eleições sem fraudes foram uma conquista da democracia no Brasil e o TSE garantirá que continue a ser assim.”
10-30-2020 Tribunal Superior Eleitoral